Empenho Eclesial a Serviço dos Deficientes Visuais – Uma Experiência no Brasil

Dom Vilson Dias de Oliveira
Bispo de Limeira (SP)

Dentre tantas experiências do serviço eclesial com cegos, trago uma da grande metrópole no sudeste brasileiro, na cidade de São Paulo, o “INTITUTO DE CEGOS PADRE CHICO”, entidade sem fins lucrativos que mantêm há 80 anos, uma Escola modelo de Ensino Fundamental, totalmente gratuita, em São Paulo, para Deficientes visuais e baixa visão, situada no Ipiranga, zona sul de São Paulo.

O Instituto de Cegos “Padre Chico” nasceu da generosidade dos corações paulistas que, em respostas ao apelo do Dr. José pereira Gomes, feito a 7 de Setembro de 1927, na reunião de comemoração à Semana Oftalmo-Neurológica da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, correram pressurosos em auxílio dos cegos, que em número cada vez crescente, viviam sem assistência social, completamente desamparados.

Tomando em grande consideração o apelo lançado, o Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo, encarregou uma comissão de senhoras para levar efeito à concretização de tão feliz idéia. Assim, em 7 de Outubro de 1927, Sua Excia. presidiu a primeira reunião onde expôs as bases da nova organização. A sociedade paulistana acorreu com auxílio ansiosamente esperado.

Apareceu o primeiro donativo de vulto. Dona Elza Paula de Souza ofereceu um terreno para construção do Edifício. Subordinou, porém, essa doação à denominação de “Padre Chico” a ser dada ao futuro Instituto, em memória do saudoso e venerando Mons. Francisco de Paula Rodrigues, figura eminente do Clero Paulista, falecido a 21 de junho de 1915. Endossando a condição de Dona Elza Paula de Souza, o Sr. Arcebispo determinou que assim seria denominada a Instituição em apreço.

Em 18 de fevereiro de 1928, recebeu o Instituto a doação de um terreno feita pelo Conde Dr. José Vicente de Azevedo no Ipiranga, onde já existia um Pavilhão com o nome de Dom Antonio de Alvarenga. Em 27 de maio de 1928 foi lançada a primeira pedra do novo estabelecimento e em 4 de novembro de 1929 lançou-se a primeira pedra da Igreja de Santana, oferecida por Dona Ana do Amaral Borges, onde guarda religiosamente os despojos mortais de Monsenhor Francisco de Paula Rodrigues – “Padre Chico”.

O Instituto inaugurado a 29 de novembro de 1929. A direção do Instituto de Cegos “Padre Chico” foi entregue às filhas da caridade de São Vicente de Paulo desde a sua fundação. O Instituto de Cegos “Padre Chico”, proporciona hoje aos seus assistidos o verdadeiro amparo social e a assistência cristã, constituindo uma das mais belas e significativas obras de benemerência e filantropia da Capital Bandeirante.

Escrita em Braile

Seu criador o francês Louis Braille que ficou cego aos três anos de idade vítima de um acidente seguido de oftalmia. Este sistema consta do arranjo de seis pontos em relevo, dispostos na vertical em duas colunas de três pontos cada. Os seis pontos formam o que se convencionou chamar “cela braille”.

A diferente disposição desses seis pontos permite a formação de 63 combinações ou símbolos Braille para anotações Científicas, música, estenografia. O Braille pode ser produzido por impressoras elétricas e computadorizadas; máquina de datilografia e, manualmente, através de reglete e punção.

Objetivos e Compromissos Educacionais

O objetivo é preparar e promover o deficiente visual e os portadores de baixa visão para sua integração na sociedade, através de um processo educacional, visando desenvolver, integralmente, a sua personalidade, orientando e levando-os ao conhecimento de seus direitos e deveres para com Deus, a Pátria e a Família.

