Dom Juarez Albino Destro
Bispo auxiliar de Porto Alegre (RS)

 

“Promover a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão, a serviço do Reino de Deus” é o objetivo do 3º Ano Vocacional do Brasil, uma celebração que começou no dia 20 de novembro de 2022 e irá até o dia 26 de novembro deste ano. Em breves palavras, promover a cultura vocacional em todos os ambientes para favorecer o despertar vocacional 

O verbo “promover” traz consigo algumas outras ações concretas a que somos chamados a fazer, como por exemplo, impulsionar, fomentar, avançar, gerar, provocar, originar, propor… É exatamente isso que o Ano Vocacional deseja fomentar. Onde já existe Cultura Vocacional, que se avance! Onde não existe, que se origine! As comunidades eclesiais que já possuem um serviço de animação vocacional estruturado, que se fortaleça! Aquelas em que se necessita mais vigor ou até mesmo ser criado, que se aproveite da ocasião.  

E para promover a cultura vocacional na Igreja e na sociedade foram elencados sete objetivos específicos do 3º Ano Vocacional do Brasil, um número simbólico e indicador de que muito se deve fazer e se pode fazer, dependendo dos vários contextos e da criatividade local. No primeiro está uma frase do papa Francisco que revela a importância de se compreender o significado de vocação. Ele afirmou, na Exortação Apostólica Pós Sínodo sobre a Juventude, que “Toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional” (Christus Vivit, 254). Não há como fugir do tema! Tudo o que fazemos, portanto, é vocação; em tudo o que fazemos, aí está a vocação! Os demais objetivos específicos decorrem deste primeiro. O aprofundamento da “Teologia da Vocação” como graça e missão gera discernimento e respostas concretas do ser humano ao chamado divino, com liberdade e responsabilidade, e fortalece a consciência do discipulado missionário de todos os batizados e batizadas, levando-os a reconhecer e assumir a identidade vocacional da vida laical como uma forma própria e específica de viver a santidade batismal a serviço do Reino de Deus.  

O mês vocacional que estamos concluindo, este ano dentro do tema/lema do próprio Ano Vocacional – “Vocação: Graça e Missão” / “Corações ardentes, pés a caminho” – deseja que continuemos promovendo a cultura vocacional em todos os ambientes, favorecendo o despertar vocacional, especialmente dos jovens, para que se sintam protagonistas e impulsionados ao serviço generoso e à missão. Mas, também, que continuemos a despertar vocações à vida consagrada e ao ministério ordenado (diáconos, padres e bispos), acompanhando-as num processo de formação integral, para que sejam sempre fieis ao seguimento de Jesus e à missão de servir com alegria, em comunhão, tornando visível o Reino de Deus, de vida plena para todos. Intensificar a prática da oração pelas vocações em todos os âmbitos, pessoal, familiar e comunitário, é um dos “segredos” da cultura vocacional. O outro grande segredo é fomentar um serviço de animação vocacional articulado, com a criação e consolidação de Equipes Vocacionais Paroquiais e Diocesanas, dentro de uma pastoral orgânica, sinodal, envolvendo todas as vocações. 

Sem perder de vista o atual contexto sociopolítico e econômico da humanidade – bem retratado na Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, sobre a Fraternidade e a Amizade Social –, os objetivos do Ano Vocacional visam, em síntese, transformar “as sombras de um mundo fechado” em “um mundo aberto”, onde a solidariedade, o diálogo e o amor sejam uma constante. Para combater a mentalidade de que o outro é um objeto, ou para evitar uma 3ª Guerra Mundial “em pedaços”, ou para aplicar uma “vacina” contra o vírus do individualismo, faz-se necessário responder ao chamado ou ao compromisso de “viver e ensinar o valor do respeito, o amor capaz de aceitar as várias diferenças, a prioridade da dignidade de todo ser humano sobre quaisquer ideias, sentimentos, atividades e até pecados que possa ter”, ou “amar o mais insignificante dos seres humanos como a um irmão, como se apenas ele existisse no mundo”. Devemos gerar processos de encontro, processos de paz (Fratelli Tutti, n. 24, 25, 105, 191, 193, 217, 226). Isso é vocação! 

Agosto chegou ao fim, mais um mês vocacional se conclui. Que ele tenha ajudado na compreensão da importância da cultura vocacional em nossa vida, na Igreja e na sociedade. Que tenha ocasionado sentimentos de inquietude, corações ardentes, sede de água viva, e que tenha levado nossos pés retomarem a caminhada, fazendo-nos “operários e operárias na messe do Senhor” (cf. Mt 9,38; Lc 10,2). 

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