Criai ânimo, não tenhais medo 

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

 

Isaias prepara o povo para o Novo que vem. Grita, no coração dos textos Sagrados: “Criai ânimo, não tenhais medo”! 

A sua recomendação ecoa naqueles que aceitaram essa recomendação e, com coragem, inteligência e determinação, resolveram transformar o mundo velho. 

Transformar o velho em novo é sempre necessário! Como numa atualização ininterrupta, conserva-se a base e os fundamentos e lhe renova as estruturas e os meios para continuar sendo relevante. 

A fé na antiga apocalíptica havia decaído. O profeta entendeu que um sistema substitui a outro sistema; uma potência substitui a outra potência; um governante substitui a outro, mas se algo de diferente não acontecer o mal não será erradicado do mundo. 

Todos têm como pressuposto o que já existe. Mas o que existe não é mais suficiente para a existência do mundo. 

A “terra intransitável”, já não encontrava a sua direção. Como naquele tempo, também hoje, o novo parece não ser capaz de dar conta de tudo que vem. A sua novidade passageira logo o relega ao passado, transformando-o em coisa de pouco significado. O desconsolo depois do novo frustrado é ainda pior que a desolação originária, porque se acumula sobre ela e a faz crescer, gerando uma imagem medonha, oposta à visão de um campo em flores. 

Ânimo e coragem advêm de outro lugar. Advêm de um recôndito profundo que todos trazemos dentro de nós, e que nos fazem sonhar com Deus. Sonho impulsionado pela esperança de ver um mundo diferente. 

No lusco-fusco do mundo esse mundo se materializou. E, então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos (Is 35,5). Esta novidade que penetra até o coração da matéria, subvertendo-a de dentro pra fora e realizará o que chamamos milagre, começa a acontecer. Já não é mais a novidade que falamos, mas o novíssimo. Uma verdade escatológica que não foi gerada na história. Veio de fora dela para lhe conferir significado e coesão. 

Nesse dia “o coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. Então, já não estamos mais falando de história, mas de escatologia. 

A coragem e o ânimo advêm da realização destes acontecimentos. Acontecimentos que se sustentam em nossa capacidade de testemunhar este novo mundo. 

Este mundo começou com o Nascimento de Jesus, que estamos prestes a celebrar. Ele é o novíssimo que não se supera. Ele é o evento que fez todas essas coisas acontecerem. Por isso, quando João Batista mandou lhe perguntar se era ele mesmo o que devia vir, ou se deveríamos esperar outro, essa foi a resposta de Jesus: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo -os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados (Jo 11,4-5). 

 

 

Tags:

leia também