Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

 

Sempre no Segundo Domingo da Páscoa celebramos o dia da “Divina Misericórdia”, aquilo que de fato o Senhor é “misericórdia”, ainda mais nesse tempo em que estamos atravessando com essa pandemia do Corona Vírus precisamos confiar muito na misericórdia do Senhor por todos nós. A misericórdia do Senhor por nós é infinita, prova disso é ele ter ressuscitado e vencido a morte e dando-nos o testemunho de que, como ele ressuscitou nós também iremos ressuscitar para a vida eterna.

Ele também nos deu o exemplo de misericórdia em vida, amando até o fim os seus e nos ensinando o mandamento do amor. Na última ceia ele lava os pés dos discípulos em sinal de amor, de doação pelo outro e assim nós devemos fazer também. Ele nos olha com o olhar de Deus, com olhar de ternura e compaixão, e sobretudo de misericórdia.

O Evangelho do domingo da misericórdia(cf. Jo 20,19-31) nos narra o encontro de Jesus com os apóstolos oito Dias após a ressurreição, eles ficam como que com medo espantados e parecem não acreditar no que estão vendo, mas Jesus diz “Não Temais sou eu” e lhes mostra as mãos e o lado. Tomé que era um dos doze não estava presente nesse momento e os discípulos lhe contaram depois que o Senhor esteve com eles e Tomé não acredita. Oito dias depois Jesus aparece novamente para os Apóstolos e Tomé estava com eles, e Jesus após desejar a paz a todos, diz a Tomé “toque nas minhas mãos e no meu lado, não sejas incrédulo, mas fiel”, e Tomé se prostra aos pés do Senhor e lhe dirige uma bela expressão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”. E Jesus lhe diz “Acreditaste porque me vistes, feliz daqueles que acreditaram sem terem visto, não seja incrédulo, mas fiel”.

Neste Evangelho vemos que é necessário acreditar sempre, por mais difícil que seja a situação que estamos passando, e que a misericórdia do Senhor é infinita por nós. E Tomé nos dá um belo testemunho de Fé, na presença de Jesus. Aprendemos também que não precisamos ver para crer, mas que a misericórdia do Senhor continua presente na nossa vida por meio do Espírito Santo que ele nos dá, por meio da Eucaristia que nos alimenta. Ele nos deu essa prova de amor na última ceia e a certeza de que não nos deixaria órfãos, mas continuaria presente na nossa vida.

Segundo a nossa devoção popular e aquilo que nos ensinou o Magistério da Igreja, temos a “oração da Divina Misericórdia”, normalmente rezada todos os dias as três horas da tarde, pedindo justamente a misericórdia infinita do Senhor por nós e pelo mundo inteiro. Convido a você rezar quando puder essa oração do terço da divina misericórdia, ainda mais nesse tempo atual que estamos atravessando, pedindo a misericórdia do Senhor para enfrentarmos essa pandemia.

Por isso a Igreja sempre no segundo Domingo da Páscoa celebra o Domingo da Divina Misericórdia, celebração que foi instituída pelo saudoso Papa São João Paulo II no ano 2000 em ocasião pela canonização de Santa Faustina que via a imagem de Jesus misericordioso tal como foi retratada na imagem que vemos hoje. Nesta celebração também é concedida a “indulgência plenária”, ou seja, o perdão dos pecados. O Papa São João Paulo II queria que as pessoas sentissem a experiência da misericórdia do Senhor, por meio do Espírito Santo, o perdão dos pecados, e pudessem alimentar uma caridade com Deus e o próximo, se sentindo perdoados por Deus e assim perdoando o seu próximo.

Se quisermos experimentar a misericórdia do Senhor devemos participar da celebração da “Divina misericórdia”, recebermos de Deus o perdão e a misericórdia e podemos espalhar para os outros. Neste momento é tão oportuno, é tão necessário experimentarmos da misericórdia D’Ele e que essa misericórdia seja espalhada pelo mundo todo, se cada um for na Igreja, receber de Deus a misericórdia e espalhar essa misericórdia aos demais, essa misericórdia se espalhará pelo Mundo e passaremos por esses momentos difíceis e o amor superará a guerra.

O Papa Francisco no Regina Coeli deste domingo dará “Benção” direto da Biblioteca Apostólica(de maneira excepcional por causa da pandemia) suplicando justamente que a misericórdia de Deus supere todos as barreiras da guerra e do ódio. E que possamos passar por este momento difícil que assola o mundo com a epidemia da Covid-19, para que que tenhamos fé e esperança na misericórdia do Senhor que vamos sair vitoriosos de mais essa batalha.

Enquanto nos debruçamos sobre a misericórdia divina, somos também desafiados a fazermos da misericórdia uma das nossas virtudes cotidianas.  São João Paulo II dizia que “a mentalidade contemporânea tende a tirar do coração humano a idéia da misericórdia”. Em seu lugar, prefere a palavra “justiça”, que muitas vezes é usada como sinônimo de “vingança”. É o que se percebe em algumas manifestações populares onde a racionalidade cede lugar ao ódio.

São João Paulo II prega que “o amor se transforma em misericórdia quando vai além da norma exata da justiça; norma precisa e, muitas vezes, por demais restrita”. É o que Jesus propõe ao dizer que são “felizes os misericordiosos” porque também eles “encontrarão misericórdia” (Mt 5,7).

Portanto meus irmãos com essas palavras inspiradoras para nós do Papa São João Paulo II, participemos com alegria da festa da Divina Misericórdia, celebrando sobretudo essa misericórdia na nossa vida. E que da nossa vida ela seja derramada para o mundo.

 

 

 

 

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