Paulo narra sua experiência de vida, analisando os desejos opostos que o confundem. Percebe o bem, mas acaba sendo arrastado pelos impulsos do mal. Na Carta aos Gálatas, orienta-os para se deixarem conduzir pelo Espírito. A lei do amor deve levar cada um a superar as brigas: “Se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros. Eu vos ordeno: procedei segundo o Espírito. Assim, não satisfareis aos desejos da carne. Pos a carne tem desejos contra o espírito, e o espírito tem desejos contra a carne” (Gálatas 5, 15-17).
Indo além, o apóstolo lembra a oposição entre carne e espírito, confundindo a pessoa. Esta só tem oportunidade de superar o egoísmo e as inclinações egoístas instintivas quando se deixa conduzir pela força do Espírito Santo, levando-a à prática do amor e obedecendo a Deus. De fato, a pessoa exercitada na prática da canalização dos impulsos egoístas para a ação oblativa de servir o semelhante, é capaz de ser senhora dos próprios apetites instintivos. Supera o ódio. Dialoga. Compreende o outro. Perdoa. Não se vinga.
Desenvolve os talentos para o melhor serviço possível à família, à Igreja, à sociedade. Luta por causas de promoção da vida e do bem comum. Não aceita a mentira, a injustiça, o desrespeito ao indefeso, ao pobre, às pessoas discriminadas… É capaz de se disponibilizar para ajudar a superação dos problemas da comunidade. Ajuda e incentiva a boa política.
Quem se deixa levar pelo serviço à carne ou ao próprio egoísmo, muitas vezes se torna fechada para a promoção do bem da comunidade. Quase só pensa em si, nos próprios projetos, no acúmulo de benefícios ou vantagens pessoais, em detrimento dos outros. Não se importa com o bem público. Torna-se avarenta e sem compromisso com o social. É deseducada e descortês até com os de casa. Não aceita participar de ações de melhoria à causa pública. É omisso em relação ao serviço aos empobrecidos.
Jesus não se cansa de dar o exemplo e ensinar a vocação de doação de si com a vocação de real serviço à humanidade, em obediência ao Pai. Desafia pessoas a serem determinadas no seguimento do ideal maior, mesmo tendo de deixar outros projetos pessoais secundários. A uma pessoa que manifestou empolgação para segui-Lo, desafiou: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lucas 9, 57.58). A outro, Ele chamou para segui-Lo. Na desculpa de fazê-lo mais tarde, depois de resolver problemas familiares, Ele afirmou: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o reino de Deus” (Lucas 9, 62).
Por isso mesmo, fazer opção por um caminho diferente, como o do projeto de Deus, exige da pessoa superar os próprios interesses e projetos de menos conta para a conquista de um ideal maior. Este o divino Mestre indica, indo à frente para no-lo mostrar de modo humano e divinizado. Precisamos ter discernimento, determinação, perseverança e exercício para fazer boa opção entre os desejos contraditórios, sedimentados dentro de nós e estimulados também pelas propostas do meio no qual vivemos.
