Dimensão missionária e ecológica das CEBS

A Igreja prepara-se para a realização do 12º. Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base que acontece neste ano de 2009, de 21 a 25 de julho em Porto Velho, reunindo as delegações dos 17 regionais da CNBB.

O Intereclesial é memória viva da caminhada da Igreja peregrina e comunhão no amor, seguidora de Cristo e servidora da humanidade. É um convite para aprofundarmos nossa fé e participarmos mais plenamente na vida da Igreja recordando que pelo batismo, somos chamados a ser discípulos e missionários em Jesus Cristo. (DA 160-161)

O 12º. Intereclesial tem como tema “CEBs, Ecologia e Missão” e como lema “Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”. O Texto-Base, publicado pela Editora PAULUS, pode ser adquirido em todas as livrarias católicas do país. Tem como proposta um aprofundamento da dimensão missionária e ecológica das CEBS. Diversos assessores, historiadores e teólogos colaboraram na elaboração do livro, como Raimundo Possidonio, Faustino Teixeira, Armando Dias Mendes, Jean Hebette,Sebastião A. Ferrarrini,Marcelo Barros, Gunter Kroemer, Nancy Cardoso Pereira, Tea Frigerio, Cláudio O.Ribeiro, Leonardo Boff,  Sergio Badanini, Luiz Ceppi, Luiz Mosconi, Antonio Cechin, Eva Canoe, D. Sergio Castriani, Paulo Suess.

Pe.Valdecir L. Cordeiro, organizador do Texto-Base, sintetiza os temas na Introdução do livro. Ele inicia afirmando que “o cuidado com a vida constitui-se no maior desafio para a humanidade em todos os tempos, tanto mais hoje que ela encontra-se ameaçada em escala planetária. Não caminhamos rumo ao desequilíbrio, mas já sofremos as conseqüências provocadas por um modelo de desenvolvimento e um estilo de vida, agressivos com a natureza. A Terra grita juntamente com os povos, de modo especial os pobres, e todas as espécies de seres vivos”.

Para nossas Comunidades Eclesiais de Base, portadoras do sonho de Jesus de Nazaré, nosso irmão e Senhor, este grito ecoa mais como um desafio que chama para a ação, que desaloja, questiona e aguça a criatividade, pois, não obstante os aspectos cinzentos da realidade – o mal que parece tomar conta de tudo –, a vida insiste em brotar como um dom de Deus, alento e esperança na caminhada.

Quando falamos de ecologia nos ligamos, sobretudo, a uma maneira harmônica e integrada de pensar e viver a realidade em todas as suas dimensões. Trata-se de compreender que “no desígnio maravilhoso de Deus, o homem e a mulher são convocados a viver em comunhão com Ele, em comunhão entre si e com toda a criação” (D.A.470).

Esta perspectiva adotada pelos bispos da América Latina tem ressonância bíblica, pois Deus confiou ao ser humano o cuidado e o cultivo de sua obra criadora, conforme se lê em Gn 2,15. Jesus mesmo tinha esta sensibilidade para com a beleza das criaturas (Lc 12,27) e percebia aí o dom do Pai que cuida de toda sua criação (Lc 12,24). Ensinou aos discípulos e às multidões os valores do Reino, no qual todas as formas de agressão à vida devem ser superadas. Assim também as primeiras comunidades entenderam que é preciso enfrentar o dragão que quer se colocar no lugar de Deus, para que homem e mulher, vivendo na dinâmica do Reino da Vida, possam ver e viver “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1), o ideal da “terra sem males”, cultivado pelos indígenas latino-americanos. Também os povos ameríndios têm aguçada sensibilidade ecológica. Precisamos aprender com eles a ler as mensagens implícitas na natureza.

Por outro lado, quando falamos em missão nos remetemos à própria vida de nossas Comunidades. Chamadas a uma vida em Cristo são desafiadas a realizar isto concretamente numa atitude de abertura para o outro, em favor da vida. Dessa forma, “CEBs,Ecologia e missão” se articulam num todo coerente. Se quisermos ser conseqüentes com nosso discurso sobre a ecologia e a missão, devemos enraizá-lo na história de nosso povo, pois é neste chão que as alternativas e ações em favor do resgate do equilíbrio da vida são gestadas. As Comunidades Eclesiais de Base são células de vida, formam o Corpo de Cristo, prolongam sua ação no mundo: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10).

