De Éfeso, uma carta aos Filipenses

Em nossa Bíblia temos uma carta de São Paulo à comunidade de Filipos, na Macedônia. Esta carta, porém, é a junção de três cartas do Apóstolo aos filipenses. Ele escreveu de Éfeso, onde estava residindo, e a primeira carta foi por causa de algumas notícias que chegaram até ele. Esta carta está em Fl 4,10-20. É um texto curto, mas muito rico em ensinamentos sobre como um cristão se comporta em relação aos bens deste mundo.

Alguém tinha feito alguma observação sobre o dinheiro que Paulo recebia dos filipenses, e provavelmente também sobre a coleta que estava sendo feita em favor dos irmãos da Judéia. Paulo procurava não depender dos outros financeiramente nem ser pesado a ninguém, mas nem sempre era possível ganhar a vida com o trabalho das próprias mãos. O serviço do Evangelho requeria tempo. Sabendo disso, os filipenses muito atenciosos e sensíveis às necessidades da pastoral, mandavam periodicamente alguma soma de dinheiro para ajudar o Apóstolo. Paulo escreve agradecendo muito a ajuda recebida. Uma leitura rápida da carta dá a entender que Paulo agradece e diz que não precisa da ajuda deles. De fato não é assim. Paulo se mostra livre diante dos bens deste mundo, e isto porque alguém teria dito que ele estava desviando dinheiro em benefício próprio.

Paulo precisa do dinheiro, mas não depende dele nem para sobreviver nem para ser feliz. “Tudo posso naquele que me dá força”, escreve ele. “Eu aprendi a me adaptar às necessidades; sei viver modestamente e sei também como me comportar na abundância. Estou acostumado com toda e qualquer situação: viver saciado e passar fome, ter abundância e sofrer necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.” (Fl 4,11-13).

“Eu aprendi”, diz ele. Fui aprendendo a viver com muita coisa e a viver sem nada. A diversidade de situações foi acostumando Paulo a passar fome e a ter em abundância. Ele se sente muito livre diante de qualquer situação porque está totalmente voltado para Cristo e seu Evangelho. Tendo os olhos fixos em Jesus Cristo, pouco importa se ele está numa bela casa ou ao relento. Quando ele diz “eu aprendi” e “estou acostumado com toda e qualquer situação” ele está ensinando que sua visão do mundo e da vida não parte de uma única posição, de um único lugar. Paulo olha a realidade a partir de muitos ângulos. É preciso mudar a própria posição para ver a vida com os olhos dos outros. Paulo não olha o mundo só do seu palácio nem só do seu barraco! Ele vai aprendendo a ser livre a partir de posições muito diferenciadas.

Ele é muito grato aos filipenses pela ajuda enviada. Tal ajuda acaba sendo creditada na conta dos filipenses junto de Deus. Paulo não está atrás de presentes. Ele sabe, porém, que a generosidade dos filipenses é benéfica a eles mesmos. O dinheiro dado para a evangelização não é uma simples esmola. É um ato litúrgico, “perfume de suave odor, sacrifício aceito e agradável a Deus”. Deus não deixará faltar nada aos filipenses.

Paulo não é interesseiro, mas vê com alegria a generosidade da comunidade de Filipos. É importante que ela participe da evangelização universal com a sua contribuição financeira. É um dinheiro que possibilita a ação dos missionários.

O Novo Testamento não conhece o dízimo. Ele conhece a partilha fraterna para que não haja necessitados na comunidade e para que o evangelho seja anunciado. O anuncio do Evangelho é um assunto genérico, que pode ser especificado de diversas maneiras. Às vezes uma contribuição para a evangelização acaba sendo destinada a cobrir despesas mal programadas. Os necessitados, porém, são uma realidade que não deve existir na comunidade. Uma paróquia pode ter muitas ações sociais voltadas para fora, mas não pode deixar de verificar se entre os que participam da mesa eucarística não há alguém que passe fome. Todos devem poder dizer como Paulo: “Agora tenho tudo em abundância depois de ter recebido de Epafrodito o que veio de vocês”.

Cônego Celso Pedro
Arquidiocese de São Paulo

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