O evangelho deste domingo, Lucas 11, 1-13, nos apresenta a fórmula de oração que Jesus ensinou aos apóstolos: “Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João Batista ensinou a seus discípulos. Quando rezardes, dizei: “Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos e perdoa-nos os nosso pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”.
É a abertura do homem diante do mistério de Deus que se revela, ou seja o reino de Deus. A oração de Jesus e da Igreja revelou-se como oração escatológica . É a súplica do homem que se descobre aberto ao mistério do reino e que confia ilimitadamente na sua presença, força salvadora.
Para compreender plenamente a sua profundidade é necessário fixarmos nossa atenção sobre duas palavras. Primeiro, o reino não é uma espécie de fatalidade que nos circunda e se transformou em um dom de amor; e, portanto, toda a oração é dirigida ao Pai de modo pessoal. O reino é o dom de amor e de confiança que o Pai nos oferece. Em segundo lugar, o acontecimento do reino como perdão é condicionado pelo dom do perdão inter-humano. Isso nos faz entender que o dom do Pai suscita em nosso mundo um ambiente de dom. Onde o perdão de Deus não se traduz em um perdão inter-humano, a oração de Jesus é mentirosa.
Certamente os apóstolos sabiam rezar, porque eram verdadeiros israelitas, temerosos a Deus, pertenciam a um povo religioso, dedicado à oração, tinham familiaridade com os salmos e outras formas de oração. Viam Jesus que orava de maneira toda pessoal e queriam orar como ele. Jesus lhes havia ensinado já com o seu exemplo. A seus olhos aparecia alguém de intensa oração. Eles o tinham visto rezar nos momentos mais significativos de sua missão. Jesus rezou antes de receber o batismo de João Batista junto ao rio Jordão. Passou a noite em oração antes de escolher os doze apóstolos. Esteve em oração no monte da Transfiguração.
Jesus fechará a sua existência terrena na oração mais intensa, da profundeza do coração. Como Deus, sem cessar, vive em perene comunhão beatíssima com o Pai e o Espírito Santo; como Filho feito homem, a sua oração é expressão do que deve ser a oração dos filhos de Deus que somos nós. Assim, rezará longamente na Última Ceia. Depois, no horto das Oliveiras, e ainda pregado na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Estas palavras os israelitas as recitavam na sua oração da noite, mas assumiram o seu significado pleno em Jesus, na cruz.
Jesus, homem de oração, pareceu-lhe fácil ensinar aos doze. “Quando rezardes, dizei “Pai!”. O pai nosso nasceu do colóquio de Jesus com seu Pai celeste. É o compêndio da boa nova do Evangelho. É oração ao Pai que o Filho maior transmite e confia a nós seus irmãos menores.
Nessa oração, Jesus faz como a síntese de quanto havia já ensinado. Diz que coisa os apóstolos deviam pedir, mais ainda diz as verdades que devemos crer e o programa de vida que devemos realizar. Programa grandioso e empenhativo. Em toda esta oração descobrimos que o amor de Deus comporta a consciência que Deus nos ama e, em conseqüência, devemos nos manter na espera. Com exemplos tomados do ato de um amigo que bate à porta ou do filho que pede, o evangelista nos faz ver como devemos confiar em Deus. A nossa existência não terminou ainda: estamos incompletos. Dado que somos pobres, devemos pedir a Deus a profundidade da vida, o seu reino.
O ensinamento sobre a oração termina com algumas palavras que são decisivas: “O vosso Pai celeste dará o Espírito Santo aos que o pedirem”. Supõe-se que podemos pedir a Deus o que desejamos; se a nossa oração for verdadeira, receberemos sempre o mesmo grande dom, o Espírito Santo.
Daí, descobrimos que toda a oração cristã consiste em fazer-nos disponíveis ao dom de Deus que chega. Toda vez que pedimos verdadeiramente alguma coisa, aspiramos a vinda de Deus para nós. Se a oração foi verdadeira, receberemos o Espírito, a força do seu Reino em nosso meio.