A razão humana, ao menos no entender de alguns, é auto-suficiente e não precisa buscar orientação em algum ser transcendente. A fé, no caso, seria apenas para pessoas sem cultura ou que ainda não atinaram para a inconseqüência de buscar referência da verdade fora do poder e da grandeza do próprio ser humano na história. Esta teria sentido, na mesma perspectiva, apenas com o endereçamento que o homem lhe der. A Palavra de Deus, então, seria apenas elaboração do desejo humano de se sustentar num poder inexistente fora de si mesmo.

A origem do universo, sua sustentação e a do próprio ser humano seriam fruto apenas da matéria, que tem as próprias leis e possibilidades. A evolução explicaria as diferenças dos seres através dos tempos. Os ancestrais humanos já teriam mostrado isso.

Dentro de todos esses enunciados, percebemos sua frágil consistência diante do verdadeiro mistério da vida, com o segredo do dedo do Criador. A própria razão é chamada a perceber os efeitos das leis da natureza com sua causa absoluta e principal. A fé, advinda da bondade de Deus e revelada por Jesus, apresenta-nos os limites da própria matéria que não se explica a si mesma. No Filho de Deus, vemos a explosão da vitória da vida sobre a morte, mostrando-nos a divindade daquele que não sucumbiu na sepultura. A inteligência humana não é capaz de descobrir o elixir da vida eterna. Deus pode no-la dar, conforme o próprio Jesus promete. Sua palavra divina qualifica a verdade por Ele anunciada.

A Palavra de Deus tem consistência de assegurar-nos a certeza do encaminhamento da vida com um sentido superior e de nos levar à imortalidade de pessoas humanas. Nossa corporeidade, sujeita às leis da matéria, não suplanta nossa realidade de pessoas humanas. A superação da morte acontece com a ressurreição, com um corpo não mais sujeito à mesma matéria.

Por outro lado, querer assumir o panteísmo como verdade que deificaria cada ser como parte de um todo divino, levaria ao absurdo de considerar Deus como limitado à própria lei da matéria. O Deus verdadeiro, revelado progressiva e paulatinamente conforme a Bíblia e, de modo pleno, em Cristo, é o verdadeiro Transcendente, Criador de tudo e do ser humano como sua imagem e semelhança. Temos a missão de governar bem a terra, à semelhança d’Ele, que governa tudo, dando vida a cada ser criado.

A razão humana, na ordem do Criador, deve ajudar o mesmo ser humano a se responsabilizar com o desenvolvimento de tudo para haver harmonia do homem com Deus, o semelhante e toda a natureza. Não há dissensão ou oposição entre razão e fé. Basta o ser humano perceber a verdade de si e de Deus, usando seu potencial para fazer um convívio autenticamente humano, em que cada um seja tratado como gente, filha do mesmo Pai que quer o bem de todos e assiste a todos com sua graça.

Em Jesus temos o modelo de quem é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: ‘Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte… Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome… Jesus Cristo é o Senhor’ (Fil 2, 7-11).

Dom José Alberto Moura

Tags:

leia também