“A Igreja num mundo em mudança”. Este foi o tema que abriu o ciclo de debates do I Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e que começou hoje, no teatro Madre Esperança Garrido, do Colégio Santo Agostinho, em Goiânia.
O tema foi apresentado pelo teólogo, padre Joel Portella, professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Segundo padre Joel, o fenômeno da mudança de época, que caracteriza os tempos atuais, não específico da Igreja Católica, nem de uma região do planeta.
“A realidade sobre a qual estamos falando diz respeito ao mundo todo, ainda que sob diversos graus de afetação. É por isso que um dos termos mais usados para descrevê-lo é exatamente globalização”, disse o teólogo.
Para padre Joel, a mobilidade e a provisoriedade são características dos novos tempos. “O caráter desconcertante da atual mudança de época decorre da radicalidade com que os critérios se transformaram e estão se transformando.
Uma destas transformações consiste na passagem do que podemos chamar de perene ou eterno para o momentâneo ou passageiro. As diversas situações que vivemos tendem a não serem mais vistas como duradouras, eternas. Ao contrário, como bem conhecemos da poesia, elas são “eternas enquanto duram”, observou.
O teólogo aponta algumas atitudes que reagem a esta mudança de época. “A primeira e mais comum é a que se agarra ao passado, confundindo, no caso da Fé, o que, de fato, é um dado de Fé com aquilo que é marca cultural e histórica. Em geral, são chamados de fundamentalistas”, explica. “O outro extremo, sem um nome específico que o identifique, se caracteriza pela ruptura, em alguns casos praticamente total, entre os dados centrais da Fé e as marcas histórico-culturais”, acrescenta.
De acordo com padre Joel, os fundamentalistas, que não permitem que se faça a passagem para o novo momento histórico, “os outros fazem uma passagem tão extrema que acabam por perder até mesmo a identidade”.
Ele defende que estas mudanças não são “de todo negativas”, mas também “momentos muito propícios para o crescimento pessoal e comunitário”. “Isto acontece porque, ao retirar o chão das garantias histórico-culturais, as mudanças de época nos empurram para aquilo que é essencial em nossas vidas. Pedem uma revisão em nossa identidade”, diz.
Padre Joel destacou, ainda, que o cristianismo é marcado pela mobilidade. “Quando nos voltamos, de modo orante, para a Escritura Sagrada, encontramos um fio condutor de mobilidade”, esclarece, lembrando o Novo Testamento onde se diz que o “Filho do Homem não tendo onde reclinar a cabeça (Mt 8,20), andando de cidade em cidade (Lc 4,43) enviando os discípulos na mesma situação, sem muitos apoios ou condições de estagnação (Lc 10,4)”.
O teólogo alerta, no entanto, que a mobilidade não significa a perda de identidade. “Quando falamos em mobilidade, não estamos nos referindo ao que não se enraíza. O paradoxo do Reino de Deus é que a mobilidade, quando vivida no compromisso com este Reino, no discipulado-missionário de Jesus Cristo, cria raízes, não aqui ou acolá, mas exatamente onde o Reino acontece: no interior de cada pessoa e no conjunto de valores que compõem uma cultura”, explicou.