Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta, RS
A família é, no dizer de nosso Papa Francisco, “uma boa notícia” (AmorisLaetitia, n.1). Ela éum projeto de vida em construção. Essas duas perspectivas se completam. “O matrimônio cristão, reflexo da união entre Cristo e a sua Igreja, realiza-se plenamente na união entre um homem e uma mulher, que se doam reciprocamente com um amor exclusivo e livre fidelidade, se pertencem até a morte e abrem à transmissão da vida, consagrados pelo sacramento que lhes confere a graça para constituírem como igreja doméstica e serem fermento de vida nova para a sociedade” (AmorisLaetitia, n.292). Este o modo como a fé cristã compreende a realidade familiar. Aqui está o ideal. Ela está fundada no amor humano, que se entrega pelo bem do outro, e abençoado pelo amor divino. Ele permanece sempre válido, pois tem seu fundamento numa visão humana integral e na fé que parte da revelação cristã. Não podemos baixar o ideal por causa das pressões ou modas de uma sociedade “líquida”. Sabemos do seu lugar único e insubstituível na formação humana, psíquica e espiritual dos filhos. Nenhuma instituição social poderá realizar ou substituir os laços de amor entre os pais, destes com seus filhos e dos filhos entre si. É um verdadeiro santuário, espaço sagrado, onde a vida é acolhida e educada para formar personalidades sadias, cidadãos e bons cristãos.
Porém, a idealização da família, por si só, não responde aos desafios que elas vivem. Como todas as realidades humanas, não são realidades prontas, mas a caminho. Um caminho num constante processo de amadurecimento na capacidade de amar. A vivência da caridade está sempre aberta a novas possibilidades de crescimento. Já São João Paulo II propôs a “lei da gradualidade” à realidade familiar, visto que o ser humano “conhece, valoriza e realiza o bem moral, segundo as diversas etapas de crescimento” (Familiares Consortio, n.34). Alguns, pelas suas circunstâncias estão bem próximos do ideal proposto, outros sabem que ainda precisam caminhar e crescer. Isto faz com que a vida seja uma positiva tensão entre o ideal desejado e o real vivido. Assim, é ilusão querer famílias perfeitas, cônjuge perfeito, filhos perfeitos. Como nos recorda o Papa: “É preciso pôr de lado as ilusões e aceitá-lo [o cônjuge] como é: inacabado, chamado a crescer, em caminho. Quando o olhar sobre o cônjuge é constantemente crítico, isto indica que o matrimônio não foi assumido também como um projeto a construir juntos, com paciência, compreensão, tolerância e generosidade.” (AmorisLaetitia, n. 218). Para que este caminho seja possível, não basta a vontade e determinação humanas, é preciso a força da bênção de Deus, no sacramento do matrimônio, com uma vida de oração.Com esta bênção, cada um dos cônjuges é instrumento de Deus para fazer o outro crescer. O “sim” dado um dia um ao outro foi o início de um caminho para juntos superarem os obstáculos. Enfim, não existem famílias prontas, mas sempre a caminho. Cada membro da família é responsável para fazê-la crescer.
Concluo com as palavras encorajadoras de nosso Papa: “Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! O que nos é prometido é sempre mais. Não percamos a esperança por causa de nossos limites, mas também não renunciemos à procura da plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AmorisLaetitia, n. 325).
Parabéns a todos os pais pela passagem do seu dia! Nosso abraço e bênçãos de Deus!