Dinheiro e poder: os critérios da negociação

Em plena Semana Santa, o Evangelho insiste em mostrar a presença e a ação do dinheiro na história da paixão de Cristo.

Nesta quarta-feira Mateus nos conta que Judas foi negociar com os sumos sacerdotes. A traição ficou cotada em trinta moedas. Acertaram-se no preço, na quantia de dinheiro. Mas com isto o Justo ficou sacrificado. Fizeram acordo. Entenderam-se a respeito do valor monetário. Mas esqueceram o valor da vida, que não tem preço. E assim o Cristo foi condenado a morrer.

Diante desta história do Evangelho, podemos situar melhor o problema dos acordos financeiros.

Entre nós se discute tanto, e com razão, os termos dos acordos que regem hoje as relações financeiras no mundo globalizado. Até os pobres falam no FMI.  No Brasil foi feito o plebiscito sobre a Dívida Externa, e a primeira pergunta dizia respeito, exatamente, aos “acordos com o FMI”.  Mesmo sem conhecer os termos exatos destes acordos, o povo intui que eles se revestem de uma perversidade que não pode ser aceita.

E’ que os acordos não podem se limitar a reger relações financeiras. Eles precisam estar relacionados com a vida do povo. Caso contrário, correm o risco de serem injustos, e de colocarem em risco a sobrevivência dos pobres.

Sem a vinculação ética que a deve reger, a economia perde sentido, e se torna instrumento para condenar à morte a multidão dos excluídos.

O dinheiro, por pouco que seja, dá um poder de negociação. Com uma pobre bolsa na mão, Judas se transformou em negociador diante do sistema do poder estabelecido. E foi capaz de provocar uma grande injustiça.

Usar corretamente o poder de negociação que nosso dinheiro nos proporciona, é um sério dever ético, para todos, em nosso tempo.  Pois está em causa a vida das pessoas, sobretudo dos indefesos.

Dom Luiz Demétrio Valentini

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