São objetivos específicos da Escola de Ensino Fundamental do Instituto de Cegos “Padre Chico”:

I. Educar, habilitar e dar assistência ao deficiente visual.
II. Desenvolver programas de Orientação e Mobilidade, visando a independência do deficiente visual.
III. Integrar a informação e a orientação profissional no ensino geral, explorando aptidões, desenvolvendo habilidades, no sentido prático e orientando o educando na escolha entre oportunidade de trabalho e estudos posteriores.
IV. Levar o deficiente visual a conhecer suas capacidades e suas limitações.
Os objetivos do ensino fundamental deverão convergir para fins mais amplos da educação, estabelecidos pela Lei 9394 de 20/12/96.

Critérios para agrupamento de alunos e organização das turmas

A Escola mantém Curso de ensino fundamental, em regime de semi-internato e externato, no período diurno e em clientela mista. A escola oferece gratuitamente: ensino, atividades complementares, Alimentação, alojamento além dos demais serviços existentes na instituição.

A clientela da escola é constituída por deficientes visual portadores de cegueira e de baixa visão. Para iniciar a escolaridade, a criança deve estar na faixa etária de 05 a 14 anos tendo sido considerado, anteriormente, através de avaliação, apto a seguir a programação das classes de deficientes visuais. De inicio, a criança é encaminhada para uma das classes de Período Preparatório para que através de um intenso programa de utilização dos sentidos remanescentes possa compensar a carência de estímulos e conhecimentos puramente visuais.

O objetivo das classes do Período Preparatório e levar a criança até a Prontidão para a Alfabetização, utilizando farto e variado material psico-pedagógico com a finalidade de suprir as necessidades advindas da deficiência visual com o fim específico de oferecer condições adequadas para o desenvolvimento de habilidades básicas que são pré-requisitos para o processo ensino – aprendizagem.

Os alunos são agrupados levando em consideração:

a.    Idade
b.    Desenvolvimento das habilidades básicas
c.    Competência /Série
d.    As classes de Período Preparatório a 4° séries têm no máximo 12 (doze) alunos.
e.    As classes de 5ª a 8ª séries têm no máximo 15 (Quinze) alunos.

Recursos Humanos

O Corpo Docente é constituído de professores qualificados e habilitados, de acordo com a legislação vigente, e especializados em Deficientes Visuais ou treinados em serviço pela própria Instituição. Os Professores do Período Preparatório, 1ª a 8ª séries e técnicos da EEF Instituto de Cegos “Padre Chico” são habilitados nas diversas áreas de atuação, de acordo com a lei vigente, contratadas em regime da CLT e remunerados pela entidade mantenedora Instituto de Cegos “Padre Chico”. Os membros do Corpo Docente, através de suas funções e tarefas específicas, devem estar inseridos na filosofia educativa e no processo desenvolvido pela escola.

a.    Competência pedagógica (formação de educador, conhecimento do conteúdo e capacidade didática);
b.    Maturidade intelectual, efetiva e emocional no trato com os alunos e com as famílias;
c.    Coerência ética, moral e cívica.

A escola oferece cursos de atualização para seus professores e técnicos, assim como facilita a participação em encontros realizados na área de educação especial.

Recursos Materiais

As salas de aula são bem arejadas e iluminadas. Há inúmeras dependências como: sala do diretor, secretaria, sala de ciências, sala de material didático, biblioteca comum, biblioteca em braille, almoxarifado, sala de educação física, sala de Educação para o Lar, oficina de artes aplicadas, sala de informática, sala ambiente, sala dos professores, sala do coordenador pedagógico e do orientador educacional, sala de datilografia comum e Braille, sala de orientação e mobilidade, sala de estimulação precoce, sala de psicologia, pátio coberto, quadra para ginástica, piscina , salas para estudo e trabalhos manuais. No Instituto existem outras dependências como: lavanderia, rouparia, dormitórios, cozinha e copa, refeitório, farmácia, consultório médico, gabinete dentário, oftalmológico, banheiros, salas de música, salão de festa, sala de vídeo e som, piscina e vestiário, banheiros, Igreja, etc.

