Diversidade sexual na Escola

Dom Eduardo Benes
Arcebispo de Sorocaba (SP)

Compreendo ser esta uma questão delicada. Imagino o sofrimento de muitos adolescentes em suas próprias famílias, rejeitados quando apresentam sinais de identidade sexual mal definida. Devem, em primeiro lugar, receber o amor que é devido aos filhos. Em contexto de amor devem ser ajudados a encontrarem o caminho de sua própria realização como seres humanos descobrindo-se como pessoas e filhos(as) de Deus, aprendendo a lidar com suas tendências e dificuldades afetivo-sexuais.

Discordo, entretanto, totalmente das medidas “educativas” que o MEC pretende adotar para combater a homofobia. Dentre essas medidas está um vídeo em que um jovem, de nome André, fisiológica e biologicamente do sexo masculino, narra sua luta “semi-dramática” para firmar-se como Bianca, nome de sua atriz preferida. Tal vídeo fará parte do material didático para “inculturar” uma diversidade sexual que colocaria no mesmo pé de igualdade comportamentos hetero e homossexuais, ou homo-afetivos, com suas variantes culturais (travestismo, gaysmo, transexismo, bissexualismo). No caso trata-se da situação específica de um jovem que se sente portador de uma identidade feminina. Ele reclama de não poder usar a “toillete” das meninas e muito lhe desagrada ter seu nome masculino na lista de chamada da Escola.

A homossexualidade é um fenômeno complexo que diz respeito à identidade da pessoa. Penso não ofender o moço em questão – penso não tê-lo ofendido por chamá-lo “moço” – se afirmar que ter os caracteres masculinos do ponto de vista fisiológico e biológico e, desenvolver, do ponto de vista psicológico, uma auto-imagem – identidade – feminina, é ser portador de dolorosa contradição. O mesmo se diga da mulher. É tão verdade que há aqueles que se submetem a cirurgia para alterar a própria fisiologia sexual. Há, porém os que tentam, através de recursos analíticos, e também religiosos, retomarem suas raízes masculinas – ou femininas quando se trata de moças – e se harmonizarem com a fala de seu próprio corpo.

Educar é ajudar o educando a encontrar sua identidade profunda. O pressuposto de uma natural diversidade sexual, além daquela que a natureza testemunha, não pode fazer parte do ideal da educação, sobretudo porque está em jogo o conceito de matrimônio e de família. Outra é a questão de como abordar a problemática de modo que os jovens aprendam a lidar com a sexualidade de forma construtiva, eticamente responsável, aprendendo também a aceitar as próprias dificuldades bem como a respeitar as condições existenciais do outro, quaisquer que sejam. É importante distinguir homossexualidade de homossexualismo. Homossexualidade é uma condição sobre a qual a pessoa quase sempre não tem responsabilidade, enquanto que homossexualismo se refere ao comportamento sexual vivido.

A moral cristã propõe como forma humanizante de lidar com a sexualidade a virtude da castidade pela qual o sexo se inscreve no horizonte do amor. Nesse sentido seria discriminação considerar a pessoa com tendência homossexual incapaz de autodomínio, reduzindo-a à sua própria tendência. Para o cristão, também para o filósofo pagão, Aristóteles, o caminho da felicidade é a virtude, que consiste na ordenação dos impulsos pelo império da reta razão.

A pessoa humana é mais que sexo e aqueles que se contêm sexualmente, podem descobrir formas de relacionamento mais profundas, pela plena maturação de sua afetividade, universalizando sua capacidade de amar. Por fim, levo ao leitor as considerações do Papa João Paulo II, em que ele coloca no rol da “nova ideologia do mal”, junto com o aborto, as tentativas de dar dignidade de matrimônio aos pares homossexuais. Em sua obra “Memória e Identidade, “João Paulo II, ao falar da “nova ideologia do mal”, refere-se primeiro à “negação legal de seres humanos gerados, porém ainda não nascidos”, por parte de parlamentos europeus, “em que as pessoas se reportam ao avanço civil das sociedades e da humanidade toda”. No mesmo contexto coloca como expressão da “nova ideologia do mal” o reconhecimento legal de uniões homossexuais, com apoio decisivo do parlamento europeu, como forma nova e legítima de família, incluído “o direito de adotar crianças”. Há poucas semanas, ouvimos a notícia de que um par de homossexuais, nos Estados Unidos, já alugou uma barriga feminina para a gestação do bebê que será o filho da “nova família”. O Homossexualismo – a palavra o diz, veja o leitor que inexiste a palavra heterossexualismo – viola, afirma João Paulo II, as “esferas dos bens da união, da complementaridade entre homem e mulher e do horizonte de sentido da procriação, aos quais a sexualidade humana está ligada. Em favor de um comportamento avesso à natureza e contrário ao sentido da sexualidade humana, não se pode reivindicar nenhum direito humano”.

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