Ao longo da história, a investigação teológica esteve unida à missão evangelizadora da Igreja como resposta ao desígnio de Deus, que “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”
(1Tm 2,4). O aprofundamento da palavra de Deus contida na Escritura inspirada e transmitida pela Tradição viva da Igreja enriquece, com efeito, todo o povo de Deus , “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt 5,13ss). A teologia mostra-se ainda mais importante em tempos, como o nosso, de grandes mudanças culturais e espirituais, que exigem respostas adequadas e novas soluções.
A investigação teológica, por outro lado, tem sua raiz na acolhida da revelação cristã transmitida e interpretada pela Igreja sob a autoridade do Magistério. O exercício do Magistério não é algo extrínseco à verdade cristã e à fé, mas um elemento constitutivo desta mesma missão profética da Igreja.
Nesta perspectiva de colaboração, a Congregação para a Doutrina da Fé, cuja tarefa é propriamente a de “promover e tutelar a doutrina da fé e os costumes em todo o mundo católico” (Pastor bonus, n. 48), decidiu reunir em um só volume todos os seus documentos mais significativos, a partir de 1966. Trata-se de intervenções magisteriais que, refutando objeções e deformações da fé ou propondo com autoridade novos aprofundamentos da doutrina revelada, acompanham e ajudam na investigação teológica.
Diante das novas questões e propostas teológicas, é oportuno não somente determo-nos no conjunto dos problemas delineados, como também oferecer elementos úteis para superar as dificuldades encontradas na investigação e no anúncio da verdade divina. Não é suficiente denunciar o erro; torna-se necessário recorrer aos testemunhos da tradição e a outros elementos da fé cristã que podem iluminar o caminho. Não se trata de substituir os teólogos nem de propor uma teologia particular como única e normativa, mas de repropor elementos não levados em conta, porém indispensáveis para elaborar uma teologia católica pura. Quando se trata de assuntos discutíveis, as intervenções da Congregação para a Doutrina da Fé limitam-se a indicar o que é incompatível com a fé católica e expressar positiva e sucintamente as motivações que as justificam.
Os Documentos pretendem facilitar o esforço dos teólogos em dar respostas adequadas às questões sempre novas que surgem na cultura contemporânea. Estes Documentos são um serviço à fé, seja para salvá-la de erros e de ambiguidades que obscurecem ou inclusive alteram pontos essenciais de seu patrimônio, seja para promover uma compreensão mais profunda na fidelidade e na continuidade com a Tradição eclesial. Este serviço abre a inteligência dos crentes, libertando-a do risco de desvios e de parcialidade, para orientá-la na correta direção da compreensão plena da Revelação divina. Neste sentido, os Documentos representam também um serviço à caridade, já que a “salus animarum”, fruto do amor transbordante de Deus Pai oferecido à família humana por seu Filho e nosso irmão Jesus, vale mais que qualquer outra coisa para a Igreja. É precisamente a “salus animarum” que exige, como condição essencial, o anúncio e a defesa da verdade revelada.
Sendo a Congregação para a Doutrina da Fé o órgão auxiliar junto ao Romano Pontífice, com o encargo específico e único de promover e tutelar em todo o mundo católico a doutrina sobre a fé e os costumes (cf. Pastor bonus, n. 48), consequentemente seus Documentos, expressamente aprovados pelo Papa, participam do Magistério ordinário do sucessor de Pedro (cf. Donum veritatis, n. 18).
Em um contexto, como o atual, de uma sociedade sempre mais multireligiosa e multicultural, a Igreja adverte com urgência a necessidade de manifestar corajosamente sua identidade doutrinal e testemunhar na caridade sua fé firme em Jesus Cristo, fonte de verdade e de salvação. Os presentes Documentos pretendem, portanto, reafirmar determinadas verdades da fé e da doutrina católica, precisando assim as seguras bases doutrinais para conservar a integridade do depósito da fé.
À luz do exposto, este volume apresenta-se como uma ajuda útil a todos, pastores, teólogos, pesquisadores, estudantes e simples fiéis, que queiram aprofundar o anúncio revelado e aderirem à verdade que é Cristo, e que constitui o verdadeiro espaço da liberdade humana. De fato, somente Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
Roma, 14 de setembro de 2006
William Joseph Card. Levada
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé