1. No prosseguir dos trabalhos desta V Conferência Geral será a nossa guia o que nos disse ontem o Santo Padre, a quem dirigimos o nosso pensamento afetuoso e agradecido.
Estamos agradecidos ao Santo Padre por ter convocado esta Conferência; lhe agradecemos por ter vindo a Aparecida; lhe agradecemos pelos riquíssimos ensinamentos que nos deu. As linhas-guia indicadas nas palavras do Santo Padre as teremos muito em consideração durante o nosso trabalho, buscando aproveitar o melhor possível os seus ensinamentos.
Depois do discurso pontifício, tão rico no seu conteúdo, é supérfluo da minha parte um discurso introdutório. Vou me limitar somente, por isso, a ilustrar a lógica que deve inspirar e guiar os nossos pensamentos, as nossas intervenções e as nossas contribuições. Considero que essa lógica não possa ser outra que a consciencia de que todos nós fomos chamados a viver uma experiência de Igreja e a contribuir em um evento importante para o futuro da América Latina. Por essa razão, desejamos nestes dias agir em atitude de escuta dócil às inspirações do Senhor e participar neste evento com um espírito de comunhão entre nós e de serviço à Igreja e a sociedade da América Latina e do Caribe. Pesa sobre nós a grave e grata responsabilidade de Pastores que têm a tarefa de guiar as Igrejas particulares in Persona Christi Capitis.
Um único critério deve conduzir-nos: o amor sem limites a Cristo, à Igreja e ao povo da América Latina. Este amor deve gerar um grande espírito de comunhão.
a) Comunhão com Deus: Os momentos de oração que foram cuidadosamente preparados são momentos essenciais para exprimir a nossa experiência de Igreja e para que nos ajudem a ser dóceis ao Espírito na “obediência da fé” (cfr. São Paulo)
Assim como na primitiva comunidade cristã os grandes eventos, alegres ou difíceis, eram vividos em comunhão de oração (At 2, 42; 4,23-31), também esta V Conferência está acompanhada das orações da Igreja de Deus que peregrina no “Continente da Esperança”: Bispos, presbíteros, paróquias, comunidades contemplativas, comunidades religiosas, famílias, leigos, acompanham os nossos encontros de Aparecida com a sua oração.
b) Comunhão entre nós e união sob a guia do Santo Padre: Não se trata só de uma relação de cortesia, porque queremos ser – usando uma acertada expressão do Servo de Deus João Paulo II – “casa e escola de comunhão”, convencidos que “ubi caritas et amor Deus ibi est”.
A lógica da comunhão eclesial nos deve levar a uma justa consideração da verdade contida nas opiniões dos outros, mesmo quando forem diferentes das nossas. Neste sentido, devemos distanciar-nos das etiquetas e dos slogans, escolhendo como único critério o amor a Cristo e a Igreja. Na vida da Igreja o bem de um deve ser o bem de todos e o sofrimento de um deve ser o sofrimento de todos.
c) Comunhão com os nossos irmãos e irmãs da América Latina: Nos nossos corações estarão presentes nestes dias as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de todos os homens e mulheres que vivem neste Continente Latino-americano. Nós nos sentimos próximos aos graves problemas dos pobres, dos que sofrem, daqueles que têm fome e sede material e, ainda mais, daqueles que têm fome e sede de Deus.
2. O documento de “Sintese”, que reúne as contribuições em preparação a este encontro oferecido pelos países da América Latina e do Caribe, sob a guia de seus Pastores, contém uma ampla gama de reflexões, de análise, de idéias. Esta ampla gama representa certamente para nós uma riqueza, mas também o risco de querer tocar todos os temas e, consequentemente, perder-nos numa excessiva vastidão de análise em detrimento de uma síntese eficaz, que leve à conclusões compartilhadas e práticas, destinadas a incidir no futuro.
Gostaria por tanto sugerir fazer o esforço de aprofundar nas diferentes questões tendo sempre presente o tema desta Conferência: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nEle os nossos povos tenham vida – Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida- (Jo 14, 6)”.
É um tema central da nossa fé católica e da nossa vida cristã.
Ser discípulos significa seguir a Cristo, escutá-lo, aceitar a sua Palavra, que é Palavra de vida eterna; significa considerar Jesus Cristo o único verdadeiro modelo no qual nos inspiramos e viver na obediência da fé.
Significa, em outras palavras, levar Cristo a sério, fundar a própria vida sobre a roca da Palavra de Deus e nutrir a própria fé com a Eucaristia.
O discípulo de Cristo vive um verdadeiro amor à Igreja, fundada pelo mesmo Cristo para a nossa salvação e considera a participação na assembléia eucarística do Dia do Senhor como um compromisso ao qual não se pode nunca faltar.
O discípulo de Cristo, além disso, está atento aos irmãos, é solidário e sensível com os pobres, respeitoso de todos, promotor da justiça e da bondade e colaborador na edificação de uma sociedade mais humana.
