Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

 

No caminho da fé, pelo compromisso do batismo, todos nós somos chamados pelo Senhor Jesus para sermos discípulos e missionários, com a missão de evangelizar e sermos evangelizados, pela palavra de Deus e pela força do Espírito Santo.

“A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-lo cada vez mais. Com efeito, um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de a apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria? Se não sentimos o desejo intenso de comunicar Jesus, precisamos nos deter em oração para Lhe pedir que volte a cativar-nos” (EG 264).

Costuma-se dizer que cada época tem os seus profetas, que são reconhecidos com o passar do tempo, e, muitas vezes, depois que já não estão entre nós. O povo de Deus, na sua caminhada histórica, foi marcado por períodos de grande fervor e fidelidade ao Senhor, mas também por tempos de apatia espiritual e infidelidade. Mas Deus, Pai misericordioso, não o abandonou. E para reconduzir o povo à fidelidade da aliança, enviou profetas, que ele mesmo escolheu entre o povo, envolvendo-os com o seu Espírito, e deste mesmo Espírito recebiam a força para dizer aquilo que deviam dizer, custe o que custar. Não tinham por objetivo o consenso, não faziam campanha eleitoral para si e se guiavam principalmente pela fidelidade à palavra de Deus. Mantinham-se firmes na verdade, mesmo quando no horizonte vislumbravam a incompreensão, que depois se tornava rejeição e perseguição, que procurava por todos os meios fazê-los silenciar, tirando-lhes até a própria vida.

Quando a humanidade é privada dos profetas ou das profecias, prevalece o oportunismo, que é sinal de uma grande pobreza, mesmo se vivendo em tempo de grande bem estar. Historicamente os profetas praticamente nunca foram amados pelas instituições. No geral, foram apenas suportados, marginalizados, martirizados e reabilitados depois de mortos. Jesus, o Filho amado do Pai, lê os acontecimentos de sua vida à luz da sorte dos profetas. A sua acolhida gera entusiasmo num primeiro momento, depois se transforma em aversão a Ele e a todos aqueles que o seguem. Mas as pessoas percebem que ele não tem nada a ver com um charlatão oportunista, e encontram nele a autoridade que procuram em quem tem papel de responsabilidade, mas não a exerce em favor do povo. Por isso, nasce no povo a percepção de que Jesus é muito mais que um profeta, porque não fala no lugar de Deus, nele fala o próprio Deus.

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