Educação: palavras e exemplos

João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros

 

É maravilhoso observar o processo de aprendizagem de uma criança. Ela vai, pouco a pouco, entrando na cultura e assimilando, junto com sua linguagem, uma visão do mundo, da realidade, das pessoas, visão sempre eivada dos valores que permeiam o tecido das relações. Este processo dura por toda a vida. Não há tempo em que o ser humano não possa aprender, do nascer ao morrer. Essa é a condição de quem não é onisciente, e está sempre como discente na escola da história.

Essa condição de aprendizado permanente se torna mais grave e urgente quando vivemos numa sociedade que parece passar por um processo de “deseducação”, ou seja, que tem perdido referenciais, linguagem, gestos que garantem a respeitosa convivência e o sentido do outro. Ao mesmo tempo em que se defende o respeito à diversidade, contraditoriamente, crescem a intolerância e o desrespeito às diferenças. Nas redes sociais e nas ruas, não poucas vezes, nos deparamos com agressões de toda ordem. O lado mais doentio e perverso das pessoas ganha publicidade e o descaso com a vida, com a verdade e com a justiça são naturalizados. Até mesmo pessoas de grande expressão pública, lamentavelmente, já não se preocupam com o que representam e significam para a sociedade. Descontroem a imagem que são chamados a representar, desconsiderando a ritualidade das funções sociais. Não pouco dos que governam, ou legislam ou julgam, desempenham suas funções voltados para seus próprios interesses, negando dessa forma, irresponsavelmente, o sentido de sua função pública.

Urge, pois, a recuperação do aprendizado das virtudes sociais que nos permitem conviver respeitosamente com todos e todas. A família é um espaço fundamental para esta educação que prepara para a cidadania. Com Papa Francisco, recordamos a importância da família onde “se cultivam os primeiros hábitos de amor e de cuidado com a vida”, “pequenos gestos de sincera cortesia que ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia” (Laudato Sì, 213). A educação formal há de dar sua contribuição própria alicerçada em projetos que se inspirem no humanismo integral e no sonho da construção de uma civilização do amor, assim como postulavam os santos papas Paulo VI e João Paulo II.

Uma contribuição de grande valia precisa ser dada pelos que participam da construção da sociedade em lugares de visibilidade e, portanto, de exemplaridade. Considerem-se todos como educadores: magistrados, governantes, políticos, artistas, empresários, comunicadores, religiosos, professores, militares, profissionais liberais, entre tantos outros. Na vida social, palavras e exemplos são modos eficazes de educação. Por isso, não basta ensinar “moral e cívica” nas escolas, se os adultos que estão à frente das principais instituições da sociedade se comportarem na contramão da moralidade, da ética e da civilidade. Na escola da história nenhum de nós recebe nota máxima. Antes, todos nós temos sempre algo a recuperar. Chegou o tempo de nós adultos revisarmos nossas atitudes e comportamentos para verificar o quanto do caos social é de nossa responsabilidade pessoal. Para quem nutre esperanças, há tempo de ser diferente… por palavras e por exemplos.

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