Transporte

Como esta escola recebe crianças de diversos municípios no entorno de São Paulo, hoje muitos prefeitos têm disponibilizado veículos para levar as crianças nesta escola, evitando assim transtornos que ocorriam no passado, onde muitos ainda utilizavam os transportes públicos.

Atividades

O Instituto de Cegos “Padre Chico” atende crianças cegas e baixa visão, matriculadas no Período Preparatório e no Ensino Fundamental e realiza também atividades extras. A criança ao chegar no Instituto, é encaminhada para uma triagem pedagógica, onde é feita uma ficha completa da sua vida desde a gestação, tais como: Estimulação Precoce; Escola de Ensino Fundamental; Período Preparatório; Informática; Datilografia; Comum e Braille; Educação Física ( Natação, Futebol e Goabol); Karate; Musicografia Braille; Banda; Violão; Teclado; Piano; Banda rítmica; Coral infantil e infanto-juvenil; Formação Religiosa; Atendimento: Odontológico, Psicológico, Fonoaudiológico, Fisioterapeutico, Coordenação Pedagógico, Orientação Educacional

Entrevista com Irmã Terezinha Jesus Sanches Gonçalves: TEMA CATEQUESE
Segundo o relato da religiosa que trabalha na escola há mais de 45 anos na escola vêm crianças de diversas religiões. Na catequese participa crianças católicas e de algumas outras denominações religiosas. Enquanto que as aulas de formação religiosa são abertas para todos.

Atualmente a escola conta com 230 crianças. Nela trabalham 6 religiosas, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. A Congregação está presente no local desde 1929. Nesta escola as crianças permanecem até o 9º ano de ensino, aprendem a ler e escrever o “Braille”. Há muitas crianças que são acompanhadas desde o 3º mês de vida. Aprendem a datilografar. Nas salas de informática os alunos entendem as letras pelo sistema de phono e têm boa compreensão.

De um lado vemos que nas paróquias nem sempre  os cegos são tratados no quesito de bom preparo para a vivência cristã: muitos recebem uma rapidíssima catequese e já recebem os sacramentos. Há também paróquias pelo bom zelo dos párocos e dos catequistas os cegos recebem boa formação catequética. Nesta escola, segundo o relato da religiosa, as crianças fazem um bom acompanhamento e são preparadas não somente para os sacramentos, mas para a vivência cristã, na Igreja e na sociedade.

Para as crianças que participam das equipes de liturgia nas paróquias, as religiosas desta escola entregam semanalmente os textos bíblicos, bem como o Salmo de meditação escritos em Braille. Assim as mesmas interagem nas suas próprias comunidades de origem, isto é, onde moram sua família e sua comunidade de fé.

Outro dado importante – Parcerias na informática

Hoje existe no Brasil uma parceria entre empresas de informática a destinação de fundos para aquisição de computadores para equipar escolas que prestam atendimento e capacitação aos deficientes visuais. Este programa inclusivo tem por objetivo incentivar a capacitação e a empregabilidade de deficientes visuais e que já contemplou mais de 99 entidades em 66 municípios do Brasil. Neste projeto 16 mil pessoas foram capacitadas e 1.600 já atuam no mercado de trabalho. O Instituto Pe. Chico foi um dos contemplados desta ajuda recebendo software de apoio a deficientes visuais no uso de computadores.

Em 2011 aconteceu no Brasil o IX Seminário de Cegos

No que se refere a denominada educação inclusiva, a despeito das dificuldades existentes, os últimos dados tem revelado a ampliação do número de pessoas com deficiência freqüentando o ensino comum. No caso das pessoas com deficiência visual, um dos grandes problemas vem sendo o acesso ao livro didático e as novas tecnologias que poderiam contribuir na apropriação do saber sistematizado, conhecimento este, indispensável para que o homem possa ampliar seu processo de humanização e atuar como agente transformador.

