Demoliram a igreja, como celebrar o aniversário do Menino Deus?

Dom Frei Severino Clasen
Bispo Diocesano de Caçador (SC)

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GE 1).

Todos os batizados tem a missão de superar as angústias e as tristezas. No Ano Nacional do Laicato queremos que cresça a sensibilidade e a alegria do cuidado pela vida em toda a sociedade. Nem pobres e nem ricos, todos somos filhos de Deus. A chave de leitura do mandato do Senhor, que motiva a celebração do Ano Nacional do Laicato, “vós sois sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14), aponta para a estrela guia que indicou aos pastores e aos reis do oriente, a luz que veio brilhar e unir os povos na mesma fraternidade. Infelizmente, não é o que estamos percebendo no Brasil, que já teve o nome de Santa Cruz. E que no futuro não se diga que, o Brasil já foi cristão. Veja o que aconteceu em Pinhão, PR, (https://youtu.be/-eFHjBj2SU) uma escavadeira destruiu o templo religioso, símbolo da fé, que a lei, em nosso país, garantia a proteção incondicional. Hoje, o mercado está acima da lei e da dignidade humana. A onda de ódio, cada vez mais crescente, se instalando, e a casa para o Menino Deus nascer, cada vez mais distante e impossível de se encontrar.

Celebrar o Ano do Laicato, é uma esperança que movimenta os corações para construir a paz, para que todos os povos tenham “teto, terra e trabalho” (Papa Francisco).

É lamentável que uma juíza mande destruir casas, plantações e enterrar animais vivos para dar posse a um latifundiário que se apropriou de terra pública. (Veja a carta das mães para a juíza em Xanxerê, SC, www.mst.org.br 2017/12.07). Famílias foram expulsas, plantações destruídas, aquele alimento que salvaria vidas foi destruído pelo orgulho e a prepotência de pessoas que optaram por matar uma comunidade de fome para lucrar milhões. Mas que um dia haverão de prestar contas a Deus, pela maldade feita à humanidade nesse mundo.

Como festejar o Natal se estamos dominados por um sistema que mata e destrói iniciativas de produção de alimentos e de sustentabilidade? Confira alguns dados:

No caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). No Brasil houve um corte de 99,8%, colocando em risco o abastecimento alimentar do país: de R$ 318 milhões diminui para R$ 750 mil.

Na Política de Segurança Alimentar e Nutricional, cujo principal fornecedor é a Agricultura Familiar, o corte chega a 84,42%.

A Secretaria Especial da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (SEAD), reduzirá os investimentos de R$ 1,03 bilhões em 2017 para R$ 790 milhões em 2018; (ASA – Articulação do Semiárido Brasileiro).

Hoje, as políticas mantenedoras da corrupção e destruição da lei magna, derruba templos, vidas, alimentos e enterra animais que seriam o alimento na mesa dos pobres e a sobrevivência de milhares de vidas.

“Quem governa então? O dinheiro. Como governa? Com o chicote do medo, da desigualdade, da violência econômica, social, cultural e militar que gera sempre mais violência em uma espiral ascendente que parece não acabar nunca. Quanta dor, quanto medo! “Existe um terrorismo de base que deriva do controle global do dinheiro sobre a terra e ameaça toda a humanidade.” Discurso do Papa no III Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Vaticano, 5/11/2016.

Está difícil celebrar o natal do Senhor. Ele continua sendo ignorado, destruído e enterrado. A nação se inclina diante de grupos poderosos e desumanos que tiram do pobre para enriquecer cada vez mais os poucos donos da riqueza e da opulência desse imenso e amado país.

“Às vezes penso que quando vocês, os pobres organizados, inventam os vossos trabalhos, criando uma cooperativa, recuperando uma fábrica falida, reciclando os descartes da sociedade de consumo, enfrentando a inclemência do tempo para vender em uma praça, reivindicando um pedaço de terra para cultivar para alimentar quem tem fome, quando vocês fazem isto, estão imitando Jesus, porque buscam curar, mesmo que somente um pouquinho, mesmo se precariamente, esta atrofia do sistema socioeconômico reinante que é o desemprego.

Não me surpreende que também vocês às vezes sejam vigiados ou perseguidos, nem me surpreende que aos soberbos não interessa aquilo que vocês dizem.” Discurso do Papa no III Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Vaticano, 5/11/2016.

Que o Ano Nacional do Laicato acorde os cristãos leigos e leigas para que não se acomodem nas consciências e levantem a voz para que a justiça seja restabelecida, para que o ser humano seja colocado no seu devido lugar, para que o testemunho de fé, vida e esperança faça nascer uma nação pacífica, harmoniosa, trabalhadora, onde todos os brasileiros tenham a mesma dignidade, conforme reza a lei magna da nossa constituição, art. 5, “todos somos iguais perante a lei”. Que o mandamento maior, amai-vos uns aos outros (Jo 13,34), seja a fonte de inspiração, de superação do vandalismo e da destruição da nação, para que as forças das máquinas construam pontes para a paz e a justiça. Sonhamos com o profeta “que a justiça produza paz e o direito assegure a tranquilidade” (Is 32,17) e com o salmista que reza: “A bondade e a fidelidade outra vez se irão unir, a justiça e a paz de novo se darão as mãos” (Sl 84,11).

Sigamos a estrela guia neste natal, para que em todos os dias de 2018 sejamos sal na terra (Mt 5,13), renovando os corações dos povos da nossa grande e amada nação.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo.

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