Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
O Papa Leão exprimiu num sermão de Natal: “Hoje, posso começar de novo, pois Deus nasceu em mim como criança”. De veras, o Natal nos leva às nossas origens, ao nascimento, ao despertar a vida humana, à primeira respiração. Deus, na sua infinita bondade, nos permite recomeçar, reinventar a nossa vida no contato com o Menino Jesus. O destacado pintor, Pablo Picasso, dizia que voltar a ser criança leva tempo.
Sem querer, ele se referia à terapia natalina de reconstruir a nossa criança interior, fazendo renascer nossa capacidade de sonhar um mundo novo, de libertar-nos de condicionamentos que tiram nossa espontaneidade e não nos deixam sermos nós mesmos. A nossa criança interior precisa de ser curada, pois, como afirma John Bradshaw, todos trazemos uma criança ferida, com sentimentos e expectativas negadas e reprimidas.
Mas, o Natal nos encaminha para a criança divina, imagem do melhor de nós mesmos, espelhos da pertença à vida do próprio Deus em nós. Isto significa resgatar a inocência, a confiança, e a verdadeira identidade de filhos de Deus. O Natal nos devolve a estatura e a vocação com a qual nascemos chamados sempre ao amor e à comunhão. Não deixemos o espírito secular e materialista acabar com nossos ideais e anseios de um mundo melhor, mais justo e fraterno.
O presépio é o nosso verdadeiro lugar, como berço e nascedouro de um homem novo e de uma mulher nova, que recria e torna possível o paraíso na família, na vizinhança, na cidade e na Terra inteira. Viver e anunciar um feliz natal depende da nossa abertura para celebrar o novo, de voltar a sermos crianças no olhar e no agir de pessoas que se descobrem filhas do Pai misericordioso e compassivo, irmãos de todos e de todas, cuidadores e guardiões de toda a Criação.
Que neste Natal possamos abraçar a criança divina que palpita em nós a partir do glorioso Nascimento de Cristo o Salvador. Deus seja louvado!