Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
O Papa Francisco, atendendo a inúmeras solicitações de todo o mundo, instituiu, com a Carta Apostólica Aperuit illis, o Domingo da Palavra de Deus a ser celebrado todos os anos no terceiro domingo do Tempo Comum, para celebrar, refletir e divulgar a Palavra de Deus (Aperuit illis, 3).
A carta Aperuit illis foi assinada pelo Papa Francisco, no dia 30 de setembro de 2019, memória de São Jerônimo, dia em que se começou a celebrar 1600º aniversário de morte do doutor das Escrituras. Foi ele quem afirmou: “Desconhecer as Escrituras é desconhecer Cristo”.
Ademais, os evangelhos deste domingo, nos três ciclos litúrgicos (A, B e C), relatam o início do ministério público daquele que ao mesmo tempo é o mediador e mensagem, Jesus, o Verbo feito carne (cf. Jo 1,4).
O Santo Padre já tinha manifestado no fim do Ano Santo da Misericórdia o seu desejo de que “a Palavra de Deus seja cada vez mais conhecida, celebrada e difundida” (Misericordia et misera, 7). Nesta mesma Carta Apostólica, com a qual encerrou o Jubileu Extraordinário, o Papa Francisco desejava que “toda a comunidade, em um domingo do ano litúrgico, pudesse renovar o empenho pela difusão, pelo conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura, um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a inexaurível riqueza que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo” (Misericordia et misera, 7).
Cabe, portanto, a cada realidade local, encontrar formas adequadas e eficazes para viver, da melhor forma possível, esse domingo, fazendo “crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as Sagradas Escrituras, tal como ensinava o autor sagrado já nos tempos antigos: “Esta palavra está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares’ (Dt 30,14)” (Aperuit illis, 15).
Algumas pistas são oferecidas pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização às quais somamos iniciativas próprias da nossa realidade: valorizar o lugar da Palavra na celebração litúrgica; familiarizar-se com os livros da Palavra na liturgia: o lecionário e o evangeliário; acolher a Palavra (evangeliário) na procissão de entrada, trazida por um diácono e depositada sobre o altar até a sua proclamação ou deposta num pequeno trono que sublinhe a sua centralidade, como foi feito no Concílio Ecumênico Vaticano II; valorizar a proclamação da Palavra e capacitar os seus proclamadores; cantar o salmo, valorizar a bênção com o evangeliário, dada depois da proclamação do Evangelho e acolhida num silencio orante, acompanhado pelo sinal da cruz; expressar veneração à Palavra após a sua proclamação, expondo o evangeliário à veneração dos fiéis, que pode ser expressa por um beijo, um toque, uma inclinação, um canto ou mesmo um aplauso; entregar ritualmente a Bíblia aos fiéis que não a possuem, estimulando-os a ler, a escutar nela a Palavra de Deus e a transmiti-la, ou ainda aos catequistas que neste ano exercerão este ministério da Palavra; promover um tempo de oração com a Leitura Orante da Bíblia; incentivar a escuta e a entronização da Bíblia nas famílias; realizar gincanas bíblicas com os coroinhas, acólitos e crianças, adolescentes e jovens da catequese e dos grupos de jovens; convidar as comunidades cristãs separadas para partilhar uma celebração da Palavra; promover a leitura contínua do evangelho durante um período de tempo na Igreja ou na praça, com bons leitores, locutores locais, pessoas de renome etc; encontrar os grupos de círculo bíblico para motivação missionária, a partir da importância do encontro ao redor da Palavra; por fim, começar iniciativas que envolvam a Palavra de Deus e possam se prolongar ao longo do ano e da vida da comunidade.
Nesta linha de proximidade prática da Palavra de Deus, vale a pena lembrar que com a Carta Apostólica Misericordia et misera, o Papa Francisco instituiu, também, o Dia Mundial dos Pobres, celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, domingo anterior à Solenidade de Cristo, Rei do universo.
Que o ano de 2022 seja o ano da escuta e prática da palavra de Deus!
