No mundo da globalização continuam aumentando o acúmulo de riquezas, as possibilidades materiais e os frutos do desenvolvimento para o bem estar de minorias. Alguma sobra acontece também para outros, mas não na proporção do necessário para grande parte viver dignamente. Uma coisa é dar esmola e outra é dar dignidade. Jesus observava as pessoas darem esmolas no templo. Havia quem desse muito. No entanto, a mais elogiada por Ele foi uma pobre, que ofertou muito pouco, mas era tudo o que possuía: “Esta pobre viúva deu mais do que todos… Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Marcos 12, 43-44).
O dízimo, ao contrário do que se pode dizer, não é dar para receber e sim dar em gratidão do que se recebe como dom de Deus. A oferta de si no dar indica a generosidade ou grandeza de alma. Ajuda-se o semelhante por considerá-lo irmão. Essa perspectiva vem contrariada por quem é avarento, egoísta, desrespeitoso com o semelhante que sofre e não tem meios de vida digna. Falta-lhe solidariedade com os sem-moradia, salário insuficiente, sem-terra, assistência de saúde inadequada, educação precária… Não coopera para se criarem políticas públicas e justiça social para os empobrecidos. Quer tudo para si. É insaciável. Quando dá esmola, muitas vezes, parece querer “tapar o sol com a peneira” no sentido de dar alguma coisa para os outros, como desencargo de consciência, para não ficar mal visto e para ser elogiado por cooperar com alguma instituição ou promoção. O ruim não é o dar isso e sim o dar só isso ou não se dar na própria doação que faz.
A fé ilumina a prática do serviço e da caridade. No caso da viúva de Sarepta, esta pobre mulher possuía apenas um restinho de ingredientes para sua alimentação e a de seu filho. O profeta Elias pediu-lhe comida, mas deu a indicação de que Deus não lhe deixaria faltar alimento por seu ato de generosidade. De fato, a mulher atendeu esse pedido, confiando na Providência Divina. Nada lhe faltou pelo resto da vida (Cf. 1 Reis 17, 10-16). A própria Bíblia fala da ação retribuidora de Deus a quem dá com generosidade. A pessoa generosa e temente a Deus sabe ser solidária com os mais carentes e necessitados. O crescimento na grandeza de caráter, de dignidade humana e até do êxito em suas ações de benefício ao semelhante não faltam. Temos exemplos dignificantes na história de pessoas generosas e bem realizadas na sua ação desprendida de serviço ao semelhante. No cotidiano, às vezes, não são divulgados tais exemplos na comunidade ou sociedade. Felizmente, eles existem, e não poucos. Na própria experiência do dar-se, há a recompensa por parte de quem o faz, já nesta terra. Quem abre a mão para dar, acaba recebendo muito mais do que doa. Mas quem dá com amor não o faz para receber e sim para ser solidário e obedecer a Deus no ato de amar.
O grande Deus não se poupou em tornar-se um de nós, na pessoa do Filho, ensinando-nos que nos tornamos grandes à medida que, à sua semelhança, nos abaixamos para lavar os pés e servir o semelhante. Somente ganha quem sabe “perder” ou dar de si pelo bem do semelhante.