Declaração Conjunta: 31 de outubro

Quando lembramos a data de 31 de outubro, o povo luterano logo pensa: Dia da Reforma. Pois foi neste dia que Martinho Lutero, monge agostiniano católico, afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg (Alemanha) suas 95 teses sobre a justificação somente pela graça de Deus (sola gratia), somente pela fé em Cristo Salvador (sola fides). Era o ano de 1517.

Os católicos logo falaram em “heresia luterana”. Pois o Apóstolo Tiago fala claramente que “a fé sem obras está morta” (Tg 2, 26). E começou a luta de condenações mútuas. Também os príncipes se envolveram. Criou-se o princípio de que o povo segue a fé do governante. Como os príncipes podiam simplesmente desapropriar os bens dos oponentes, misturaram-se muitos interesses mundanos.

Aos poucos formou-se um clima de respeito mútuo e mesmo de diálogo. No Concílio Ecumênico Vaticano II (1964) a Igreja Católica aderiu oficialmente ao movimento ecumênico, reconhecendo que restaurar a unidade dos cristãos é obra do Espírito Santo. Surgiram diálogos bilaterais em nível local e internacional. E finalmente, em 31 de outubro de 1999, na cidade alemã de Augsburgo, foi assinada uma Declaração Conjunta de consensos acerca deste artigo da fé cristã.

Meu amigo Huberto Kircheim, então Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (24/11/1999), assim descreve o importante evento: “Após aproximadamente 30 anos de diálogo entre católicos e luteranos Deus possibilitou, através do sopro do Espírito Santo, que pudesse ser assinada na cidade de Augsburgo uma declaração de consensos”.

Agora, passados 10 anos deste acontecimento (1999–2009), damos graças a Deus porque católicos e luteranos passamos da polêmica para o diálogo, das condenações mútuas para a cooperação em favor da humanidade.

A Igreja Católica, mesmo assumindo a doutrina de Tiago de que “a fé sem obras está morta”, sempre defendeu a necessidade da graça de Deus. Chegou mesmo a condenar oficialmente a tese de Pelágio de que “a graça divina era desnecessária para a salvação embora facilitasse a obediência”. Na polêmica acentuam-se as divergências.  Agora vivemos o diálogo. Permanecem diferenças, mas valorizam-se os consensos e as diferenças são respeitadas. Cada igreja mantém sua identidade e deixa ao tempo de Deus o dia da plena unidade.

Dom Aloísio Sinésio Bohn

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