A Cúpula dos Povos, o movimento mais importante em volta da COP30, encerrou suas atividades no domingo, 16 de novembro. Mais de 23.000 credenciados, de mais de 60 países, além de muitas pessoas que passaram nas diversas atividades realizadas na Universidade Federal do Pará (UFPA). Dentre eles diversas pastorais, movimentos e organismos da Igreja católica.

Compromisso da Igreja com os marginalizados
Uma presença da Igreja católica que o bispo da diocese de Brejo, no Maranhão, e presidente da Comissão para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom José Valdeci Santos Mendes, considera muito importante, “nesse sentido do testemunho, do compromisso com os marginalizados e marginalizadas”. No dia em que a Igreja católica celebrou a Jornada Mundial dos Pobres, o bispo enfatizou que “isso requer de nós um testemunho, um compromisso e uma luta pela vida. E eu diria que essa luta pela vida é luta pelo território livre dos povos, é luta pela dignidade, é luta pelo direito, é luta para que a justiça social, a justiça socioambiental seja de fato realizada no nosso meio”.
Dom Valdeci ressaltou que “as pastorais sociais, os organismos do povo de Deus têm esse compromisso grande de assumir a luta juntamente com os movimentos populares, com aqueles e aquelas que lutam por vida, vida humana e vida do Planeta”. Nessa perspectiva, quando o Brasil acolhe a COP30, o bispo insistiu em que “a Igreja católica precisa ouvir mais as comunidades tradicionais, os povos originários e aprender também, ter essa humildade de aprender também para que de fato possa cumprir o seu papel e testemunhar Cristo. Cristo que sofreu, Cristo que foi perseguido e assim também são os nossos povos e nossas comunidades”.
Finalmente, o bispo da diocese de Brejo, disse que “precisamos assumir cada vez mais, ouvindo o grito de tantos irmãos e irmãs que ainda hoje são torturados, são marginalizados. Precisamos dar esse passo no compromisso e fidelidade ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo”.
A voz de Raoni Metuktire
A Cúpula dos Povos contou com a presença de uma das maiores lideranças indígenas do Brasil e do mundo, Raoni Metuktire. O indígena do povo Kayapó, que foi recebido pelo Papa Francisco no Vaticano, pediu união entre todos, fazendo um apelo pela “continuidade para que possamos lutar contra aqueles que querem o mal neste universo, querem destruir esta terra”. Diante das mudanças climáticas, das guerras, ele pediu o respeito um pelo outro e poder viver em paz nessa terra. Junto com isso, o cacique Raoni pediu “dar continuidade nessa missão de poder defender a vida”.
O cacique do povo Kayapó chamou ao diálogo com as autoridades, com os estados, em vista de acabar com o desmatamento, o garimpo e a exploração da terra. Ele pediu proteção e cuidado para os povos indígenas, sobretudo na área da saúde. Finalmente, Raoni refletiu sobre as consequências das mudanças climáticas, advertindo sobre o caos muito grande que pode acontecer “se não tivermos a consciência de defender o que resta”.
Declaração da Cúpula e Carta das Infâncias
A Cúpula dos Povos elaborou uma declaração onde mostram sua disposição para assumir “a tarefa de construir um mundo justo e democrático, com bem viver para todas e todos”, ressaltando que “somos a unidade na diversidade”. O texto afirma que “não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidados”. Para isso apostam nos “intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade”. Um texto que analisa a realidade atual em sete pontos para depois fazer 15 propostas. Para avançar nesse caminho, fizeram um chamado a unificar forças mediante a organização dos povos.
Também foi apresentada a Carta das Infâncias na Cúpulas dos povos, que se reuniram em Belém (PA) para conversar sobre o clima. O texto denuncia o aumento da temperatura e suas consequências na vida das crianças. Elas afirmam que “Nós somos natureza, o planeta é natureza. A natureza é tudo!”, e pedem “um futuro bonito para viver”. Para isso “Temos que cuidar e proteger a AMAZÔNIA”, destacam as crianças, que fazem uma longa lista de propostas e exigências, dado que “queremos continuar vivos e vivas! Crescer num mundo bonito, num mundo que ainda respire. Com esperança e sem medo!”
Levar em conta a sociedade civil
Tanto a declaração como a carta foram apresentadas ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e ao Governo Federal do Brasil, representado pelas ministras Sônia Guajajara, Marina Silva e o ministro Guilherme Boulos. Corrêa de Lago recordou o recordou o pedido do presidente Lula da COP30 levar em conta a sociedade civil. Nesse sentido, ele destacou a importância dos textos, que serão levados à reunião de alto nível onde são tomadas as decisões.
Sônia Guajajara insistiu em que a democracia precisa da participação do povo, que deve ser escutado. A ministra dos Povos Indígenas definiu os participantes da cúpula como “os maiores guardiães da vida, seja no território, seja nas periferias das grandes cidades, dos quilombos”. Ela enfatizou a presença indígena na Zona Azul, com mais de 900 representantes, que ajudam a mudar o foco das discussões.
Mensagem do Presidente Lula
A ministra Marina Silva leu a mensagem do presidente Lula à Cúpula dos Povos. Ele disse que “a COP30 não seria viável sem a participação de vocês”, ado que “o combate à mudança do clima precisa da mobilização e contribuição de toda a sociedade, não só dos governos. O entusiasmo e o engajamento de vocês são fundamentais para que possamos seguir nessa luta. Vocês são portadores da força e da legitimidade dos que almejam o melhor”.
O presidente do Brasil insistiu na urgência da mudança e defendeu o desenvolvimento sustentável, e “um mundo em paz, mais solidário, menos desigual, livre da pobreza, da fome e da crise”. É por isso que “não podemos adiar as decisões que estão sendo debatidas há tantos anos”. Para isso, ele pediu “mapas do caminho para que a humanidade, de forma justa e planejada, supere a dependência dos combustíveis fósseis, pare e reverta o desmaiado e mobilize recursos”. Daí que “não podemos sair de Belém sem decisões”, o que faz com que as negociações até o final da COP sejam fundamentais, um espaço onde ele irá participar.
Uma chave de esperança
Marina Silva relatou sua história de vida na Amazônia, marcada em sua infância pela pobreza e o trabalho semiescravo. A ministra relatou alguns elementos que fazem parte da atual realidade climática e os esforços do governo brasileiro para diminuir os incêndios e o desmatamento. Finalmente, ela fez um apelo ao envolvimento de todos no cuidado do meio ambiente, e disse ver a Cúpula dos Povos como “uma chave de esperança”.
Guilherme Boulos mostrou sua alegria diante das Marcha dos Povos realizada no sábado 15 de novembro, com a participação de mais de 70.000 pessoas. Segundo o ministro da Secretaria Geral da Presidência “vocês fizeram e estão fazendo a diferença nessa COP”. Ele parabenizou a presidente da COP30 por ter ido escutar os apelos da Cúpula dos Povos. Boulos denunciou a responsabilidade das grandes corporações e dos Países do Norte Global diante da atual realidade climática.
Por Luis Miguel Modino | Regional Norte 1 | Fotos: Igreja Católica na COP30



