Os pobres nossos irmãos

Joel Portella Amado
Secretário Geral da CNBB

 

Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco tem manifestado de forma incisiva a evangélica preocupação pelos pobres. Em 2017, no desejo de quebrar o gelo da indiferença, instituiu a Jornada Mundial dos Pobres, no plural mesmo, para que os pobres não sejam uma abstração, porém vistos como de fato são: rostos, histórias, pessoas, vidas.

Desde a primeira Jornada, o Papa tem chamado a atenção para a indiferença de uma sociedade que corre o grande risco de se acostumar com a pobreza. Por isso, a cada ano, sempre no dia de Santo Antônio – e podemos dizer Santo Antônio dos Pobres – o Papa envia uma mensagem que ajuda pessoas e entidades a prepararem a Jornada a acontecer alguns meses depois, mais exatamente em novembro. Podemos dizer que, em todas as mensagens existe um destaque: olhar o pobre, ouvir o pobre, socorrer o pobre, pois Deus olha, escuta e socorre o pobre.

Esse ano, o Papa escolheu um texto bíblico muito especial tirado do livro do Eclesiástico também conhecido como Ben Sirac: “Estende a tua mão ao pobre” (7, 32). Com esse versículo, o Papa nos recorda que o coração da sabedoria adquirida ao longo da vida consiste no reconhecimento de que nenhum de nós é o centro do mundo, mas, ao contrário, existem muitos irmãos e irmãs sofrendo bastante. Com um texto do Antigo Testamento, o Papa nos recorda a condição inseparável entre o amor a Deus e o amor ao próximo e que o amor ao próximo se manifesta de modo mais intenso quando ajudamos a quem precisa. O Papa não separa a oração da prática da caridade, mas, com outras palavras, indica que a caridade é um dos maiores frutos da autêntica oração.

Em segundo lugar, o Papa Francisco nos lembra que a “atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados” (nº 3). O amor a Deus na pessoa dos pobres deve ser prioridade, colocada em prática o mais intensamente possível. “Os pobres – lembra-nos o Papa – estão e sempre estarão conosco para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia” (nº 3).

Por isso, somos convocados a nos deixar interpelar pela presença dos pobres onde quer que estejamos e, deixando de lado acomodações, preconceitos e justificativas, praticar o amor, servir na caridade. Podemos não ter as soluções definitivas para as situações de pobreza nem ter os recursos de que precisaríamos para efetivamente sanar as sequelas da pobreza. Temos, porém, a generosidade, fruto da graça de Deus em nós. Deixemo-nos, portanto, conduzir pela generosa fraternidade e façamos o que está ao nosso alcance em favor dos pobres, junto com os pobres, em louvor ao Deus dos pobres.

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