Foi com a finalidade de refletir sobre os problemas apontados que a ACADEVI/PEE/UNIOESTE promoveu, nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2011, o seu IX Seminário de Cegos, com o tema Necessidades, perspectivas e desafios para o trabalho, à educação e a auto-organização das pessoas com deficiência visual na atualidade.

Os números da cegueira no Brasil

Aumento da expectativa de vida elevou número de casos da doença que pode trazer perda financeira para o país. Mais de 3,7% dos brasileiros foram aposentados por invalidez e ficaram incapacitados para o trabalho em função de problemas no olho ou anexo nos últimos anos, de acordo com os dados do Ministério da Previdência Social. A deficiência visual severa é responsável pela grande quantidade de pessoas cegas com idade entre 30 e 75 anos de idade, período em que ele está economicamente ativo. Preocupado com essa realidade, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia lança o Programa de Incentivo à Educação do Paciente que tem como objetivo contribuir para a prevenção da cegueira e levar conceitos de saúde ocular para toda a população brasileira.

“A perda da visão também implica na redução da qualidade de vida, decorrente de restrições ocupacionais, econômicas, sociais e psicológicas. Para a sociedade, representa encargo oneroso e perda de força de trabalho. Essa condição incapacita o indivíduo, aumenta sua dependência, reduz sua condição social, sua autoridade dentro da família e da comunidade e o aposenta precocemente da vida”, avalia o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o médico Paulo Augusto de Arruda Melo.

A carga econômica da cegueira é significativa para o portador, para a família e para a sociedade, o que significa que o indivíduo deve apresentar uma boa capacidade visual para que possa desempenhar o seu papel na comunidade. A pessoa com baixa acuidade visual tem diminuição de sua autoestima, depressão, maior probabilidade de trauma por quedas, produtividade diminuída e acarreta gastos extras para a família, comunidade e Governo.

“Uma das principais preocupações é a catarata. Essa doença torna limitadas as pessoas que estão fisicamente bem. É um grande sofrimento para a pessoa, para a família e para a sociedade”, avalia o presidente do CBO. A catarata é considerada a principal causa de cegueira no Brasil e o impacto financeiro que essa doença traz é grande. Os custos diretos incluem o tratamento de doenças oculares, incluindo a parcela relevante de custos para a execução de serviços médicos e de serviços de saúde aliados, enquanto os custos indiretos incluem os ganhos perdidos – subsídios visuais, equipamentos, modificações em casa, reabilitação, bem estar e morte prematura por deficiência visual. Estudos recentes sugerem que a restauração da visão pela cirurgia de catarata produz benefícios econômicos e sociais para a família, para o indivíduo e para a sociedade e aumentam produtividade anual do paciente operado em cerca de 1500% do valor do custo da cirurgia.

O Programa de Incentivo à Educação do Paciente do CBO inclui um kit com material educativo e apresentações para realização de palestras por médicos oftalmologistas. Nele, há duas cartilhas com informações para a população sobre como evitar acidentes oculares mais comuns e sobre a importância dos cuidados com a visão nas diferentes fases da vida.

Nossa intenção é incentivar e potencializar a discussão do assunto com os pacientes como forma de prevenção e diagnóstico precoce da doença. Com isso, esperamos promover a atenção e conscientização da população quanto à importância das ações preventivas em doenças passíveis de controle e tratamento, com potencial de cegueira irreversível, como o glaucoma e retinopatia.

A iniciativa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) também tem como objetivo contribuir para reduzir drasticamente a cegueira evitável até o ano de 2020.

Números da Cegueira

• Dados do Ministério da Previdência Social – Mais de 72 mil pessoas, o que representa 3,7% da população, estavam aposentadas por problemas causados por transtorno da doença do olho e anexos – Setor Urbano. (Dados mais recentes – 2008).

• Cegueira no mundo – Estimada uma prevalência de 45 milhões de casos e uma incidência de novos casos de 3.000 por milhão de habitantes por ano.

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