Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
Durante os dias centrais do Círio de Nazaré, tivemos contato com o que chamamos de “mar de gente”, uma multidão incontável que se sentiu convidada à participação na vida da Igreja, e fomos levados a dar mais um passo na realização de nosso projeto, nascido do Sínodo Arquidiocesano, de ser uma Igreja de portas abertas, para dar nossa contribuição a que a cidade se encha de alegria (Cf. At 8,8), como resultado da Evangelização que cresce.
Ao ver tamanha multidão, brota em nós um primeiro olhar, que alcança as pessoas que se encontram nas margens de tão grande mar! Foram inumeráveis as mãos que se elevaram, à chegada do Círio, quando tive a alegria de abençoar, junto com diáconos e padres, as pessoas que se aproximavam. Muitas delas foram tocadas apenas pela água benta que era esparzida abundantemente, recordando o rio nascido do lado de Cristo crucificado, como fonte inesgotável, destinada a alcançar os confins da terra e dos corações. Este olhar se torna um apelo a cada cristão e a cada católico, como uma proposta de vida. Desejo sugerir que cada um de nós, homens e mulheres que acreditamos em Jesus Cristo, encontre uma forma de chegar a alguém que esteja mais distante da vida da Igreja. Ouso propor que nasça uma verdadeira “marcação cerrada” de amor com alguma pessoa. Nosso gesto pode ser feito de abraço, sorriso, visita, mensagens evangelizadoras e não o espalhar de notícias pesadas ou mentiras. Alguém pode assumir um compromisso de uma ajuda material a uma família, outra pessoa pode envolver-se nas diversas obras sociais existentes, e daí por diante.
Ampliando mais este olhar, faço um apelo à misericórdia e ao perdão, consoante com o Evangelho: “Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’. Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons” (Mt 22,9-10). Não começamos com julgamentos, mas experimentamos primeiro a acolhida, que é livre a gratuita, com a certeza de que a ação do Espírito Santo, mais cedo ou mais tarde, encontrará guarida nos corações.
As várias iniciativas programadas para o Círio sugerem outros convites! Fazemos uma ciclo romaria, envolvendo ciclistas que provocam positivamente a sociedade ao sadio exercício físico. Esta é uma oportunidade para tomar consciência de que, simbolizados pela procissão realizada no sábado da Quadra Nazarena, todos corremos em busca de um prêmio, o maior de todos, numa competição em que Maria de Nazaré passa na nossa frente e corre conosco. Vale lembrar o animador e exigente conselho de São Paulo: “Acaso não sabeis que, no estádio, todos correm, mas um só ganha o prêmio? Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio. Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível! Por isso, eu corro, não como às tontas. Eu luto, não como quem golpeia o ar. Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a mensagem aos outros, eu mesmo seja reprovado” (1 Cor 9,24-27). E vale também para a multidão crescente de ciclistas do Translado para Ananindeua e Marituba, realizado há poucos dias.
Estendendo os braços, chegamos aos jovens, que acorrem aos milhares em nossa Romaria da Juventude, com o ponto de partida na Paróquia São João Paulo II, vendo neles a força que vem de Deus e deixando-lhes uma palavra da Primeira Carta de São João: “Eu vos escrevo, jovens: sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o Maligno. Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, e também a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (Cf. 1 Jo,16-17).
E agora, os convites estão à disposição das crianças! É bom saber que não há censura! Antes, até os que já cresceram poderão entrar na Procissão da manhã do Domingo seguinte ao Círio se ouvirem Jesus: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta, estará acolhendo a mim mesmo” (Mt 18,3-5). Venham todos que quiserem, mas tragam este “bilhete”! Tornem-se crianças e assumam o compromisso de não maltratar ou escandalizar as crianças, guardando-as com carinho desde o ventre materno.
Após a Romaria dos Corredores, haverá a nova, exigente e silenciosa Procissão de acolhida e de integração das pessoas, começando por crianças, que buscam acessibilidade, em vista de limitações de qualquer ordem e demandam atenção da sociedade e da Igreja. Nós o fazemos seguindo o exemplo de Paróquias, como a do Santuário de Nossa Senhora do Bom Remédio, que acolhe magnificamente pessoas autistas que lá encontram seu modo de participar da Igreja, uma excelente iniciativa, justamente no Santuário destinado à atenção com a saúde!
No último Domingo, a manhã ensolarada acolherá os paroquianos de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro, cuja casa virou espaço aberto para tanta gente de perto ou de longe. É ali, na região em que tudo começou, onde se multiplicam as figuras de Plácido, para que ninguém se sinta estranho ou desvalorizado, mas todos descubram o caminho para Nazaré e para a Igreja.
No último domingo das festas nazarenas, todos nós somos chamados à reunião festiva, que começa com a Santa Missa e se desdobra em confraternização, espetáculo pirotécnico e anúncio do tema do próximo Círio de Nazaré! Segunda-feira pela Manhã, Recírio com a subida da Imagem original de Plácido, procissão com a reza do terço mariano e encerramento, levando a Imagem Peregrina até o Colégio Gentil Bittencourt. Houve tempo em que ela ali repousava “placidamente”. Como na época de Plácido, ela mesma é irrequieta, e vai alcançar, durante o ano, outras plagas, nas visitas correspondentes aos contínuos apelos que nos chegam de todas as partes. E, sendo Peregrina, continuará a desinstalar-nos, pois, primeira cristã e primeira evangelizadora e estrela da Evangelização, coloca em prática e expressão cunhada pelo Papa Francisco: Ela sabe “primeirar”!