Destruição da família e violência

Enquanto a Campanha da Fraternidade de 2009 apenas está no início, somos surpreendidos cada dia com notícias sobre novos fatos e esquemas de refinada violência: um grupo

de extermínio atuando na área metropolitana de São Paulo e que cortava mãos e cabeças das vítimas para não serem reconhecidas; crianças abusadas sexualmente de maneira aberrante e vergonhosa; a menina de 9 anos, no Pernambuco, abusada durante três anos por um familiar, resultando grávida; e para saber mais, é só abrir e ler os jornais de hoje…

A questão posta pela Campanha da Fraternidade não se detém na denúncia de fatos, mas vai à reflexão sobre as causas da violência, indicando também as vias para uma possível solução. A violência está relacionada com fatores pessoais e morais, que devem ser objeto de constante conversão e educação dos hábitos e da orientação da vida segundo os mandamentos da lei de Deus e os valores do reino de Deus; a Igreja não se cansa de chamar à penitência e à conversão, especialmente durante a Quaresma.

Mas a violência também tem causas sociais, que precisam ser conhecidas e enfrentadas coletivamente, com esforço solidário e também com políticas públicas. O Estado e as Instituições públicas têm a missão de promover, entre outras coisas, a justiça social, a eficiência no sistema judiciário e o desbaratamento do crime organizado; da mesma forma, também são responsabilidades do Estado e dos órgãos que o representam a promoção de uma autêntica cultura dos direitos humanos e da dignidade da pessoa, bem como o amparo às instituições e organizações da base social, que são capazes de assistir às pessoas na sua situação concreta e de promover os verdadeiros valores na convivência social; refiro-me à família, à escola e a tantas outras organizações da sociedade civil. A paz será fruto da justiça e do respeito à dignidade das pessoas.

Muita violência tem a ver com a desestruturação e destruição da família, inclusive por leis e políticas contrárias à família; os efeitos são desastrosos para a sociedade pois, aquilo que a família constituída e amparada minimamente poderia fazer, acaba faltando na vida das pessoas e os problemas sobram para a sociedade e para o próprio Estado. Quem promove uma cultura desprovida de valores éticos, quem incentiva e explora a prostituição, a promiscuidade e incita à iniciação sexual precoce de crianças e adolescentes deveria pensar se não está incentivando, também, a violência sexual contra mulheres e crianças, ou apoiando comportamentos sexuais aberrantes, como os que são objeto de notícia na imprensa.

A negação das implicações morais e da responsabilidade social nos comportamentos individuais, bem como o incentivo à banalização do sexo e do casamento, está fragilizando a família e pode causa de violência. Alguém já fez uma análise séria das consequências da farta distribuição de preservativos, não só no sambódromo por autoridades, mas até em escolas, para crianças e adolescentes? O desmantelamento da família mediante políticas públicas que atendem a grupos de pressão mais que ao interesse social e coletivo, sobretudo dos grupos sociais que mais necessitam da família, como as crianças, os idosos e os doentes, é uma grande irresponsabilidade e trará consequências graves para a sociedade e o Estado. A família é um bem para a pessoa e para a sociedade e, por isso, deve ser defendida e amparada por políticas públicas que lhe possibilitem o exercício de suas atribuições naturais e sociais.

Muita violência, infelizmente, tem origem debaixo do teto familiar. O caso triste do estupro das meninas por um padrasto, no Pernambuco, não é único; tais fatos devem ser denunciados. Muita violência está relacionada com a ausência de uma sólida educação recebida em família, ou com os ambientes já contaminados por toda sorte de sordidez, onde as crianças convivem desde cedo com vícios e violência, são vítimas dela e acabam sendo orientadas para repetir comportamentos violentos.

A superação da violência não acontecerá simplesmente por esquemas repressivos mas por mudanças de fundo cultural. A escola tem um papel importante na formação dos valores para uma convivência respeitosa e sadia. Mas, quando a própria escola está desamparada, o que se pode ainda esperar? Fico impressionado quando ouço ou leio que professores têm medo de entrar em certas salas de aulas freqüentadas por crianças e adolescentes… Faço votos que esta Campanha da Fraternidade se torne ocasião para uma séria reflexão sobre as causas da violência na sociedade.

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