Dom Wilmar Santin, bispo prelado de Itaituba (PA), foi o convidado do meeting point (oportunidade de contato com os bispos por meio de abordagens temáticas adicionais à programação oficial da Assembleia da CNBB) desta sexta-feira, 3 de maio.
Com o tema “Novos ministérios na realidade amazônica – rumo ao Sínodo 2019”, dom Wilmar abordou questões relativas ao Sínodo dos Bispos sobre a Pan-Amazônia, convocado pelo Papa Francisco em outubro de 2017 e que acontecerá em outubro deste ano, envolvendo a Igreja dos nove países que compõem a região.
O ponto central do assunto se refere à necessidade da existência dos ministérios leigos na Amazônia, justamente pela falta de ministros ordenados numa região com extensa área geográfica e longa distância entre as localidades, normalmente de difícil acesso.
“O tema dos ministérios é fundamental na Igreja em toda a Amazônia, pela falta de ministros ordenados, o que faz com que os leigos participem”, afirmou o Bispo Prelado de Itaituba.
Documento da CNBB – O documento 62 da CNBB, intitulado “Missão e ministério dos cristãos leigos e leigas”, de 1999, trata exatamente das novas formas de atuação laical, em cooperação com as atividades eclesiais. Segundo dom Wilmar, há quatro tipos de ministérios previstos: o reconhecido, o confiado, o instituído e o ordenado.
– reconhecido: é aquele que existe como serviço para a comunidade e que não tem um rito próprio de instituição.;
– confiado: quando já se tem um gesto litúrgico simples ou uma forma canônica, como os Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, com mandato oficial, feito dentro da missa, sendo que o bispo ou o padre aceita enviar determinada pessoa como ministro.
– instituído: função conferida pela Igreja por meio do chamado rito de instituição, como o acolitato e o leitorado.
– ordenados: são os três graus previstos no sacramento da Ordem: diaconato, presbiterado e episcopado.
Fundamento bíblico – Dom Wilmar relembrou que a Sagrada Escritura mostra, no relato do livro dos Atos dos Apóstolos, que o primeiro ministério a ser instituído pela comunidade foi o diaconato, no episódio em que se percebeu que as viúvas gregas não estavam recebendo a devida atenção e, por isso, escolheram sete homens para ajudar a lhes dar a assistência necessária.
“Sobretudo após o Concílio Vaticano II é que se colocou ênfase no ministério dos leigos, uma igreja toda ministerial, com ministros da liturgia, da Palavra, do batismo, das exéquias, do matrimônio, entre outros, como parte integrante das várias comunidades. A origem de todo ministério é sempre o Espírito Santo, que suscita carismas e pessoas para algum serviço, não sendo, no entanto, algo para proveito próprio mas sim para o bem da comunidade, como afirma São Paulo no capitulo 12 de sua carta aos Coríntios”, relembrou D. Wilmar.
Experiência amazônica – Segundo o bispo, há alguns anos, numa das reuniões do clero de Itaituba, no Pará, questionou-se por que os padres não têm condições de dar a assistência pastoral e espiritual que deveriam. O religioso conta que chegaram à conclusão de que o número de padres é reduzidíssimo, com muitas comunidades a serem atendidas, distâncias imensas e estradas e acessos em péssimo estado.
“Assim, havia a necessidade de se ter leigos que desempenhassem bem sua função e decidiu-se que a ênfase seria formar bons ministros da Palavra entre os índios da etnia mundurucu, numa localidade em que vivem 14 mil deles, no Alto Tapajós, divisa com o Mato Grosso”, informou o bispo.
O bispo conta que após quatro anos de formação, em novembro de 2017, instituiu 24 ministros da Palavra (20 homens e 4 mulheres) e, em março deste ano, coincidentemente mais 24 (5 mulheres e 19 homens). “Isso me remete ao relato de Atos, capítulo 2, quando os apóstolos começaram oficialmente a pregação no dia de Pentecostes e o povo dizia: ‘nós ouvimos as maravilhas de Deus em nossa própria língua’”, disse. Ele orgulha-se de hoje ter 48 ministros da Palavra, que celebram em sua própria língua nativa. O próximo, segundo dom Wilmar, será preparar ministros do Batismo e do Matrimônio.
Por fim, dom Wilmar afirmou que a ideia de um dia ter ministros ordenados indígenas recebeu do Papa Francisco a seguinte resposta: ‘Vocês, da Amazônia, têm uma missão muito grande de dar uma demonstração ao mundo de que é possível usufruir das riquezas da Amazônia sem destruir’. Então, lutar para preservar a Amazônia não é ser contra o governo e sim ser a favor da casa comum, a favor do povo e a favor do Brasil”, concluiu.
Por padre José Ferreira Filho