Dom Adimir Antonio Mazali
Bispo de Erexim (RS)
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A Liturgia da Palavra deste Domingo convida-nos a refletir sobre o perdão e sobre a misericórdia. Estamos no mês da Bíblia. A Sagrada Escritura nos revela que Javé, o Deus de Israel, é um Deus “único” (cf. Dt 6,4; Is 43,10-12), um “Deus vivo” (cf. Dt 5,26; Js 3,10), é o Deus criador, pois tudo o que criou qualificou como muito bom (cf. Gn 1,1-31). É um Deus presente e atuante na história (cf. Dt 6,15; Js 3,10), é o Emanuel, Deus Conosco, (cf. Is 7,14; Mt 1,23). Desta forma, o povo de Deus continuamente era convidado a “ouvir” sua Palavra e a “amá-Lo” “com todo o coração, com toda a alma e com toda a força” (Dt 6,4-5), por ser “um Deus misericordioso” (Dt 4,31), um “Deus de compaixão e de piedade (…) cheio de amor e fidelidade” (Ex 34,6).
Caríssimos irmãos e irmãs. O Papa João Paulo II, na Carta Encíclica “Dives in Misericórdia”, de 30/11/1980, dizia sobre a cultura atual: “não deixa espaço para a misericórdia”. Na cultural atual, portanto, não há espaço para o perdão e a cooperação, para a solidariedade, para a gratuidade e a caridade. O mundo atual não valoriza a misericórdia, não se pede perdão, não se aceita perdoar. Segundo o Papa Francisco: “A humanidade precisa de misericórdia”. Por isso, o Papa Francisco faz o seguinte apelo: “Deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida” (Bula Misericordiae vultus, 25).
A misericórdia, conforme a Misericordiae vultus, “é o núcleo central da mensagem evangélica” (…) é o próprio nome de Deus, o rosto com o qual Ele se revelou na antiga aliança e plenamente em Jesus Cristo, encarnação do Amor criador e redentor (cf. Mv, 1)”. Desse modo, de acordo com o Papa Francisco, “(…) precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia (Mv,2)”, uma das características principais do rosto de Deus.
Ao proclamar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, através da Bula Misericordiae vultus, o Papa Francisco anunciou ao mundo que “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai”. Mostrou que, “com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus”. Para ele, a misericórdia “é fonte de alegria, serenidade e paz” (Mv, 1 e 2). A Misericórdia de Deus é condição para a salvação.
Nas palavras de Papa Francisco, ainda na Bula acima referida, a misericórdia “é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade (…) é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro” (Mv, 2). Dessa forma, a misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de Deus e que deve estar em cada pessoa, ou seja, “é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (…) a misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado” (…). Ninguém pode impor um limite ao amor de Deus que perdoa”; “nenhum pecado humano, por mais grave que seja, pode prevalecer sobre a misericórdia ou limitá-la” (Mv, 3). Por isso, o Papa Francisco propõe que todos nós incorporemos a misericórdia como princípio de vida para juntos construirmos um mundo mais humano.
Estimados irmãos e irmãs. Para a Sagrada Escritura, conforme afirma o Salmista: “A misericórdia é o atributo de Deus por excelência” (Sl 136). Por isso, a misericórdia de Deus é o elemento central da vida e da missão de Jesus Cristo que veio revelar-nos o rosto misericordioso do Pai. Portanto, isso significa que o coração de Deus está voltado para a miséria humana e nos desafia a também vivermos compassivamente. “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso”, afirma-nos o Evangelho (Lc 6,36). Assim, a prática da misericórdia constitui-se no caminho que conduz toda e qualquer pessoa a Deus.
Não podemos esquecer que a Misericórdia é indispensável nas relações entre os seres humanos, afim de que haja fraternidade. Com a misericórdia e o perdão, Deus vai além da justiça, a inclui e a supera numa dimensão superior na qual se experimenta o amor. Por isso, o apelo de Jesus, no Evangelho deste domingo, é para que não perdoemos até sete vezes, mas setenta vezes sete, ou seja, perdoar sempre e de coração.
Deus abençoe a todos e um bom domingo.