Entrar na posse do tesouro de Jesus! 

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

 

A liturgia deste domingo convida-nos a refletir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus. 

A primeira leitura – 1Rs 3,5.7-12 – apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é o protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e alienar por valores efêmeros. No começo de seu reinado, Salomão, filho de Davi, não pede a Deus riqueza, mas sabedoria para governar o povo com justiça e discernir entre o bem e o mal – entre aquilo que promove ou não a vida dos mais fragilizados. Toda autoridade deveria se pautar pelo poder exercido segundo a vontade de Deus, ou seja, com inteligência, sabedoria, discernimento e justiça. A nação cujas autoridades são sábias e justas proporciona grande alegria e felicidade ao povo. Salomão é apresentado como figura exemplar de quem prefere os dons de Deus às riquezas; de quem pede ao Senhor a sabedoria necessária para discernir o bem do mal; de quem deseja um coração compreensivo. 

No Evangelho – Mt 13,44-52 –, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino. 

Jesus, dirigindo-se aos discípulos, conta três parábolas, concluindo o Sermão das Parábolas. As duas primeiras, as parábolas do tesouro escondido e da pérola, mostram-nos dois homens que encontram o bem precioso do Reino dos Céus. Diante do dom, decidem deixar tudo e pôr em segundo plano todas as outras coisas e realidades que possuíam, às quais, talvez, estivessem “amarrados”. Cheios de alegria se desfazem do secundário e de menor valor para adquirir o “realmente valoroso”. Trata-se da ação de quem foi tocado pelo dom da sabedoria concedida por Deus. A terceira parábola, a da rede ou da pesca, remete-nos ao juízo final. Deus, representado na parábola pelos anjos, é quem separará os bons dos maus. O julgamento cabe somente a Deus. Por isso, a parábola é uma advertência: quem são os peixes bons recolhidos nos cestos do Reino? São aqueles que pediram a sabedoria divina, ouviram os ensinamentos de Jesus e os praticaram! Quando encontraram o bem precioso do Reino, não titubearam, agiram com alegria e sabedoria para entrar/estar nele e com Ele. Jesus é o Reino, a Sabedoria, o Tesouro, a Pérola, a Salvação, a Misericórdia, mas também a Justiça! 

A segunda leitura – Rm 8,28-30 – convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas. Deus, artesão perfeito, fez de nós uma obra-prima, à sua imagem e semelhança. Ele desde sempre nos conheceu, nos amou e nos predestinou a sermos conformes à imagem do seu Filho. O projeto divino visa tornar-nos todos irmãos e irmãs em Jesus e construir uma humanidade nova, de acordo com os ensinamentos do Mestre de Nazaré. 

O Reino dos Céus é o oposto das coisas supérfluas que o mundo oferece, é o oposto de uma vida trivial: é um tesouro que renova a vida todos os dias e a expande para horizontes mais amplos. Aqueles que encontraram esse tesouro têm um coração criativo e investigador, que não repete, mas inventa, traça e segue novos caminhos, que nos levam a amar a Deus, aos outros e a nós próprios! 

A sabedoria que vem de Deus, nos conduz no caminho da justiça e do cuidado com as pessoas. Compartilhemos – neste domingo – e durante toda a nossa vida os tesouros de seu Reino, que dão sentido e alegria à nossa vida. 

 

 

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