Dia internacional de apoio às vítimas da tortura

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

No dia 26 de junho de 1987, a ONU aprovou a Convenção contra a tortura e outras penas degradantes, desumanas ou cruéis. É importante recordar e fazer memória, pois, ultimamente, como dizia a filósofa Ana Arendt, fomos acostumados a banalizar a violência. Aceitamos que um líder político tenha o comportamento que quiser, sem respeito e empatia por ninguém.

Tornar-se claque de tiranos ou autoritários, aplaudindo tudo que fazem, ou até achar engraçado, é o mesmo que declarar como declarou um nazista famoso: “Eu não tenho consciência, o Fuehrer (Hitler) é a minha consciência”. Quando defendemos, incondicionalmente, quem despreza a vida dos outros ou faz pouco caso do sofrimento alheio, nos tornamos cúmplices silenciosos da necropolítica.

O mais belo de um ser humano é sentir, como própria, qualquer ofensa contra a dignidade humana, contra qualquer ser humano, em qualquer lugar do mundo. Era o que inspirava o poeta Terêncio afirmar: “Sou humano nada do que afeta a humanidade me é alheio”. Aceitar a tortura, qualquer tratamento humilhante e degradante, contra pessoas, e mesmo outros seres vivos, é conduta hedionda e repugnante, tornando-se caminho certo para a destruição da espécie humana e a Terra inteira.

Ninguém pode ser considerado sem importância ou valor, inútil ou inimigo do Estado, tal pensamento leva, fatalmente, ao extermínio ou genocídio. A falta de sensibilidade e compaixão no ser humano é uma grave carência que inabilita e incapacita para ser responsável ou cuidar de outras pessoas, muito mais para governar, porque nunca fará uma avaliação sincera e real de si mesmo e dos custos humanos de suas decisões.

O torturador, ou quem defende a tortura, ou ainda quem considera herói quem comete essa barbárie, está se alienando da humanidade, sendo cruel contra si mesmo e cometendo suicídio moral e espiritual. Na época do nazismo, o poeta Bertold Brecht afirmava: “Há muitas maneiras de matar uma pessoa, pôde-se dar um tiro, esfaqueá-la, deixá-la morrer de fome, sem atendimento no hospital, tirar-lhe o trabalho, a moradia, a saúde.

Poucas destas formas de matar estão proibidas em nosso país”. Que o Senhor da Vida não permita nunca que aceitemos a tortura, a violação dos direitos humanos, a barbárie da força e da violência, estabelecidos como direito e norma de convivência. Deus seja louvado!

 

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