Construir a liberdade religiosa

Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo de Santo André – SP

Toda vez que iniciamos um Novo Ano, sonhamos dias melhores, alimentamos novas expectativas, desejamos mais prosperidade, queremos ser mais felizes…

Um dos sonhos do Papa Bento XVI para 2011 é que a “liberdade religiosa” seja uma realidade em todos os recantos da terra. Em sua rica  Mensagem para o 44º Dia Mundial da Paz, celebrado no dia 1º de janeiro, o Santo Padre desenvolve o tema da “liberdade religiosa, caminho para a paz”.

A seguir, alguns tópicos da Mensagem. Para uma compreensão mais completa do texto, melhor seria percorrê-la por inteiro. Fica o convite!

Evocando a Declaração “Dignitatis Humanae” do Concílio Vaticano II sobre a liberdade religiosa, Bento XVI sublinha que o direito à liberdade religiosa está  radicado na própria dignidade da pessoa humana. Sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana não consegue encontrar resposta para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida  e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros (cf. Mensagem, n. 2). Por isso, a dignidade transcendente da pessoa deve ser entendida como um bem universal, indispensável na construção de uma sociedade orientada para a realização e a plenitude do ser humano. Nesse sentido, o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda norma social e jurídica (cf. ibidem).

O Papa afirma que “a liberdade religiosa está na origem da liberdade moral, assegurando à pessoa a organização das próprias opções segundo a verdade” (n. 3).

Também a família, insiste Bento XVI, é escola de liberdade e de paz. Com efeito, a família é a primeira escola de formação e de crescimento social, cultural, moral e espiritual dos filhos. Os próprios pais deveriam ser sempre livres para transmitir o próprio patrimônio de fé, de valores e de cultura aos filhos (n. 4).

Entre os direitos e as liberdades fundamentais da pessoa humana, sobressai a liberdade religiosa, porque a dignidade da pessoa humana é respeitada na sua raiz e reforça-se a índole e as instituições dos povos.
Assim, todo ser humano pode exercer livremente o direito de professar e manifestar a própria religião (fé) em todas as dimensões e circunstâncias (n. 5).

Outro aspecto importante da liberdade religiosa é a sua dimensão pública, pois uma liberdade sem relação não é liberdade perfeita. Somos seres relacionais, também na prática da religião (n. 6).

Além desses aspectos evocados, Bento XVI toca outros temas não menos importantes sobre a liberdade religiosa: o fanatismo, o fundamentalismo, as práticas contrárias à dignidade humana não justificam, nem podem ser realizadas em nome da religião.

Todos devem ter presente que a liberdade religiosa é condição para a busca da verdade e que a verdade não se impõe pela violência, mas pela “força da própria verdade”. Assim a religião, como muitos querem, não é inimiga da pessoa humana, mas uma força positiva e propulsora na construção da sociedade civil e política (n. 7).

Entre outras coisas, o Papa afirma ainda que “o fundamentalismo e a hostilidade contra os crentes prejudicam a laicidade positiva dos Estados” (n. 8); que o diálogo sadio entre instituições civis e religiosas é fundamental para o desenvolvimento integral da pessoa humana e da harmonia da sociedade (n. 9). O Santo Padre enfatiza igualmente a necessidade de viver no amor e na verdade (n. 10), de utilizar o diálogo  entre os membros de diversas religiões para colaborar com todas as comunidades religiosas para o bem comum (n. 11), de valorizar a verdade moral na política e na diplomacia (12), de superar todo ódio e preconceito entre as diversas religiões (n. 13).

As orações e o coração do Papa estão voltados para os cristãos hostilizados, perseguidos e maltratados, para que não desanimem e sejam testemunhas do Evangelho.       

A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projeto a realizar, nunca totalmente cumprido… A paz é resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada.

Enfim, a liberdade religiosa é uma missão histórica e profética. Cada um de nós é convidado a ser protagonista da construção da liberdade religiosa, abrindo caminhos para a paz.

A todos os queridos leitores e queridas leitoras, votos de um Ano Novo repleto de saúde, prosperidade e serenidade do “Príncipe da Paz”.

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