Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 

Caros Irmãos e queridas Irmãs, amantes da Sagrada Escritura. Estamos novamente no Mês da Bíblia e queremos manifestar-lhe toda nossa reverência, sobretudo, porque ela contém a Palavra de Deus. Na pessoa de Jesus Cristo a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós (cf. Jo1, 14). Por isso a Igreja desde os seus primórdios considerou a Palavra de Deus como um grande tesouro e a venerou de igual forma como o próprio Corpo do Senhor, ainda que não lhe prestasse igual valor de culto, especialmente em certas épocas (cf. OLM 10). Afirma o Concílio Vaticano II: “A Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo o pão da vida e o distribui aos fiéis…” (DV 21).

Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Verbum Domini” o Papa Bento XVI nos propõe uma redescoberta da Palavra de Deus na Vida e Missão da Igreja, especialmente como fonte de constante renovação e forma de encontro com o Senhor, além de animação de toda atividade eclesial (VD 1). O mesmo Pontífice acentua que a Palavra encarnada é alguém, que tem rosto e continua a comunicar-se: “Fala aos homens como a amigos e convive com eles, para convidá-los e admiti-los à comunhão com Ele” (VD 6). E afirma magistralmente, mais adiante: “O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (VD 12). A Igreja se edifica e cresce ao escutar a Palavra de Deus; os prodígios que de muitas formas Deus realizou na história da salvação tornam-se novamente presentes e atuantes nos sinais da celebração litúrgica, de um modo misterioso, mas real. (cf. OLM 7).

Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Verbum Domini” o mesmo Santo Padre chega a usar a expressão “sacramentalidade da Palavra de Deus” para acentuar a presença de Cristo na Palavra proclamada nas celebrações litúrgicas, de modo análogo ao da eucaristia (cf. VD 56). De forma semelhante já pensavam os Santos Padres. São Jerônimo afirma: “Quando vamos receber o Mistério [eucarístico], se cair uma migalha sentimo-nos perdidos. E, quando estamos a escutar a Palavra de Deus e nos é derramada nos ouvidos a Palavra de Deus que é carne de Cristo e seu sangue, se nos distrairmos com outra coisa, não incorremos em grande perigo?” (VD 56).

Portanto, a Palavra de Deus foi, é e será criadora e regeneradora em todos os tempos. Ela é viva, eficaz, eterna e fiel (Is 55,10-11; Hbr 4, 12; I Pdr 1, 23; I Tes 5, 24). Ela recria constantemente a pessoa humana e o mundo com sua história. Ela sai do livro e entra na vida. Ela é poder e força criadora de Deus que se dirige pessoalmente a cada um e para toda a comunidade, sob a ação do Espírito Santo.

Como Igreja – Povo de Deus – nós somos convidados a ser “casa da Palavra”, especialmente na liturgia sagrada: “Esta constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde” (VD 52). Que o mês da Bíblia nos ajude para encontrar na Palavra divina uma constante fonte de renovação da vida cristã e, sobretudo, aconteça o encontro com Jesus Cristo através da Palavra celebrada e acolhida em nossa vida.

 

 

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