Confessemos os nossos pecados!

Card. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

A Quaresma é nosso caminho de preparação para a Páscoa, a principal das comemorações litúrgicas e festas cristãs. A celebração anual do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus nos coloca diante do infinito amor de Deus, que “tanto amou o mundo, que lhe entregou o seu Filho único para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Cf. Jo 4,…)

Ao mesmo tempo, olhamos para Jesus Cristo, que carregou sobre si nossos pecados e invocou o perdão de Deus Pai para todos nós; anunciamos a sua ressurreição e glorificação junto de Deus, como promessa e esperança segura de nossa participação na plenitude da vida do Ressuscitado, junto de Deus.

Durante a Quaresma, a Igreja recomenda as práticas penitenciais, como exercícios de busca mais intensa de Deus e de nossa conversão aos seus caminhos. O jejum e a moderação de nossos desejos e paixões não devem ser praticados apenas como atos de “mortificação”, mas como exercícios que nos estimulam e auxiliam no processo de nossa conversão, motivados pela Palavra do Evangelho e pela sincera busca de Deus, como único absoluto de nossa vida. Todos necessitamos de penitência e ninguém está isento do pecado. Foi Jesus mesmo quem recomendou aos discípulos “fazei penitência; se não fizerdes penitência perecereis todos também” (Cf. Mt 4,17). A penitência sincera leva ao reconhecimento de que os caminhos de Deus são sábios e justos e à sincera e humilde obediência a eles.

Há exercícios pessoais de penitência, que cada um pode e deve assumir com fé e reta consciência diante de Deus; esses podem ser a correção de certos vícios, o esforço para a reorientação das paixões desordenadas, a reconciliação com o próximo, a reparação das ofensas, a abstenção do consumo desenfreado de coisas supérfluas, a prática mais intensa da caridade e das outras virtudes. A Igreja não recomenda práticas penitenciais que causem danos à saúde ou à integridade física. Há também as práticas comunitárias de penitência, como as vias-sacras, mutirões de solidariedade em favor dos necessitados, as celebrações penitenciais feitas em comunidade.

Em Salvador, BA., por exemplo, faz-se uma caminhada penitencial imensa no 3° Domingo da Quaresma, com o sugestivo nome, “quem tem fé, vai a pé”. Dezenas de milhares de pessoas de todas as idades percorrem o caminho de quase 10 km, que vão da igreja da Conceição da Praia até o santuário do Senhor do Bonfim, enquanto rezam, cantam, ouvem a Palavra de Deus e são exortados à reconciliação com Deus e com os irmãos.

Os exercícios pessoais e comunitários de penitência deveriam levar a uma confissão sacramental bem feita. Jesus Cristo, que nos reconciliou com Deus e nos alcançou misericórdia e perdão mediante a sua cruz, confiou à Igreja o ministério da reconciliação. Pelo Sacramento da Confissão, recebemos de Deus, de fato, o perdão de nossos pecados e podemos sentir em nós também o efeito daquelas palavras confortadoras de Jesus: “teus pecados estão perdoados, vai em paz!”

Para fazer uma boa confissão e obter o perdão sacramental dos nossos pecados, é necessário que tenhamos a consciência dos pecados e de sua gravidade, estejamos sinceramente arrependidos diante de Deus, tenhamos fé no perdão dado por Deus através da Igreja e confessemos os pecados com sincera humildade ao padre, ministro do perdão. Finalmente, é necessário cumprir a “penitência” imposta pelo confessor e que tenhamos o firme “propósito de emenda” e de não voltar a cometer os mesmos pecados.

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de  04.04.2011

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