Temos todos, diante dos males sociais de que sempre temos dolorosas notícias pelos meios de comunicação, a mania de procurar os culpados verdadeiros ou supostos: “de quem é a culpa?”. Na esfera da coisa pública, sempre jogamos a culpa no governo.

Nos repetidos assaltos, cujas notícias lemos nas páginas dos jornais, a culpa é da ineficiência da polícia. Assim julgamos. A pletora de protegidos, que enchem as repartições públicas, muitas vezes sem competência, por simples indicação política, nomeados sem concurso, a culpa é do governo.

A morte natural e inevitável dos doentes nos hospitais, os responsáveis – dizemos – são os médicos. Assim por diante.

Pode, alguma vez, o julgamento não ser leviano e até ter alguma fundamentação consistente nestes e em outros casos. Mas a mania de jogar a culpa em alguém está visceralmente enraizada na psicologia do nosso povo.

Quando acontecem fenômenos naturais, como terremotos (lembre-se Haiti e Chile), temporais como em Salvador e no Rio, fica fácil encontrar culpados. Assim mesmo, lá no dilúvio recente do Rio de Janeiro, a responsabilidade foi atribuida, em parte, aos depósitos de lixo nos morros. Há um tanto de razão nesta acusação.

Nos dolorosos e inaceitáveis casos, recentemente publicados, de abusos sexuais por pessoas consagradas, culpou-se a Igreja e até o Papa! O Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lírio, em notável artigo recente, mostrou a incoerência e a irresponsabilidade destas falsas e lamentáveis acusações de culpabilidade da digna pessoa do Santo Padre, a quem se deve a mais respeitosa admiração. Esta breve reflexão deve levar-nos a medir o alcance de nossas ações pessoais e de nossos julgamentos.

Nestes dias recentes, os jornais registraram o assassinato de seis jovens da mesma cidade. O criminoso estava preso por crimes anteriores e recebera a liberdade condicional do Juiz da Comarca, benefício este que a lei permite em certos casos. Este fato nos leva a refletir sobre a responsabilidade de nosso agir diante de Deus e diante da sociedade e nos convida a assumir a culpabilidade de nossos erros, sem atirar a culpa sobre os outros. Antes bater no peito, culpando-nos, do que atirar pedras em outros que talvez sejam inocentes.

Dom Benedicto de Ulhoa Vieira

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