Paulo não se deu o título de discípulo e nem aos cristãos, usando esse vocábulo presente nos evangelhos. Contudo, claramente se percebe o seu interesse pela vida de Cristo e seus ensinamentos. Isso aparece no uso do vocábulo “Jesus” e “Cristo Jesus”. Mas pode afirmar-se que, na sua compreensão, o discípulo é aquele que assume a imitação do mestre. Cristo deu sua vida. Sua imitação inclui a corajosa oferta de si na caridade, abnegação e humildade.
Os cristãos, portanto, são desafiados a humilhar-se e a entregar-se por seus irmãos. Cristo se fez pobre e de todos cuidou. Esse é o parâmetro da imitação que cabe aos seus discípulos, configurando o relacionamento com o Mestre. Nesse íntimo relacionamento, Paulo compreende que está o fundamento da moral dos discípulos, de tal modo que as relações humanas devem ser para facilitar a experiência do relacionamento com Cristo. O relacionamento com Cristo é a iluminação de todos os relacionamentos de modo que no outro cada um é chamado a ver o Cristo. No bilhete a Filêmon 15-16), com uma extraordinária delicadeza, Paulo faz uma comunicação ao seu discípulo Filêmon quanto ao retorno de Onésimo. Filêmon é instado a encontrar em Onésimo não mais um escravo, mas um irmão bem amado no Senhor Jesus.
É Cristo Jesus quem permite alcançar a possibilidade desta igualdade. No contexto parenético de Romanos, 14-1-12, o apóstolo indica a importância do respeito a cada qual, particularmente o respeito à consciência dos fracos. Vivendo ou morrendo, tudo tem que ser para Cristo. Essa intimidade, configurando o relacionamento entre Cristo e os cristãos, tem uma adequada expressão na imagem tradicional do matrimônio. A intimidade com Cristo se constitui numa verdadeira união conjugal. Tal pertença não é jurídica. É uma propriedade que atinge o fundo do ser de cada discípulo.
Quando Jesus revela aos discípulos que eles tinham um Pai no céu sublinha que este é também o seu Pai. Ele é o Pai de misericórdia e das consolações, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Pai (IICor 1,2-3).
O apóstolo explica, como em Gl 3,26ss, que a consciência do estado real dos filhos e filhas de Deus vem da ação do Espírito Santo. A fé em Cristo faz, pois, passar do estado de escravidão à condição da verdadeira liberdade.
“É porque sois filhos que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama Abba,Pai.” (Gl 4,3-6)/ (Cf Rm 8,14-16) Este Espírito configura a verdadeira identidade de filhos de Deus. O apóstolo experimenta essa realidade de maneira muito forte, enchendo-o de uma confiança absoluta. Por isso ele exclama: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35-39) Paulo entende que essa união profunda sustenta a participação do cristão na morte e na vida do ressuscitado. Esta união se verifica pelo batismo, pela Ceia eucarística, pela participação na paixão e participação na vida do ressuscitado.
A experiência do batismo, prática das primeiras comunidades, é a experiência de penitência e renúncia ao pecado para receber o dom do Espírito Santo. Paulo fala da riqueza desse rito, Rm 6,3-13, como uma consagração ao Mestre, vinculando o discípulo. Por isso, o mergulho do batismo é imagem de um sepultamento. É Deus operando para a conquista de uma vida nova, realidade ontológica que será acompanhada de novos costumes, excluindo o pecado.
A comunhão na Ceia eucarística, longe de toda idolatria, é a prova da experiência de profunda intimidade e proximidade do cristão de Cristo. Ele exemplifica: “Não sabeis que aquele que se une a uma prostituta torna-se com ela um só corpo? Mas quem adere ao Senhor torna-se com ele um só espírito.” (Rm 6,16-17) Esta união com o Senhor na Ceia tem, pois, uma importância fundamental e determinante. É um contato físico, real com o corpo e o sangue do Senhor, garantindo uma profunda união com ele.
A comunhão na Paixão de Cristo é muito forte na teologia Paulina. Ele enfrenta muitas dificuldades que são apontadas como fraquezas no seu ministério e na sua vida apostólica, os ataques dos judaizantes na defesa da lei, a atitude dos coríntios e outros pecados nas igrejas. Ele compreende e focaliza o sentido da participação dos sofrimentos de Cristo. A participação nesses sofrimentos garante a conquista da ressurreição. A ressurreição é a vida dilatada na alegria. A vida de Cristo se manifesta no seu corpo e no seu ministério. É o Espírito que faz experimentar a vida de Cristo no discípulo.
A Comunhão em Cristo, Hino ( Fl 2, 1-11 )
¹Se, portanto, existe algum conforto em Cristo, alguma consolação no amor, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, ²completai a minha alegria, deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a unidade. ³Nada façais por ambição ou van-glória, mas, com humildade, cada um considere os outros como superiores a si 4e não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros.
5Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus.
6Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa e agarrar o ser igual a Deus, 7mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano, E encontrando em aspecto humano, 8humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte – e morte de cruz!
9Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, 10para que, em o Nome de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e abaixo da terra, 11e toda língua confesse: “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai.
Súplica pela comunidade e hino Cl 1, 15-20 )
15Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, 16pois é nele que foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e os invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo foi criado através dele e para ele.
17Ele existe antes de todas as coisas e nele todas as coisas têm consistência .
18Ele é a Cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio, Primogênito dentre os mortos, de sorte que em tudo tem a primazia.
19Pois Deus quis fazer habitar nele toda a plenitude 20e, por ele, reconciliar consigo todos os seres, tanto na terra como no céu, estabelendo a paz, por meio dele, por seu sangue derramado na cruz
Saudação e hino ( Ef 1, 3-14 )
3Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda benção espiritual nos céus, em Cristo.
4Nele, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor.
5Conforme o desígnio benevolente de sua vontade, ele nos predestinou à doação como filhos, por obra de Jesus Cristo, 6para o louvor de sua graça gloriosa, com que nos agraciou no seu bem-amado. 7Nele, e por seu sangue, obtemos a redenção e recebemos o perdão de nossas faltas, segundo a riqueza da graça, 8que Deus derramou profusamente em nós, abrindo-nos para toda a sabedoria e inteligência.
9Ele nos fez conhecer o mistério de sua vontade, segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, 10para realizá-lo na plenitude dos tempos: recapitular tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra.
11Em Cristo, segundo o propósito daquele que opera tudo de acordo com a decisão de sua vontade, fomos feitos seus herdeiros, predestinados 12 a ser, para louvor da sua glória, os primeiros a pôr em Cristo nossa esperança.
13Nele, também vós ouvistes a palavra da verdade, a Boa-Nova da vossa salvação. Nele acreditastes e recebestes a marca do Espírito Santo prometido, 14que é a garantia da nossa herança, até o resgate completo e definitivo, para louvor da sua glória.