Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Estamos celebrando o décimo quarto Domingo do Tempo Comum. O Evangelho deste Domingo apresenta-nos Jesus na sua Nazaré. Ali mesmo, na sua própria cidade, onde nascera e fora criado, os seus o rejeitam: “Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?’ E ficaram escandalizados por causa dele”. Assim, cumpre-se mais uma vez a Escritura: “Veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1,11). E a falta de fé foi tão grande, a dureza de coração, tão intensa, a teimosia, tão pertinaz, que São Marcos afirma, de modo surpreendente: “Ali não pôde fazer milagre algum!”, tão grande era a falta de fé daquele povo.
Na primeira leitura – Ez 2,2-5 – o Povo de Israel, mesmo sofrendo no exílio, não se convertia, e Deus mandou-lhe um profeta para admoestá-lo severamente: “A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra vou te enviar (…) São um bando de rebeldes!”. O Povo de Israel está no exílio (no sofrimento), mesmo assim, não se converteu! Esqueceu o amor de Deus e não aprendeu no sofrimento do exílio! Povo de cabeça dura e coração de pedra! Por isso, Deus enviou-lhe o profeta Ezequiel que anunciou, com fidelidade, a Palavra do Senhor. Palavra dura, por sinal!
Na segunda leitura – 2Cor 12,7-10 – Paulo foi privilegiado com grandes revelações, mas foi humilhado por não menores tribulações. Por isso, Jesus o consolou com a garantia de sua graça: “Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta!” O sofrimento de São Paulo – um espinho cravado em sua carne – seriam problemas de saúde, de rejeição pelas comunidades, de armadilhas e calúnias inventadas por inimigos, dificuldades sem conta sua vida pastoral. Deus não facilita nunca o caminho dos profetas, dá-lhe a sua graça e isso é suficiente.
No Evangelho – Mc 6,1-6 – o Povo fica admirado com a pregação de Jesus – pregação clara, objetiva e convincente! Mas Ele não estudou na escola dos escribas e fariseus, era um simples operário, conhecido de todos. Ficaram escandalizados com isso. No Evangelho vemos Jesus, rejeitado pelo povo de sua cidade – Nazaré –. Bela desculpa, por sinal! Nem por isso, Jesus deixou de dar seu recado; mas, falta de fé impediu a realização de milagres.
A rejeição de Jesus na cidade de Nazaré é um símbolo da rejeição de todos nós: “Jesus veio para o que era seu e os seus não o receberam (…) O mundo foi feito por Ele, mas o mundo não o reconheceu (…) mas àqueles que o receberam deu-lhes a graça de se tornarem filhos de Deus (Jo1,6-12)”.
Como recebemos “os profetas” que Deus envia para nossas comunidades? O profeta, na maioria das vezes, tem recados duros a transmitir, exigências de conversão e nós resistimos a elas com escusas irrisórias (que fazem rir!).
Podemos perguntar: por que os nazarenos não foram capazes de reconhecer Jesus como Messias? Já lhes disse: porque o Senhor não era um messias do jeito que eles esperavam: um simples fazedor de milagres, um resolvedor de problemas… Jesus, pobre, manso, humilde, era também exigente e pedia do povo a conversão de coração. Mas, há também uma outra razão para os nazarenos rejeitarem Jesus: eles foram incapazes de ver além das aparências. De fato, enxergaram em Jesus somente o filho de José, aquele que correra e brincara nas suas praças, aquele ao qual eles haviam visto crescer. Assim, sem conseguir olhar com mais profundidade, empacaram na descrença. Mas, nós, conseguimos olhar com profundidade? Somos capazes de escutar na voz dos ministros de Cristo a própria voz do Senhor? Somos sábios o bastante para ouvir na voz da Igreja a voz de Cristo?
Saibamos reconhecer Nosso Jesus Cristo que É vivo e verdadeiro. Jesus presente na Santa Eucaristia, Jesus na Igreja, Jesus naquele que sofre. Nosso Senhor constantemente fala ao nosso coração e envia sinais para que a humanidade ouça a sua voz e o siga. Mas, para segui-lo tem que estar atento. Sejamos atento e acolhedores a Aquele que é o tudo da nossa vida.
