De Éfeso, a carta aos Colossenses

A cidade de Colossas está no vale do rio Lico e sofreu algum tipo de influência dos judeus deslocados da Babilônia para essa região romana da Ásia. O fundador da comunidade foi Epafras que, estando preso com Paulo em Éfeso, lhe transmitiu muitas informações de Colossas. Da prisão, Paulo escreve uma carta aos colossenses, e o faz com autoridade apostólica, mesmo não tendo sido seu fundador e até mesmo sem nunca ter estado em Colossas.

A leitura atenta da carta mostra Paulo convencendo os colossenses a olhar para Cristo com os pés firmes no chão, longe de uma espiritualidade aérea e desencarnada. A carta não é longa. São apenas quatro capítulos. Logo depois da introdução, no capítulo primeiro, Paulo inicia a parte doutrinal com um hino sobre Jesus Cristo. Os cristãos compunham e cantavam hinos. Paulo toma um deles e o amplia acrescentando algumas frases que podiam ajudar os colossenses a não se enredarem em ensinamentos enganosos.

O hino dizia: “Jesus Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, tudo foi criado por ele e para ele”. Paulo acrescenta: “nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades”. Paulo está dizendo que tudo o que existe e se pode ver, e também o que existe e é invisível, como os anjos, tudo foi criado em Cristo, por ele e para ele. Cristo está acima de todos as forças invisíveis, acima de todos os anjos. Os colossenses estavam dando muita importância aos poderes celestes, isto é, às diversas categorias de anjos, deixando de lado a realidade visível de Cristo. Hoje também temos cristãos que insistem no culto dos anjos e temos cristãos que têm medo de forças ocultas e andam atrás de energias espirituais. Se alguma coisa existe, existe para Cristo. Tendo Cristo, temos tudo. Por isso Paulo ainda acrescenta: “Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo”. Os colossenses devem ver Jesus Cristo como cabeça da Igreja e ver a Igreja como o corpo de Cristo. O corpo é visível, está aqui na terra e é formado por nós, criaturas concretas de carne e osso.

Na segunda estrofe, o hino diz: “Ele é o princípio, o primogênito dos mortos, pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres”. Paulo acrescenta que Cristo “tem em tudo a primazia” e “reconcilia os seres da terra e do céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz”. Jesus que está acima de tudo se interessa pelo que acontece no céu e na terra e obtém a paz derramando numa cruz real o sangue do seu corpo físico.

Foi no seu corpo de carne que Cristo nos reconciliou e o entregou à morte para a nossa santificação. E agora, o corpo visível de Cristo no mundo, é a comunidade dos fiéis, a Igreja. Paulo aceita se sacrificar por essa Igreja, para que os cristãos sejam perfeitos em Cristo. Paulo se sente forte pela energia que lhe vem de Cristo. Ninguém deve enganar os colossenes, nem a nós hoje, com argumentos capciosos, com ensinamentos inúteis, que não são de Cristo, mas deste mundo. Reconhecemos e afirmamos a divindade de Cristo, mas ela habita nele corporalmente. Aceitamos a existência de seres celestes espirituais, mas a Cabeça de todos eles é Cristo.

A busca de uma espiritualidade desencarnada e alienada levou os colossenses a praticas esotéricas. Influenciados pelos judeus da Babilônia, praticavam normas judaicas, não para a salvação como os gálatas, mas para a aquisição da sabedoria e do conhecimento dos mistérios celestes. Com tais práticas eles se achavam pessoas de alta espiritualidade. São Paulo diz que a religiosidade deles é afetada, que as observâncias não valem nada porque o que vale de verdade é o corpo de Cristo. O que vale mesmo é estar em Cristo e formar seu corpo visível neste mundo. Neste corpo, todos devem se tratar com muita caridade, que é o vínculo da perfeição, respeitando-se mutuamente e ajudando todos a crescerem.. Afinal, é preciso saber tirar proveito do tempo presente, no qual vivemos.

Cônego Celso Pedro
Arquidiocese de São Paulo

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