Curso do Cenfi é a porta de entrada para a missão no Brasil

Paraguai, Moçambique, Togo, Itália e México representados e reunidos em uma sala de aula. Não é uma apresentação escolar na disciplina de Geografia. À primeira vista, o que se imagina com tantos países de continentes distintos pode passar longe da finalidade deste encontro. A missão é que gera a proximidade, traduz a universalidade da Igreja e reúne línguas, culturas e cores em um sentido único do anúncio do Evangelho.

São 27 missionários, entre religiosos e religiosas, padres e seminaristas de 15 países divididos em quatro turmas nas salas do Centro Cultural Missionário (CCM), em Brasília (DF). Durante três meses, estudam a Língua Portuguesa e conhecem a realidade socioeconômica política e religiosa do Brasil. É a formação de iniciação à missão no Brasil, conhecida como curso do Cenfi (Centro de Formação Intercultural), que acontece há 58 anos.

Iniciado em 11 de março, o curso, em sua 119ª edição, será concluído no dia 30 de maio.

Padre Jaime Luiz Gusberti | Foto: CNBB/Matheus de Souza

 O secretário executivo do CCM, padre Jaime Luiz Gusberti, destaca a finalidade do curso: “É uma iniciativa que vem ajudando missionários e missionárias a se prepararem para a missão nesse chão do Brasil. É uma riqueza muito grande”. Ele explica que o Cenfi tem quatro pilares que estão todos interligados. O estudo da Língua Portuguesa e o conhecimento da realidade são os primeiros. Os outros dois referem-se ao estágio em família e à vida comunitária.

Durante uma semana, acontece o estágio em família, quando os missionários são acolhidos por famílias de paróquias da arquidiocese de Brasília. “Eles passam uma semana numa família para conhecer o dia-a-dia, a cultura, os costumes, o ritmo da família”, conta padre Jaime.

Irmã Viviam | Foto: CNBB/Matheus de Souza

Para a chinesa irmã Vivian, missionária da Imaculada, essa experiência foi ótima, “pois quando ficamos em uma família podemos conhecer a cultura local, conhecer a comida e como é a fé que a família pratica, isso dá uma boa impressão para o missionário que vai trabalhar no Brasil”. A religiosa atuará em uma paróquia na Bahia e revelou que o curso já a ajudou no aprendizado de muitas palavras e da gramática correta.

A vida comunitária é o quarto pilar na formação do Cenfi. “Nós primamos muito – e para quem chega e para quem envia os missionários e missionárias nós deixamos muito claro – pela vida comunitária. Porque a missão se fortalece na medida em que a gente se quer bem, se relaciona, mesmo tendo diferenças. Mas o que nos une é a pessoa de Jesus e a missão”, destaca padre Jaime.

E é nesse sentido que são promovidos vários momentos durante o curso para interação e trocas culturais entre os missionários. Em alguns finais de semana, grupos de missionários apresentam seus países aos seus colegas de curso.

Padre Ace, do Pime, vai estudar Comunicação, em São Paulo | Foto: CNBB/Matheus de Souza

O padre Ace, missionário do PIME, veio ao Brasil para estudar Comunicação Social, em São Paulo. O presbítero filipino destaca que o CCM os ajuda a aprender mais coisas sobre a cultura, a língua do Brasil: “Como a professora dizia, ‘que a língua é poder’”. Para ele, a formação permite entrar na mentalidade, na cultura do povo e conhecer a fé dos brasileiros. “Aqui no CCM temos os momentos culturais, para conhecer a cultura brasileira e também de outras nações que estão presentes aqui”, conta.

E a realidade brasileira pode surpreender quem só conhecia o Brasil pela televisão. O seminarista Geraldo Kamina, do Togo, é da Congregação do Verbo Divino. Ele se prepara para trabalhar em Humaitá (AM) e conta que antes de chegar ao Brasil pensava no Brasil as coisas estavam todas certas, “que estão ‘beleza’”. Mas quando chegou ao Brasil viu outra realidade: “Morei pouco tempo em São Paulo [antes de iniciar o curso em Brasília] e tive a oportunidade de visitar as comunidades, como as pessoas chamam as favelas. Então, é outra realidade, onde eu encontrei a pobreza, o sofrimento”.

O seminarista verbita Geraldo Kamina e a religiosa mexicana irmã Verônica | Foto: CNBB/Matheus de Souza

Essa oportunidade que teve o deixou com outro ponto de vista sobre o Brasil e o ajudou a mudar o pensamento sobre a realidade brasileira. Mas, ele destaca que a cultura do Brasil é “aberta, que acolhe bem” e ainda que as realidades vivenciadas até aqui irão ajudá-lo em Humaitá (AM), onde trabalhará no âmbito da Pastoral da família e da juventude.

Quem também ressalta a importância do curso é a irmã Verônica, mexicana da Congregação Verbum Domini. Designada para trabalhar em Belo Horizonte (MG), comenta que neste período de formação está a oportunidade de conhecer a forma de trabalho da Igreja no Brasil. “E também para nos formarmos na língua, o que é muito importante para comunicarmos nossa mensagem”, sublinha.

“A gente agradece muito a Deus pela graça de acolher de acolher nesse centro tantos missionários e missionárias de tantos países”, entusiasma-se padre Jaime.

Professora Paula orienta missionários em atividade | Foto: CNBB/Matheus de Souza

A alegria e o reconhecimento da riqueza do trabalho também passa pelos professores que estão à serviço do CCM, por meio do Cenfi. A professora Paula Rodrigues é mestranda em Linguística e conta seis anos de atuação ensinando o português a estrangeiros. Boa parte deste tempo foi no Instituto Migrações e Direitos Humanos, auxiliando migrantes e refugiados.

“É um trabalho muito gratificante, exatamente por ser com os missionários e a aprendizagem é enorme, porque são muitas culturas em uma sala de aula, eu tenho cinco países dentro de uma sala de aula, a troca cultural é imensa e a gente sempre está falando das comunidades, de como lidar com as diferentes classes sociais no Brasil e prepara-los para a língua em uso”, partilha.

Professora Raquel, há 14 anos no Cenfi | Foto: CNBB/Matheus de Souza

Há 14 anos lecionando no CCM, a professora Raquel Cristina de Sousa destaca a bagagem cultural e a troca de experiências. “Trabalhando aqui no CCM é a oportunidade de conhecer pessoas de diversas partes do mundo fazendo o trabalho missionário e também entender um pouco de cada realidade, porque eles vêm de fora, cada um com sua experiência, cada um com sua formação e quando chega aqui tem a realidade brasileira” comenta. A especialista em Sociolinguística também sinaliza que o curso é momento para missionários e missionárias tentarem se adequar a um novo ambiente, “às novas pessoas, às novas formas de expressões”.

Um dos destaques entre os profissionais que ensinam português para os missionários estrangeiros é professora Maria do Socorro Dias, a Lia. Desde 1979 atua no ensino de português para estrangeiros no CCM e nas embaixadas.

Professora Lia (à direita) e os missionários | Foto: CNBB/Matheus de Souza

Na mensagem de apresentação do curso e de boas-vindas aos missionários, assinada pelo bispo auxiliar de São Luís (MA), dom Esmeraldo Barreto de Farias, encontra-se a profunda gratidão da Igreja no Brasil com a presença e a entrega à causa missionária por parte dos estrangeiros, e o desejo de colaborar com a inserção entre os que caminham por aqui. “Você é um dom que nos alegra do fundo do coração!”, escreveu dom Esmeraldo.

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