Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta

 

Ao iniciarmos, no dia 02 de dezembro, o Advento, tempo de espera e preparação para a celebração do Natal de Jesus Cristo, assim reza a liturgia: “Transmiti aos povos este anúncio: eis que vem Deus, o nosso Salvador” (Vésperas do 1º Dom. do Advento). De fato, a liturgia nos recorda o que em todos os tempos Deus é e faz: sai de si e vem ao nosso encontro, vem morar conosco. Faz parte da natureza de Deus comunicar-se e manifestar seu amor. Claro, isto acontece de muitos modos, mas aquele que marca definitivamente a humanidade e o próprio Deus é a encarnação do seu Filho, enviado ao mundo, acolhido no seio da Virgem Maria e “habitou entre nós” (Jo 1,14). “Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho (Hb 1, 1-2a). Advento, portanto, é Deus que vem.

No decorrer deste curto tempo de preparação para o Natal, misturado com tantas outras ocupações e preocupações pela chegada do fim de ano, é preciso logo tomar consciência desta realidade. “Ressoa como um apelo saudável, na repetição dos dias, das semanas e dos meses: Acorda! Acorda que Deus vem! Não ontem, nem amanhã, mas hoje, agora! […] Não é um Deus que está no céu, desinteressado por nós e pala nossa história, mas é o Deus-que-vem. É um Pai que nunca cessa de pensar em nós e, no respeito extremo pela nossa liberdade, deseja encontrar-nos e visitar-nos; quer vir, habitar no meio de nós, permanecer conosco” (Bento XVI, 02/12/2006). Ao mesmo tempo em que é o grande presente para nossa vida, pede que haja acolhida consciente em cada um de nós, que lhe demos o lugar central de nossa vida e no mundo.

Cuidemos, permanecemos vigilantes, para que não aconteça que “o Senhor nos encontre dormindo quando ele chegar” (Mc 13,36). Interessante que Deus não nos envia um presente para nos agradar, porque nos ama muito. Não, ele mesmo é o presente. E, por que Ele mesmo vem a nós? Vem para manifestar o seu grande amor por nós e para nos salvar. A história bíblica, com Maria, José, o anjos, os pastores, Isabel e Zacarias nos indicam que Deus vem de maneira muito discreta. Deus não precisa dos muitos ruídos para vir a nós, mas do silêncio para experimentar sua presença. “O Advento nos convida e estimula a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria porventura, a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria acaso ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma “visita”, um modo como Ele pode vir ter conosco e estar ao lado em cada situação?” (Bento XVI, 28/11/2009).

Advento é tempo de alegria. Que alegria maior pode haver do que sermos visitados pelo próprio Deus, embora como o centurião romano digamos: “Eu não sou digno que entres em minha casa” (Lc 7,6). Mas, também, é tempo de espera. Neste mundo em que somos tão impacientes, eduquemo-nos para esperar. O tempo da espera nos torna sensíveis para o encontro daquele que vem. Esperar é, também, planejar: como será minha preparação para o Natal? Esperar ajuda-nos a focar no essencial, não se perder em coisas periféricas: oração, solidariedade com os mais pobres, sobriedade nas festividades, grupos de famílias, uma boa confissão e, claro, não haverá Natal sem a missa festiva. Os símbolos natalinos que devem estar na nossa casa, também nos ajudam a esperar. Enfim, diz o Senhor: “Eis que eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, eu entrarei e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Vem, Senhor Jesus!

 

Tags:

leia também