Dom Rodolfo Weber
Arcebispo de Passo Fundo

Com a celebração da solenidade de Cristo Rei a liturgia católica encerra o ano litúrgico. Numa época em que prezamos eleições regulares para escolher os governantes, chamar a Cristo de Rei, talvez não seja a linguagem mais adequada. Mas a descrição de rei, apresentada em Lucas 23,35-43, texto lido este ano, questiona profundamente os modelos corrompidos de governar.

O letreiro, no alto da cruz, indicava quem era o condenado: “Este é o Rei dos Judeus”. Os chefes zombavam de Jesus dizendo: “A outros salvou. Salve-se a si mesmo”. Ao zombarem do condenado reconhecem a sua principal obra: “salvar os outros” e “não salvar-se a si mesmo”. Todos os governantes são eleitos para “salvar os outros”, para realizar e promover o bem comum e todos os direitos constitucionais.

Todos os problemas de governantes surgem quando pensam e agem em “salvar-se a si mesmo”, isto é, os interesses pessoais ou da sua corporação vão se tornando prioridade. Permanece o discurso de “salvar os outros” para conseguir o apoio ou os votos e para se perpetuar no poder. Não podemos esquecer que temos muitos legalmente eleitos, que estão no poder, a mais tempo que muitos reis que não foram eleitos.

Os que zombam do crucificado, pedindo que desça da cruz, estão se desculpando e declarando-se inocentes. Afirmando que ele é o culpado e eles não têm nada a ver com isto. De fato, Jesus foi condenado como consequência direta dos seus ensinamentos e atitudes. A cruz revela que Jesus assumiu todas as consequências da sua missão. Jesus como modelo de rei questiona as inúmeras desculpas que são dadas por quem governa. Em geral as pessoas não conseguem distinguir o entre o que é desculpa mentirosa e da verdade, isto daquilo que não foi possível realizar por limitação de orçamento ou outras razões legítimas.

Cristo Rei está crucificado entre duas pessoas que o evangelista Lucas descreve como malfeitores. Está entre as pessoas com quem esteve durante em toda a sua trajetória, isto é junto aos pecadores. Várias vezes foi questionado por andar com gente desta fama e respondeu que estava com eles, pois eram necessitados de salvação e de cuidado. A sua missão não era condenar, mas era propor um caminho de mudança de vida. Além de propor, também precisa oportunizar o tempo e as condições necessárias para ocorrer a mudança vida.

Além de estar entre pecadores, mesmo quando crucificado, também concedeu o perdão como tantas vezes havia feito. A presença de Cristo provocou um dos malfeitores a rever a sua vida. Ele reconhece “para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal. E acrescentou: Jesus lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. Não há necessidade de nenhuma cláusula entre o malfeitor e Jesus além daquela do arrependimento e do perdão concedido. As duas mortes se cruzam na salvação do novo e perfeito reino, “estarás comigo no Paraíso”.

Nesta atitude de Cristo vislumbra-se outra tarefa fundamental de um governante que é a de agregar os cidadãos. Devido ao seu poder e influência ele tem condições, por palavras e atitudes, criar um ambiente beligerante. Cristo poderia ter aproveitado a oportunidade para estimular seus seguidores a terem atitudes de vingança e de violência, mas concedeu o perdão ao malfeitor arrependido e aos outros disse “perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Também é tarefa fundamental dos governantes a promoção da paz e da amizade social.

 

 

 

 

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