Com um olhar pastoral comprometido com o futuro do planeta e dos povos da América Latina, o arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Jaime Spengler, foi conviado a participar do colóquio internacional “Transições justas: o papel da Igreja na construção de uma visão latino-americana de um desenvolvimento social, econômico e ambientalmente sustentável”, realizado na quarta-feira, 11 de junho, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

Também presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), dom Jaime ofereceu uma importante palestra que mobilizou e reafirmou o papel da Igreja como uma voz que denuncia injustiças e anuncia esperanças em tempos de crise climática e desigualdade social.

“O tempo presente parece indicar que o mundo que nos acolhe está se desmoronando”, advertiu o cardeal, conclamando a uma “mudança estrutural urgente” em favor dos mais pobres e da criação.

Uma voz que não se cala

Dom Jaime foi enfático ao dizer que a Igreja não pode permanecer neutra nem distante diante da destruição ambiental e da exploração de comunidades vulneráveis. Inspirado pela Encíclica Laudato si’ do Papa Francisco – cujo décimo aniversário foi lembrado no evento –, ele denunciou soluções ambientais “de fachada” que reduzem a natureza a um ativo financeiro, ignorando sua essência como dom sagrado e base da vida.

Ao lado do reitor da Universidade Gregoriana, padre Mark Lewis, e o vice-ministro colombiano Mauricio Jaramillo Jassir, dom Jaime reforçou a necessidade de resistir ao modelo extrativista e ao consumismo desenfreado.

Em sua fala, destacou cinco caminhos essenciais para uma transição justa: sobriedade, educação ecológica, fortalecimento comunitário, diálogo com a ciência e cultivo de narrativas de esperança.

“Todos nós somos chamados a cuidar e cultivar a casa comum. A qualidade de vida das novas gerações depende de nossas decisões de hoje”, afirmou com vigor.

Igreja em saída: presença e compromisso

O evento, promovido pela Embaixada da Colômbia junto à Santa Sé pelos 190 anos de relações diplomáticas entre os dois Estados, reuniu acadêmicos, autoridades e representantes eclesiais com um objetivo claro: pensar soluções reais e sustentáveis para os desafios da América Latina, tendo como ponto de partida a escuta das comunidades e o respeito à dignidade humana.

Para dom Jaime, a transição ecológica precisa ser também uma transição espiritual, cultural e social, em que a Igreja se mantenha ao lado dos povos originários, da agricultura familiar e de todos os que lutam por justiça e sobrevivência.

Um apelo à ação global

Ao lado do cardeal Spengler, o padre Mark Lewis destacou o papel da universidade como espaço de formação integral e parceria ativa na construção de um mundo mais justo e sustentável. Já a teóloga Emilce Cuda lembrou que a proposta de uma “transição justa” é, acima de tudo, um compromisso de fé e de humanidade.

O colóquio também se insere no contexto da preparação para a COP30, que acontecerá em novembro no Brasil, reforçando a relevância do continente latino-americano no debate global sobre o futuro do planeta.

Com informações de Sebastián Sansón Ferrari / Vatican News