Dom Agnelo Rossi e dom José da Costa: tempos delicados à frente da CNBB

Dom Agnelo Rossi e dom José Gonçalves da Costa eram, respectivamente, o presidente e o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no período de 1964 a 1968. Eleitos durante o Concílio Vaticano II, na primeira Assembleia Geral da entidade realizada fora do Brasil, passaram por um dos períodos mais delicados da história da entidade.

A Igreja passava pelo mais importante processo de mudanças dos últimos séculos, quando teve um novo olhar sobre sua missão e realizou mudanças significativas na maneira em que está presente no mundo. No Brasil, o medo do comunismo fez com que a sociedade e a própria Igreja apoiassem o golpe cívico-militar de 1964. A CNBB, ainda jovem, definia estatutos e pensava em planos pastorais para o Brasil.

Foto: CNBB Centro-Oeste/reprodução – Concílio Ecumênico Vaticano II ocorreu de 1962 a 1965

Em 1965, o papa Paulo VI ao abrir a última sessão do Concílio Vaticano II afirmou que a convocação do encontro dos bispos “despertou a consciência plena da nossa vocação e da nossa missão, pôs em movimento forças latentes em nós e incendiou em nossas almas o espírito de profecia, próprio da Igreja de Deus”.

A eleição de dom Agnelo e dom José Gonçalves da Costa aconteceu durante a 6ª Assembleia Geral da CNBB, realizada em Roma, entre os meses de setembro e novembro de 1964. Uma vez que os bispos se dirigiram ao Vaticano para as sessões do Concílio, a Assembleia da entidade foi realizada ali mesmo com a pauta sobre a Reforma de pontos dos Estatutos e avaliação-síntese do Plano de Emergência para a mobilização geral da Igreja no Brasil, cuja reflexão havia sido iniciada em 1962.

Nas assembleias seguintes – uma realizada ainda em Roma e as seguintes em Aparecida (SP), 1967, e no Rio de Janeiro (RJ), 1968, – os bispos procederam à aprovação definitiva dos novos estatutos da CNBB, do plano Pastoral de conjunto para o Brasil e do projeto de descentralização da CNBB. Na assembleia realizada na capital fluminense, a pauta foi “a missão da Igreja na atual situação demográfica, socioeconômica, política e cultural do país e a Evangelização face à situação da fé do nosso povo”.

Golpe militar
A história considera “decisiva” a participação de setores da Igreja Católica na organização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em São Paulo contra o governo de João Goulart, no dia 19 de março de 1964. A própria CNBB, na declaração “Por tempos novos, com liberdade e democracia”, assumiu que, “no início, setores da Igreja apoiaram as movimentações que resultaram na chamada ‘revolução’, com vistas a combater o comunismo”, mas também destaca que a Igreja “não se omitiu diante da repressão tão logo constatou que os métodos usados pelos novos detentores do poder não respeitavam a dignidade da pessoa humana e seus direitos”.

Em 1963, antes de ser eleito presidente da CNBB, dom Agnelo Rossi foi signatário de uma carta de um grupo de bispos e arcebispos solicitando que os assistentes eclesiásticos da Ação Católica Brasileira, da qual esteve envolvido desde 1939, “formassem a consciência dos militantes no ensino autêntico da Igreja e de sua doutrina social”, conservando-se afastados de “certas correntes ideológicas em voga nos meios do laicato”, no caso, o comunismo.

Foto: CNBB/CDI – Dom Agnelo Rossi foi o terceiro presidente da CNBB

Ação pastoral
Presidente da conferência de 27 de setembro de 1964 a 18 de julho de 1968 e depois de reeleito até 13 de fevereiro de 1971, dom Agnelo Rossi nasceu em Joaquim Egídio, no município de Campinas (SP), em 4 de maio de 1913. Estudou no seminário diocesano de Campinas até o início da Teologia. Em 1934, transferiu-se para o Pontifício Colégio Pio-Brasileiro, em Roma, onde recebeu a matrícula de número 1 no novo colégio. Também estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Em 1937 foi ordenado sacerdote na basílica de São João de Latrão.

Foi eleito bispo de Barra do Piraí (RJ), em março de 1956, sendo ordenado na catedral de Campinas. Tomou posse em sua diocese em maio do mesmo ano. Ali, empenhou-se na construção de um seminário interdiocesano para a região da Baixada Fluminense, na organização da diocese de Nova Iguaçu (RJ) e na dinamização da catequese popular, trabalhando ainda pela renovação e o aumento do clero de congregações religiosas e de líderes leigos. Foi pioneiro na experiência em âmbito diocesano do que seria conhecido no futuro como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Em 1960, foi designado delegado do episcopado brasileiro no Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).

Em 1962 foi nomeado arcebispo de Ribeirão Preto. Dois ano mais tarde, começa o mandato como presidente da CNBB. Em novembro daquele ano, o papa Paulo VI o escolhe como arcebispo de São Paulo (SP), onde criou estruturas de formação e desenvolvimento de atividades pastorais, além de paróquias e regiões episcopais. Em fevereiro de 1965, no consistório presidido pelo papa Paulo VI, foi elevado ao cardinalato.

Durante o período de sua presidência, após o apoio inicial, acentuou-se o conflito entre a Igreja e o governo, que se vinha desenvolvendo desde a implantação do regime militar em 1964. Foram os vice-presidentes dom Avelar Brandão Vilela e dom Geraldo de Moraes Penido.

Secretário
Nascido em Belo Horizonte (MG), em 27 de abril de 1914, dom José Gonçalves da Costa formou-se no Seminário Menor dos padres redentoristas, em Congonhas (MG). Filosofia e Teologia foram cursadas na Holanda.

Foto: Catedral de Niterói/reprodução – Dom José Gonçalves da Costa, secretário-geral da CNBB de 1964 a 1968

Sua trajetória episcopal iniciou em 19 de agosto de 1962, quando foi ordenado na capital mineira, após sua nomeação como bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), aos 26 de junho daquele ano. Após o período como secretário-geral da CNBB (1964 a 1968), foi bispo diocesano de Presidente Prudente (SP), entre fevereiro de 1970 e setembro de 1975), e arcebispo de Niterói (RJ), a partir de então.

Na arquidiocese fluminense, tomou medidas marcantes na ação da Igreja particular, como o estabelecimento das Diretrizes Pastorais, a direção espiritual dos Cursilhos de Cristandade e a promoção do projeto “Acompanhamento Pastoral do Crescimento Demográfico“, com assistência mais efetiva às regiões desprovidas de locais de culto, na construção de capelas rurais. Além disso, promoveu a construção de “Centros Comunitários”, criou o Instituto Arquidiocesano de Promoção do Menor, duplicou o número de Sacerdotes na arquidiocese e realizou durante sete anos a Feira de Integração Comunitária.

Sua renúncia foi aceita em 1990 pelo papa João Paulo II. Faleceu em 2001, aos 87 anos de idade.

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