Ideal do materialismo ateu: reduzir as pessoas à categoria de meios produtivos, criando falsas necessidades de consumo. Ideal humanitário e cristão: provocar a comunhão da liberdade entre os seres humanos, filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs que se amem, administrando bens produzidos, oportunizando o desenvolvimento para todos.

Na cruz Jesus crucificou o egoísmo, amor às avessas que corrói o ser humano por dentro e o torna inimigo de outrem. Jesus prega na cruz esse mal. Defensor incondicional da vida vivida na solidariedade fraterna, passa pelo mistério da morte para devolver vida em plenitude, significado maior do seu amor pela humanidade.

Jesus experimentou descer ao inferno que nós criamos à imagem do nosso egoísmo e à semelhança de nossas divisões, internas e externas. Cristo desce ao “ínfero”, abismo da morte, píncaro do sofrimento, palco da dor que nos impomos pela carga de aflição de ambições desmedidas. Provocamos sofrimentos uns aos outros pelo mau uso da nossa liberdade. Nós criamos o inferno do qual Cristo nos liberta.

Cristo desce ao “meu inferno interior”. Condescende vir à estrutura condicionada pela visão atávica que me enche de preconceitos em relação aos outros. Minha apoucada compreensão sobre a realidade levou Cristo a se compadecer da minha ignorância e me curar interiormente. Inveja, ciúmes, incapacidade de amar sem egoísmo. Cristo nos liberta de tudo isso.

Sua luz espanta a treva da escuridão que eu mesmo criei para mim e ainda projeto nos outros, vomitando ingratidão e despeitas. Sua luz penetra nas trevas, ora tornadas fachos clareados. O pesadelo passa, se permito que a sua cruz e ressurreição me liberte. A mentira cede à verdade. Então a verdade materializa outra realidade, não mais presa ao medo.

A certeza da luz da ressurreição é trágica, violenta e paradoxal porque deve passar pela morte de cruz. A ressurreição deve passar pela morte, pelo abandono, pela treva, enfim, pelo incompreensível, inaceitável. Ressurreição não é reanimação de um corpo, mas transfiguração de tudo o que foi criado, disposto aos nossos cuidados.

Não retrocedamos ao atraso, reproduzindo esquemas deprimentes como o extermínio das guerras fratricidas, holocaustos produzidos por tiranos psicopatas, opressão dos regimes totalitários impostos por ditadores eternizados no poder. Evoluímos quando nos deixamos libertar do egoísmo pela força do amor de Cristo. Transformados, nos tornamos agentes de transformação provocando a comunhão da liberdade voltada para o bem.

Dom Aldo Di Cillo Pagotto

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