Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

 

O tempo, enquanto corre para frente, em busca de um futuro cada vez mais promissor e de um bem estar cada vez mais universal, se volta também e sempre, de novo, para trás em busca de suas raízes, pois sem elas se corre e constrói em vão.

Ao longo dos séculos não faltaram homens que se dedicaram à reflexão sobre o tempo e os desafios que apresenta.

A reflexão bíblica destacou o valor do tempo: não se trata de repetição monótona de eventos cíclicos, mas de uma realidade que possui profundo significado sagrado.

A sensibilidade contemporânea compreende a existência humana como “um estar no tempo”. O indivíduo, situado no presente, faz memória do passado e prenuncia o futuro.

O presente de todo indivíduo está grávido do passado e voltado para o porvir, atento ao devir, projetado para o futuro.

O tempo litúrgico que precede o Natal, resgata fatos que precederam a história salvífica e que atingem, com o nascimento de Cristo, a plenitude dos tempos. É um tempo no qual a comunidade de fé é chamada a se preparar para a solenidade do Natal, quando se celebra o evento de um Deus que se deixou envolver pelos panos da fragilidade humana, e, ao mesmo tempo, é oportunidade, por meio dessa celebração, alimentar a expectativa da segunda vinda
de Cristo.

Compreende-se, assim, por que esse tempo de advento confronta-nos com questões existências: quem somos? Onde nos encontramos? Deixamo-nos atingir pelas questões essenciais que caracterizam a existência humana? O mistério do Natal incide sobre o nosso viver e conviver? A ternura, o cuidado, a acolhida do diferente de mim, a solidariedade ainda encontram lugar na sociedade contemporânea?

Os discípulos e discípulas de Jesus de Nazaré, o filho de Maria e de José, combatem a ideologia do mundo, não com a violência, mas com a palavra da verdade, com a couraça da justiça e com a oração constante. Neste sentido espiritual, os cristãos constituem, como sempre, no tempo, uma Igreja combatente.

A expectativa da segunda vinda do Senhor, alimenta a esperança. Ora, a esperança “semeia começos” (Mounier), inaugura processos no tempo. Como, pois, não recordar a afirmação do Papa Francisco de que o tempo é superior ao espaço? A superação de uma visão estática da realidade para uma visão processual parece produzir, para alguns, dificuldades.

Natal é celebração de um Deus que sempre e de novo, no tempo, vem ao encontro de cada pessoa humana!

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