Dom Manoel João Francisco
Arcebispo de Porto Alegre
No contexto do mês vocacional, no próximo domingo, dia 11 de agosto, estaremos celebrando o Dia dos Pais e a vocação à paternidade.
Conforme a carta do Apóstolo Paulo aos efésios, toda paternidade sobre a terra tem seu início em Deus e nele encontra seu modelo. “Por esta razão, dobro os joelhos diante do Pai, de quem recebe o nome toda a paternidade no céu e na terra” (Ef 3,14-15). A vocação e missão dos pais, portanto, é um dom divino, sublime e cheio de dignidade.
Contudo, este ideal de paternidade está ameaçado por muitos fatores. As diferentes configurações familiares delineadas nos tempos atuais, sem dúvida, trazem à vocação e missão dos pais grandes desafios, mais especificamente em relação à sua presença no ambiente familiar. Uma pesquisa realizada em 2005, depois de investigar milhares de certidões em cartórios de registro civil, e ter consultado dados do IBGE, concluiu que, anualmente, cerca de 800 mil crianças são registradas sem filiação paterna.
Segundo psicólogos e pedagogos a ausência ou abandono paterno é extremamente prejudicial à vida dos filhos, especialmente quando ainda são crianças e adolescentes. De acordo com estes mesmos especialistas, a ausência paterna tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo dos filhos. Eles podem levar, para a sua vida adulta, vários transtornos. A pediatra Melissa Wake, da Austrália, realizou uma pesquisa com quase 5 mil crianças entre 4 e 5 anos. Ela descobriu que a incidência de sobrepeso e obesidade na garotada em idade pré-escolar tem relação direta com a negligência dos pais. Na busca de solução, a psicóloga Ala ide Degani De Cantone dá algumas dicas: “Participe dos momentos importantes, felizes ou não, procure compreender a criança nos seus momentos mais adversos, orientando-a e propondo alternativas para a vida. Nem sempre é fácil, mas vale muito a pena”, conclui a especialista.
Na década de 90, esta realidade já preocupava os legisladores brasileiros que, em 1992, publicaram a Lei n° 8.560/92 que tinha por objetivo “dar pai a quem não tem”. De acordo com tal lei, todos os registros de nascimento, que não contivessem o nome paterno, deveriam ser comunicados ao Ministério Público para que o Estado iniciasse a busca por esta paternidade. Contudo, parece que a preocupação dos legisladores foi totalmente ignorada. Não tenho conhecimento que esta lei tenha sido posta em prática.
A Igreja sempre teve em grande conta a vocação à paternidade, destacando sobremaneira a missão dos pais, porque eles são, para as novas gerações, custódios e mediadores insubstituíveis da fé na bondade, na justiça e na proteção de Deus.
Em novembro de 1986, na Austrália, o Papa, São João Paulo II, dirigindo-se aos pais, assim lhes falou: “É um privilégio estupendo, uma missão maravilhosa que recebestes de Deus”. Na mesma homilia, voltando-se para os filhos, exortou-os: “E a vocês crianças e jovens, presentes aqui em número tão considerável, que posso dizer? Amem seus pais, rezem por eles, cada dia, dêem graças a Deus por eles”.
Fazendo eco aos especialistas no que diz respeito à presença do pai na vida dos filhos, o nosso Papa Francisco, numa das Audiências Gerais, nas quartas feiras, fez este pronunciamento: “Hoje, porém, sobretudo na cultura ocidental, o conceito de pai parece estar em crise. Se no passado a paternidade estava ligada ao autoritarismo, agora se passou ao outro extremo: a ausência da figura paterna. Muitos são os jovens que experimentam um sentido de orfandade, não porque não tenham um pai, mas porque está ausente. A ausência do pai é muito nociva às crianças e aos jovens, produz lacunas e feridas que podem ser muito graves. Eles ficam vazios e propensos a buscarem ídolos que preencham os seus corações. A ausência dos pais deixa os jovens sem estradas seguras, sem mestres nos quais confiar. Ficam órfãos de ideais que lhes aqueçam os corações, órfãos de valores e de esperanças que amparem o seu dia a dia. O pai deve estar presente na família, que seja próximo da mulher, para compartilhar tudo, alegrias e tristezas, fadigas e esperanças. E deve estar próximo dos filhos em seu crescimento: quando brincam e quando se empenham, quando ousam ou hesitam, quando erram e voltam atrás. Pai presente sempre! Presente não significa controlador, pois pode anular o filho”.
Sem a graça que vem do Pai que está nos céus, os pais da terra não conseguem realizar a sua sublime vocação. Por isso, o pai cristão, só o será de fato, se for uma pessoa de fé, de oração e de prática sacramental.
Feliz Dia dos Pais!