Não há semana que as cidades não contam os seus mortos pela violência. É triste, chocante para uma família chorar os filhos assassinados. Em nossa cidade há uma crônica macabra: em cada dez pessoas mortas, sete são jovens entre dezoito e trinta anos. Não podemos nos acostumar com esse registro feito pelos meios de comunicação.
Neste domingo o evangelho de Lucas 13,1-9 nos conta que Jesus estava em viagem com os discípulos em direção à Jerusalém, e estava falando com eles, quando trouxeram a notícia impressionante e dramática: Pôncio Pilatos, o procurador romano, homem de caráter inflexível, impiedoso e arrogante, fez trucidar alguns hebreus que subiram da Galiléia a Jerusalém com a intenção de oferecer a Deus um sacrifício no Templo. Assim Pilatos tinha misturado o seu sangue com o sangue dos animais imolados.
Jesus escuta os comentários da gente, depois intervem com uma pergunta: “Pensais que aqueles galileus fossem os mais pecadores de todos os galileus para ter sofrido tal sorte? Eu vos digo que não! Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo. E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Eu vos digo que não! Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.
Digamos a verdade: também hoje, diante de certas desgraças, tem ainda alguém que pensa assim. Jesus tem a resposta clara: Eu vos digo que não!
Sob aquele modo de pensar se esconde uma idéia errada de Deus: como se Deus estivesse com o fuzil pronto a punir os que erram. Se assim fosse, deveria também estar pronto a remediar os desvios dos bons, pelo fato de serem bons. A desgraça não é um castigo. Nem podemos pretender que pelo fato de sermos bons, que Deus remedia as nossas confusões.
Jesus acrescenta a parábola da figueira estéril. Depois de três anos de ausência de frutos, o dono decide cortá-la. Ora aquela planta somos nós, homens livres e muitas vezes pecadores. Devemos produzir fruto, mas tantas vezes não o fazemos. Deus não nos destrói mas sabe esperar. Espera com a paciência do agricultor. Poda, cava em torno da planta, coloca adubo. Deus não é vingador, mas paciente, como o definiu Moisés: “Lento na ira e grande no amor”.
A meditação sobre os fatos da vida deveria levar-nos à conversão do coração. “Se não vos converterdes, perecereis” diz Jesus. O acontecimento e a desgraça não devem levar-nos a fazer julgamentos negativos por conta dos outros: “São pecadores e Deus os puniu”. Mas deve fazer-nos entrar em nós mesmos, examinar-nos. Aí está a conversão, assim chegaremos a compreender. Devemos interiorizar o sentido de nossas vicissitudes e tirarmos sabedoria para a vida. Os acontecimentos são nossos mestres interiores.
Jesus é drástico: Se assim não fizermos, “perecereis todos”. Palavras fortes. Não é uma ameaça, é uma constatação. Jesus não se refere à morte física, pois todos morremos, mas à morte do espírito, à morte eterna. Onde não existe conversão, não existe sabedoria do coração, verifica-se então a escolha errada, a vitória do egoísmo. O pecado é recusa de Deus. Vós “perecereis todos”. Jesus indica que as pessoas humanas se excluem por si sós da salvação, com as suas escolhas erradas de vida.
A isso Jesus queria conduzir os seus ouvintes: a reflexão sobre as desgraças, sobre a morte física, deve fazer sábio o homem, conduzi-lo à conversão do coração, levá-lo a tomar em consideração a morte eterna.
Assim o convite do Senhor é para passar do plano da realidade terrestre àquele dos valores espirituais. Passar diariamente da crônica policial, da delinqüência dos corruptores e corruptos, a conclusões sobre o destino eterno do homem. Passar do ponto puramente humano e terreno ao plano dos valores imperecíveis, à necessidade de ancorar-nos à existência de Deus.
Seria bom procurar na crônica diária se os homens se tornam mais reflexivos, mais sábios, se começam a querer-se mais bem, se há menos egoísmo, se há mais generosidade, mais amor fraterno.