Além das divisões, a comunidade de Corinto teve que enfrentar dificuldades de diversos tipos. Não foi fácil para Paulo administrar todos os problemas de Corinto, mas ele tentou e enfrentou assunto por assunto procurando sempre a melhor solução. É assim que ele vai fazendo a sua teologia, a partir das questões da vida. Paulo não é um teórico que escreve raciocinando sobre dados abstratos. Ele lê a vida, e a partir das interrogações da existência humana e eclesial vai elaborando o seu pensamento.
Uma das questões foi a má compreensão da liberdade. Não sabemos bem o que aconteceu, mas parece que a madastra de um rapaz ficou viúva e ele se uniu a ela numa vida matrimonial. Parece também que os coríntios se sentiam orgulhos e evoluídos por permitirem tal tipo de união. Tinham entendido também que Paulo não queria que tivessem nenhum contato com pecadores. Além disso, procuravam os tribunais dos pagãos para resolver suas desavenças.
Questões maiores apareceram relacionadas ao casamento e à vida celibatária, à compra no mercado de carnes sacrificadas aos ídolos pagãos, à participação na Eucaristia, à compreensão dos dons do Espírito Santo e à ressurreição dos mortos. Paulo vai tratando questão por questão, procurando ser claro e direto no encaminhamento das soluções. A comunidade de Corinto dava trabalho porque era viva, tomava iniciativas, levantava questões. Não era uma comunidade morta, na qual nada acontecia. As múltiplas orientações de Paulo supõem muito movimento na Igreja local. Só não erra quem não faz nada, porque já é um erro só! Isto não acontecia em Corinto.
Os coríntios são orientados a não se afastarem de ninguém, a estarem perto de todas as pessoas, mesmo as consideradas pecadoras. Não é possível viver neste mundo sem contato com gente “errada”. A proximidade faz parte da vocação missionária da Igreja, assim, como a transparência. É preciso ajudar a todos na busca do bom caminho, mas não é possível ser tolerante com quem impede a transparência da Igreja. Próximos e transparentes. Daí a recomendação de Paulo: não ter medo de se aproximar de alguém desonesto, mas não seja como ele. Quem tem o nome de cristão não pode ser desonesto.
Nossas questões deveriam ser resolvidas entre nós, na caridade e no respeito mútuo, e não diante de quem não tem fé. O melhor mesmo é não ter litígios entre nós. O que pensar então das briguinhas de sacristia? O respeito mútuo em todos os níveis seria uma realidade entre nós se estivéssemos convencidos de que somos o Templo do Espírito Santo e que Jesus pagou um alto preço para nos resgatar.
Todos esperavam, naquele tempo, que Jesus is voltar logo para julgar os vivos e os mortos. Podemos então entender a orientação de Paulo para que cada um permaneça no estado em que se encontrava quando Deus o chamou à fé. Casado continue casado, solteiro continue solteiro. Paulo valoriza todos os estados de vida. Deseja apenas que vivamos sem preocupações, na liberdade de filhos de Deus. Que em tudo impere a caridade, e não tenhamos preocupações com questões de alimentos. Respeitemos a consciência dos outros e vivamos as nossas convicções.
Nossas assembléias precisam ser bem ordenadas. Em relação aos homens e às mulheres, “a mulher foi tirada do homem e o homem nasce da mulher, e tudo vem de Deus”, o que faz os dois iguais em dignidade diante de Deus. A dignidade deve ser cuidada diante da assembléia também, mesmo no que diz respeito às vestimentas e aos penteados, o que vale para homens e mulheres. Que se guarde a união e se superem as divisões. As divisões são necessárias porque mostram quem entre nós é gente de juízo e confiável. Mas aí está o objeto do nosso exame de consciência antes da Eucaristia. A Eucaristia é comunhão. Se sabemos o que estamos fazendo, não podemos provocar divisões. Quem rompe a comunidade não deve se aproximar da Eucaristia. Entendemos tudo isso num sentido mesquinho. Outra coisa são as rupturas na defesa da justiça e da verdade.
Estejamos todos a serviço uns dos outros com os dons que recebemos. Um dia ressuscitaremos e veremos a destruição da morte. Nossa fadiga não é vã diante do Senhor.
