Encontro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil reflete implicações do Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo

Nos dias 17 e 18 de julho de 2024, o Instituto Salette em Curitiba sediou um importante evento para as igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). Coordenado pela Comissão Teológica do CONIC, o “Encontro Itinerários Dialógicos – Conversas sobre as Implicações do Documento Ato do Reconhecimento Mútuo da Administração do Sacramento do Batismo entre Igrejas-Membros do CONIC” reuniu representações das igrejas-membro para discutir e refletir sobre os desafios e possibilidades do reconhecimento mútuo do batismo.

O documento (clique aqui para ler), originalmente assinado em 15 de novembro de 2007 em São Paulo, visa promover a unidade e a cooperação entre as igrejas-membro, reconhecendo a validade dos batismos administrados por cada uma delas. Contudo, a baixa efetividade deste reconhecimento tem gerado frustrações.

Os membros do Grupo de Reflexão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso (GREDIRE) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também estiveram presentes no encontro, entre eles o arcebispo de Passo Fundo, dom Rodolfo Weber; o assessor da Comissão para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da CNBB, padre Marcus Babosa; a irmã Raquel Colet, da Companhia das Filhas da Caridade; o padre Volnei Carlos, do clero da arquidiocese de Curitiba; e o padre Elias Wolff, membro da Comissão Teológica do CONIC.

Dom Rodolfo Weber avaliou o encontro como positivo e salientou o clima de diálogo aberto e respeitoso.

“A partilha sobre os fundamentos teológicos do Sacramento do Batismo permitiu aprofundar a compreensão desta ponte que une os cristãos. Como também foi importante partilhar as diferentes orientações pastorais para administrar o sacramento do batismo nas Igrejas membro do CONIC. Existem normas diferentes sobre os padrinhos e testemunhas do batismo nas Igrejas que precisam ser respeitadas. E uma das formas mais respeitosas de fazer isto é torná-las conhecidas pelas Igrejas”, afirmou.

Padre Marcus Barbosa enfatizou que o encontro, sob a coordenação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, expressa um importante passo dado pelo movimento ecumênico no Brasil.

“Nos dias que estivemos juntos, ao rezarmos e refletirmos sobre o documento, nos sentimos fortemente comprometidos a torná-lo mais conhecido e vivido pelas nossas igrejas. O reconhecimento mútuo do Sacramento do Batismo entre as Igrejas-Membro do CONIC concretiza o nosso seguimento de Jesus Cristo e nos faz avançar na caminhada em prol da unidade cristã”, disse.

Resgate Histórico e Trabalho em Grupo

No encontro foi dedicado a um resgate histórico do Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo e suas implicações na vida comunitária. Foi destacado que, já em 1979, as igrejas Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Católica Apostólica Romana e Episcopal Anglicana do Brasil haviam firmado um documento semelhante. Além disso, o documento Batismo, Eucaristia e Ministério (BEM), elaborado em 1982 pelo Conselho Mundial de Igrejas, antecedeu e inspirou o Ato de 2007.

Os participantes foram divididos em grupos para trocar experiências sobre como o Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo contribuiu para o aprofundamento da vivência ecumênica e identificar situações em que o ato não foi plenamente considerado. As discussões revelaram que muitos conflitos ocorrem devido ao desconhecimento das teologias e doutrinas das outras igrejas.

Irmã Raquel Colet, membro do Gredire, destacou que o encontro possibilitou o fortalecimento da convicção e dos vínculos entre as pessoas que, em nome de suas igrejas e como expressão de seu amor e pertença a elas, se dispuseram à partilha e aprendizado mútuo.

“Foi um tempo oportuno de fazer a memória agradecida dos passos dados até aqui nos caminhos do diálogo, ao mesmo tempo em que se buscou tecer horizontes para os resultados alcançados nesse percurso – de modo muito singular, o reconhecimento mútuo do Batismo – continuem a frutificar no testemunho e no serviço de cada comunidade de fé”, disse.

Reflexões e Propostas

“Ao analisarmos os tensionamentos, percebemos que eles não estão relacionados à compreensão doutrinária do batismo, que é a mesma entre as igrejas-membro do CONIC, mas sim a regulamentações específicas de cada igreja”, explicou a pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC. “É fundamental que o CONIC promova mais espaços de conversa e trocas sobre as histórias e compreensões doutrinárias de suas igrejas-membro”, acrescentou.

Durante o encontro, foi apresentada, lida e aprovada uma Carta Pastoral às igrejas-membro e suas comunidades. Decidiu-se que a carta e o documento do Ato de Reconhecimento Mútuo do Batismo devem ser amplamente divulgados, com o incentivo para a leitura e o estudo dentro das congregações.

Diálogo contínuo e cooperação entre as igrejas-membro

O encontro destacou a importância do diálogo contínuo e da cooperação entre as igrejas-membro do CONIC para superar as dificuldades relacionadas ao reconhecimento mútuo do batismo. Através de discussões abertas e honestas, as igrejas podem fortalecer seus laços e promover a unidade na diversidade, oferecendo um testemunho comum de acolhida, paz e reconciliação para a sociedade brasileira.

Para o padre Elias Wolff, membro da Comissão Teológica do CONIC, o  seminário foi um momento marcante de convivência fraterna, reflexão, partilha da vida das diferentes Igrejas que estão irmanadas pelo mesmo sacramento do Batismo. “Houve ricas trocas de experiências que nos enriquecem mutuamente, e confirmou a unidade já existente na fé batismal, o que cria uma base consistente para o diálogo sobre o que ainda diverge na doutrina cristã”, finalizou.

 

Acesse (aqui) a carta pastoral sobre o Ato do Reconhecimento da Administração do Sacramento do Batismo entre as Igrejas-Membro do CONIC

 

Por Larissa Carvalho / Com informações do Conic

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