O Texto Base está estruturado em três partes, seguindo o método Ver-Julgar-Agir. A 1ª. parte: “O grito da terra e dos povos amazônicos” descreve a realidade num olhar amplo e atento. Ir. Sebastião A.Ferrarini (Cap. I) nos ajuda a entender que o que chamamos de “Amazônia” é uma realidade multifacetada do ponto de vista do espaço – abrange vários países –, da paisagem, dos recursos naturais, das culturas e dos interesses que pairam sobre a região. No Cap. II temos um texto que reflete sobre a relação entre o bioma e as formas de ocupação e exploração da região. Armando D.Mendes (III) fala da natureza da Amazônia, de sua cultura, ou seja, a maneira como vemos e vivemos a região e, finalmente, sobre a arquitetura da Amazônia, numa alusão ao que queremos e podemos fazer daqui em diante. Jean Hébette (IV), por sua vez, nos mostra como a Amazônia foi vista ao longo da história do ponto de vista das opções políticas e econômicas, nos indaga sobre a nossa própria visão na atualidade e nos instiga sobre o que podemos ver na Região. Gunter Kroemer (V) nos apresenta dados sobre a riqueza das culturas indígenas na Amazônia, sua visão de mundo e sua abertura para o transcendente no cotidiano da vida. Faz também uma ligação entre a experiência dos indígenas e a das CEBs, das quais muitos fazem parte. Nancy Cardoso Pereira (Cap. VI) fala sobre a presença e contribuição da mulher na cultura amazônica. Pe. Raimundo Possidônio (VII) escreve sobre a Igreja com rosto amazônico que nasce, sobretudo, no Encontro de Santarém (1972), caminho assumido e continuado pela CEBs.

A 2ª.parte: “A Igreja que vive na Amazônia proclama o evangelho da vida”, é de cunho mais interpretativo e busca refletir sobre a realidade descrita a partir da fé. Leonardo Boff (Cap. I) nos faz compreender que já estamos imersos numa situação de grave desequilíbrio da vida no planeta e que tal realidade nos desafia a encontrar caminhos para cuidar da Terra e garantir o futuro da vida e da fé cristã. Tea Frigério ( II), adotando uma perspectiva que estabelece uma relação entre a Revelação de Deus e a história da humanidade, nos apresenta chaves de compreensão para uma leitura amazônica da bíblia. Claudio de O.Ribeiro (Cap. III) nos enriquece com um texto que trata do diálogo entre as Igrejas cristãs em favor da vida e da justiça. Fala da importância do ecumenismo, da busca da unidade na fé e na caridade. Ainda na perspectiva do diálogo, temos um texto de Faustino Teixeira (IV), refletindo sobre a relação entre a fé cristã e as religiões. Marcelo Barros (V), com profunda sensibilidade ecumênica e ecológica, nos faz refletir sobre a dura realidade dos povos crucificados, seu sofrimento, resistência, e esperança.

A 3ª.parte: “Clamor por justiça, partilha e paz” é mais propositiva. O texto de Sérgio Bradanini (Cap. I), trata do tema da missão a partir da perspectiva da alteridade. Luis Mosconi (II) nos fala com entusiasmo das CEBs e das Missões Populares. Atento às contribuições de Aparecida afirma que as CEBs continuam firmes e que não há mais dúvidas de que a missão é a sacudida que deve mantê-las acordadas. A. Cechin (III) nos traz uma contribuição sobre a evangelização libertadora. Resgata a história da renovação da catequese no Brasil, seu caráter libertador configurado pelo método ver-julgar-agir, pela opção pelos pobres e pela experiência das CEBs. Paulo Suess (IV), num texto escrito antes de Aparecida, apresenta cinco passos para nos fortalecer e continuar firmes na caminhada. Por último (V), três experiências ecológicas alternativas são apresentadas;são iniciativas modestas mas paradigmáticas, na medida em que mostram a possibilidade de intervir na natureza de maneira sustentável. Luis Ceppi descreve a experiência do Manejo Florestal Comunitário, projeto gestado e implantado em Xapuri, AC. D.Sérgio Castriani apresenta a experiência de recuperação e preservação dos lagos em Tefé, AM, fruto fundamentalmente do engajamento das CEBs. E a indígena Professora Eva, da etnia Canoé, de Guajará-Mirim,RO, apresenta a experiência alternativa de comercialização de produtos produzidos em Sagarana.

Dom Moacyr Grechi

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