No contexto de Regime Militar, Dom Agnelo Rossi se manteve fiel ao Santo Padre

O golpe que lançou o Brasil em 21 anos de regime militar abarcou, especialmente, o período em que o cardeal Agnelo Rossi foi reeleito à presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1968. Foi durante este ano que o conflito entre a Igreja e o Estado tomou proporções estratosféricas, fazendo com que o episcopado brasileiro se pronunciasse, inclusive, por meio de um documento oficial no qual sugeria reformas, apelava à não-violência e denunciava a falta de liberdade.

Diante das circunstâncias, dom Agnelo Rossi assumia posição decisiva na contestação da conjuntura do país, o grande exemplo disso foi o ato de recusar a Medalha da Ordem Nacional do Mérito, oferecida pelo então Presidente da República, Artur da Costa e Silva. Na época, por meio de nota oficial, a Igreja explicou que o cardeal agiu por razões pastorais, mas os críticos enxergavam o episódio como um gesto de pressão moral sobre o governo.

Ainda no mesmo ano, a presidência da CNBB publicou um manifesto em que, ao mesmo tempo que condenava a subversão, solidarizava-se com os bispos, padres e leigos, “vítimas de incompreensão e injustiça no comprimento do trabalho apostólico”. A postura da entidade por muitos foi considerada representativa.

Com o apoio de dom Agnelo Rossi, em maio de 1969, foi lançado em São Paulo um movimento contra padres que “estavam indo de encontro à ordem vigente”. Na ocasião, foi impulsionado um manifesto que ressaltava a necessidade de obediência à hierarquia da Igreja.

Foi ainda durante o seu mandato como presidente da CNBB que houve o rejeite do episcopado brasileiro a um documento básico sobre a relação entre a Igreja e o Estado no Brasil. Na opinião dos observadores, o resultado expressivo representou a vitória da ala conservadora da Igreja, com adesão de parte do episcopado considerado moderado.

Já no início do governo Médici, em 1969, a CNBB representada por membros especiais em reunião ordinária aprovou, por unanimidade, um documento que manifestava preocupação pelo crescimento dos conflitos ideológicos do período, principalmente pela instituição do Ato Institucional 14, que entre outras coisas estabelecia a pena de morte em casos específicos. No documento, a entidade sublinhava que era “indispensável que o Brasil retornasse à normalidade jurídica, mediante uma constituição capaz de consultar os reais interesses e anseios nacionais”.

Em 1970, dom Agnelo foi nomeado prefeito da Sagrada Congregação para Evangelização dos Povos, tornando-se o primeiro bispo a exercer tal função. Em 1971 assumiu a presidência da CNBB, dom Aluísio Lorscheider, o então secretário-geral da entidade.

Secretário

Na foto, dom Aloisio Lorscheider. Crédito: CNBB/CDI

Aloísio Lorscheider nasceu no município de Estrela (RS), no dia 8 de outubro de 1924. Aos nove anos, ingressou no seminário franciscano de Taquari (RS), onde fez seus primeiros estudos. Mais tarde foi para o convento franciscano de Divinópolis (MG), onde estudou teologia e concluiu o curso de filosofia. Em agosto de 1948 foi ordenado sacerdote da Ordem dos Frades Menores de São Francisco. Retornou em seguida a Taquari, onde lecionou latim, alemão e matemática.

Em 1949 foi enviado para Roma por seus superiores, tendo feito o doutorado em teologia dogmática no Pontifício Ateneu Antonianum. De volta a Taquari em 1952, foi mais tarde transferido para Divinópolis. No final de 1958 foi convidado para lecionar teologia dogmática no Antonianum, em Roma. Encontrava-se na Santa Sé quando, em fevereiro de 1962, foi nomeado bispo de Santo Ângelo (RS).

Dom Aluísio foi eleito secretário-geral da CNBB em 1968. Assim como dom Agnelo assumiu o cargo em um momento conturbado da vida política brasileira. No governo Médici, em 1969, com a intensificação da repressão, alguns sacerdotes foram presos por serem considerados ‘subversivos’, um deles era dom Aluísio.

Lorscheider ficou preso durante quatro horas. O ocorrido motivou a criação de um fórum para discussão de temas como censura e repressão. A atividade foi proposta pelo então secretário-geral da Seção Brasileira da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, atualmente Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP).

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