O profeta Isaías fala para se olhar o futuro e esquecer o passado (Cf. Isaías 43, 16-21). A novidade do que vem pela frente aguça o interesse de quem quer caminhar em vista de um futuro melhor. “Eis que eu farei coisas novas e que já estão surgindo” (Isaías 43, 19). Mas o futuro depende do presente! De nós! O que fazemos da vida e como a direcionamos? A Quaresma nos traz à tona a necessidade de darmos um rumo à nossa caminhada. O futuro depende de nós. Mas, baseando-nos apenas em nossas forças nos sentimos fracos e sem possibilidades de vencermos as barreiras de nossos limites pessoais e sociais. Há teses de auto-suficiência humana. A razão, a ciência, a economia, a tecnologia e a mídia seriam capazes de vencer todas as barreiras dos limites humanos. Seriam como um robô, sem vida. Até certo ponto, ele é capaz de agir. Mas, a sua dependência da programação humana, coloca-o cerceado dentro do finito da humanização.

Preparar o futuro da realização humana na história significa potencializar o labor humano com sua aquisição de desenvolvimento que o coloque no limiar de suas conquistas. Mas o triunfo da inteligência humana não é capaz de elevar o humano à categoria do divino. Sem Deus, o ser humano não consegue ir além de seus desejos. Na perspectiva do infinito, ele se projeta com humildade no reconhecimento da verdade de seus limites para dar o voo espacial ao infinito de Deus. Ele, o supra-humano, dá sentido à ânsia do Eterno. Procurando-O, o humano é capaz de perceber sua realização com Ele, o Transcendente.

O erro humano, quando perpassado do reconhecimento de sua verdade na fragilidade de seu ser, lança-o na certeza de que pode superar seus limites com a misericórdia daquele que lhe dá o perdão e o potencializa com sua ajuda. Isso se vê no caso da pecadora pública. Jesus a defendeu e perdoou, pois, encontrou nela quem se submeteu à avaliação da misericórdia do Mestre. “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?… Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais” (João 8, 10.11).

No lixo da vida de quem rasteja procurando sentido à caminhada, Deus faz surgir o sentido da vida. Afinal, ela vale não pelo ter no aspecto material, mas pelo ser da pessoa que encontra a razão de ser do próprio caminhar seguindo a proposta do Criador. Superamos os anti-valores quando somos capazes de rever nossas mazelas e viver com grandeza da dignidade de caráter. Aí somos estimulados a trabalhar pelo bem de cada ser humano, a partir dos mais fragilizados e deixados de lado, para percebermos que a vida vale para servirmos à causa da promoção da dignidade humana. Todo o poder, o ter e o prazer buscados como finalidade deixam o ser humano no lixo de sua pequenez. Ao contrário, quando usados devidamente para o servido à vida, tornam a vida humana repleta de riqueza de sentido.

Em Cristo, cuja ressurreição celebramos na Páscoa, baseamos nossa fé que nos faz superar os limites da matéria e ir além das fronteiras de nossa pequenez. Vamos até à ressurreição. Tornamo-nos criaturas novas e somos também capazes de inocular em cada semelhante o amor que produz vida de sentido a todos.

Dom José Alberto Moura

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