Ser missionários significa anunciar Cristo, dá-lo a conhecer e amar, testemunhá-lo na vida cotidiana com coerência, com clareza, com humildade, com alegria e com valentia. Significa anunciá-lo na fidelidade e na integralidade de cada um dos seus ensinamentos, tal e como são custodiados e ensinados pela Igreja. Devemos anuciá-lo pessoalmente, mas também como comunidade eclesial, participando na celebração dos mistério da salvação na oração litúrgica como a celebra a Igreja guiada pelo Vigário de Cristo.
O ser discípulo e o ser missionário estão em interconexão vital, de tal modo que, no nosso caso, ser discípulo leva a ser missionário no anúncio de Cristo em América Latina e no Caribe, de hoje e de amanhã, enfrentando os problemas à luz de Cristo, luz das nações.
O fato de que o tema desta Conferencia concentre a atenção sobre as pessoas, considerando-as individualmente, ou seja, em cada um dos batizados, é, considero, uma decisão correta.
3. Assim como as precedentes quatro Conferências Gerais contribuiram realmente para o bem da América Latina, assim também, esta V Conferência deverá ser um sinal forte e uma luminosa orientação para o futuro, na situação cheia de desafios que este Continente se prepara para enfrentar.
O Episcopado latino-americano quis a realização desta Conferência Geral, que – como sabemos – é uma realidade típica da América Latina. Cada um de nós deve sentir, perante Deus e perante a sociedade, a responsabilidade de dar a sua contribuição pessoal para construir o futuro deste Continente sobre bases sólidas, que tenham o próprio fundamento na lei escrita por Deus no coração dos homens e nos valores da fé cristã, que são o patrimônio mais valioso que tem a América Latina e o Caribe.
Cada um de nós deve ter nestes dias em alta consideração a própria responsabilidade e a própria tarefa perante a situação da vida cristã no Continente. Juntos buscaremos escrutar os sinais dos tempos e iluminar com a sabedoria do Evangelho as situações e a realidade religiosa, cultural, social, econômica, etc, de hoje.
Nesta época de grandes mudanças, de globalização e de secularização, os desafios são imensos, porém também é muito grande a potencialidade de bem na América Latina e no Caribe.
Por alguns aspectos, esta V Conferência se desenvolve em um clima e em um contexto mais favorável respeito a algumas das anteriores. Por outros aspectos, porém, devemos reconhecer que se está produzindo uma erosão no substrato cultural católico da América Latina e um rápido e preocupante crecimento das seitas, que não podem deixar-nos indiferentes.
Impõe-se, por tanto, a necessidade de reforçar a fé, de consolidar a fé, de consolidar a própria identidade, de defender a dignidade de cada pessoa humana, de amparar as famílias e de ajudar os pobres. Este é o momento de uma presença mais ativa dos católicos como fiéis discípulos de Cristo. Uma presença animada pelo espírito missionário que compromete na evangelização e no testemunho, redescobrindo a Palavra de Deus como luz, como força e como guia, para encontrar soluções aos problemas e às situações peculiares da América Latina e do Caribe.
Numa sociedade ferida pelas tensões provocadas pelas graves injustiças e pelas enormes desigualdades sociais, econômicas e culturais que clamam ao céu, os povos da América Latina e o Caribe devem reencontrar a própria força, integrando-se em Cristo, Caminho, Verdade e Vida, como seus discípulos e missionários, fiéis a Deus e atentos às necessidades dos homens de hoje.
O anúncio de Cristo e do seu Evangelho é também um anúncio de promoção humana para todos, anúncio de desenvolvimento e de progresso.
Só seguindo Cristo e aceitando os seus ensinamentos é possível encontrar os caminhos e os critérios adequados para construir o futuro na justiça e na unidade, para construir a civilização do amor e da paz.
Esta V Conferência Geral, em sintonia com as quatro Conferências anteriores e buscando colocar em prática a Exortação Apostólica do Servo de Deus João Paulo II “Ecclesia in America”, e da Encíclica de Bento XVI “Deus Caritas est”, deve ajudar a América Latina e o Caribe a “recomeçar a partir de Cristo”, de acordo com o programa indicado pelo recordado Papa João Paulo II ao início do Terceiro Milênio, ou seja, abrir a Cristo as portas do coração das pessoas e de todas as dimensões da vida pessoal e da vida social.“
Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). Esta certeza deve ser a força inspiradora da nossa atividade durante a Conferência. Nossa Senhora Aparecida acompanhe os nossos passos nestes dias.
Ajudem-nos também todos os Santos e Beatos da América Latina. Particularmente neste momento no qual há um debilitamento da vivência dos valores cristãos, indiquem-nos o caminho as extraordinárias figuras dos Bispos Santo Toribio de Mogrovejo, São Ezequiel Moreno e São Rafael Guizar e Valencia, que foram grandes evangelizadores deste Continente.